É oficial. A 3ª edição do Sónar no Brasil está confirmada. Porém, o anúncio realizado em coletiva de imprensa durante a edição de Barcelona não convenceu. Quer dizer…não “bateu” como esperava. Pelo menos para mim. Explico abaixo o porquê.
Uma História de Altos e Baixos
Em 2004, em parceria com a Nokia (e Puma), realizou sua primeira edição em São Paulo. Em formato “completo”, dividiu-se em Dia – no Tomie Ohtake, com direito a feira discográfica, filmes, exposições de arte e pocket shows – e Noite (Sónar Sounds), no então Credicard Hall, com apresentações de Jeff Mills, Ricardo Villalobos, Matthew Herbert, Prefuse 73, Chicks on Speed, LCD Sound System, Laurent Garnier, Four Tet, Pan Sonic e Angel Molina. Foi, ao lado das edições do extinto Free Jazz e Tim Festival, o melhor festival que fui no Brasil.
A falta de patrocinadores de peso, essencial para a realização de um festival deste tipo, cujas principais atrações não são conhecidas do grande público, provavelmente foi a principal razão para que houvesse um hiato de oito anos até que rolasse sua segunda edição.
O Sónar 2012 aconteceu novamente em SP, com um line-up estelar, à altura da edição principal em Barcelona. Onde mais se veria nomes como James Blake, Alva Noto & Ryuichi Sakamoto, Squarepusher, Hudson Mohawke, Chromeo, Justice, Modeselektor, Skream, Cee Lo Green, John Talabot, Flying Lotus, Rustie, James Holden, Four Tet, Seth Troxler, TEED e ainda o live do Kraftwerk 3D em um mesmo line? Para os fãs da música avançada, era um banquete orgásmico, para lamber até os dedos.
Só não foi melhor que a edição de 2004 pois veio incompleto, sem a edição Sónar Dia, deixando de lado parte essencial do que compõe a experiência do festival. Mas a programação artística das duas noites do festival compensaram o formato.
Em 2013, a primeira decepção. Logo depois de anunciarem a 3ª edição, novamente com um line-up inacreditável, o festival foi cancelado, alegando “instabilidade do mercado local”. Para um bom entendedor, meia palavra basta: faltou patrocínio.
Na época, em roda de amigos, conversava sobre a dificuldade de um evento como o Sónar conseguir encontrar patrocinadores brasileiros que entendessem e apostassem no formato do evento. Ainda mais com o tamanho que prometia. Era preciso uma reengenharia, um formato que ainda não houvesse sido apresentado, mas que “fechasse as contas”. Foi isso que parece ter acontecido nesta edição de 2015.
Sónar 2015: Refazendo Tudo
Neste final de semana, durante o Sónar Barcelona, foram anunciados os quatro headliners da edição do Sónar SP: Chemical Brothers, Hot Chip, Evian Christ e Brodinski (outros 3 artistas serão ainda anunciados). Além da edição Club, que rola no dia 28 de novembro, o Sónar traz sua mostra de Cinema no MIS (24 e 28/11) e, pela 1ª vez no Brasil, o Sónar+D (25 e 28/11), com palestras e conteúdo voltados para o conceito “Refazendo Tudo”.
É, novamente, um novo festival. O que dificulta o entendimento do público sobre o que é a experiência Sónar.
Mesmo que a organização do evento tenha anunciado quatro edições contínuas, é como pegar tudo que foi feito e contar uma história nova, de novo. Pode dar certo? Torço que sim. Mas, como escrevi em um dos primeiros posts para o Projeto Pulso, a sua maior fortaleza, que faz deste um dos mais admirados festivais do mundo há 22 anos (!!!), é justamente seu formato consagrado:
Ao longo de duas décadas de existência, o Sónar pouco mudou seu formato. Existem os eventos de dia, com uma proposta mais experimental e voltado para um público mais maduro, e os de noite, que concentram um número maior de atrações “pop” e voltadas para um público mais eclético. As atrações que se apresentam por lá não são exclusivas do festival. Mas a curadoria faz a diferença. E o público sente.
Se na edição anterior, o festival “pecou pelo excesso” de artistas, neste ano fizeram o oposto.
Parte da experiência Sónar é aquele desejo desespero por conferir nomes que você sabe que não vai ver em outros festivais, das revelações aos clássicos, do experimental ao comercial. Apesar de serem quatro nomes com o “selo de aprovação Sónar”, o festival corre o risco de ser lembrado como “o show do Chemical Brothers”. E, mesmo que esteja errado (tomara!), o festival não entrega, mais uma vez, a totalidade da experiência que faz do Sónar, o Sónar.
Por aqui, todos do Pulso desejam uma longa vida ao Sónar. É um dos nossos festivais mais queridos (vejam todos os posts que já fizemos sobre o festival abaixo). Mas que ainda falta convencer… falta.
Leia mais:
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Sónar Brasil: Equipe Pulso Imagina o Line-up dos Sonhos
Festival dos Sonhos: Sónar, Espanha