Review Time Warp Brasil 2018 : DJs salvam um festival de produção falha


Assine a Cápsula, nossa newsletter para mentes inquietas em busca de inspiração

[mautic type="form" id="1"]
Compartilhe esse artigo
[addthis tool=”addthis_inline_share_toolbox_2jg5″]

A 1ª edição do Time Warp Brasil pode ser resumida em uma frase: excelentes DJ sets excelentes salvam um festival de produção falha.

Foto: Divulgação – Amelie Lens na pista Cave 2.0

A verdade é que o evento esteve mais próximo de um “baladão eletrônico” que um festival. Além da experiência musical (som de boa qualidade & ótimos seletores), o único elemento que se destacava era a cenografia do palco Cave 2.0. O resto foi literalmente isso: um resto. Sem cuidado ou capricho.

Como apontou o colaborador do Projeto Pulso, Henrique Torelli: “Fiquei um pouco decepcionado com o primeiro dia e doei nossos convites para amigos que queriam ir no segundo. No modo geral, pra mim foi uma balada e não um festival.”  

Não precisa ir muito longe.

Quem esteve no Dekmantel ou no DGTL deste ano, ambos em São Paulo, percebeu as diferenças. O Dekmantel é hoje o melhor festival de música “eletrônica” do Brasil, com um nível de produção que não só satisfaz, como surpreende (leia o review). Já o DGTL entregou uma proposta conceitual high-tech, com direito a instalações cenográficas futuristas (+ performances de coletivos artísticos), criando uma interessante experiência imersiva e digital (leia o review).

Já a 1ª edição do Time Warp Brasil dedicou-se a impressionar em um único aspecto: a pista Cave 2.0, onde apresentaram-se as principais atrações de techno (Sven Vath, Nina Kraviz, Amelie Lens etc). Na Alemanha, acontece o mesmo. Vale ler o review que o Inácio Martinelli escreveu sobre o Time Warp de lá.  

A Cave 2.0 é praticamente um mega-club, com cenografia dark e industrial, marcada por uma iluminação azul e um teto cavernoso. A sensação é a de estar dentro de uma nave alienígena. No palco, um gigantesco painel de led e projeções pós-apocalípticas ficam nas costas do DJ.

Faltou cuidado com a produção

Como todas as atenções estavam voltadas para o main stage, todo o resto do evento parecia uma espécie de obrigação. Banheiros químicos sub-dimensionados, sem papel higiênico e imundos (incluindo estações de água que não funcionavam).

“O banheiro era uma calamidade pública. Poucas cabines, todas elas imundas e sem papel higiênico. Meu amigo disse que viu uma cena péssima. Teve alguém que, no desespero, fez suas necessidades, se limpou com a mão e limpou a mão no teto do banheiro. Claro, não tinha uma gota de água para limpar as mãos. Acho realmente um desrespeito”, conta Henrique.

A praça de alimentação era reduzida a 3 ou 4 foodtrucks e com poucas opções.

“O pior para mim foi a área de alimentação, só com junk food, e na interseção das duas pistas. Ouvia-se uma mistura dos sons das duas pistas, aquela confusão que embrulhava o estômago”. Reclamou Valdone Rabello, de Belo Horizonte.

Para completar, com exceção da pista principal (Cave 2.0), havia zero decoração e cenografia. Mal havia sinalização também. Alguns banheiros, próximos das pistas, estavam praticamente escondidos. Também não vimos nenhuma ativação de marcas no evento.   

Ponto positivo: havia muitos caixas volantes e a operação de bar fluiu relativamente tranquila (pelo menos no 1º dia).

Vale destacar que a água custava R$ 10,00 (a cerveja, R$ 13,00). Num “mundo ideal”, especialmente numa festa de música eletrônica, onde redução de danos precisa ser uma prioridade, água deveria ser gratuita. No “mundo real”, um festival que cobra R$ 200,00 em média por ingresso, poderia – além das vendas normais – ter instalado uma estação para disponibilizar água, mesmo que o mínimo e com uma quantidade limitada.

Lembrem-se que foi neste mesmo festival, na Argentina (em 2016), que morreram 5 jovens por falta de cuidados quanto à redução de danos. Será que um dia os eventos de música eletrônica vão aprender?

Last Night a DJ Saved My Life

Só estive na 1º noite de festival (sexta-feira), mas todos com quem conversamos e que estiveram no sábado, dizem que o 2º dia foi melhor:

“Ainda bem que rolaram dois dias de festival para podermos tirar a impressão de som pesado e ambiente dark side do 1º dia. Caso tenha uma 2ª edição, por favor, não coloquem Nina Kraviz e Amelie Lens no mesmo dia”, comentou a colaboradora do Pulso Ana Luiza Cavalcante.

Sâmara Machado reforçou a diversidade sonora do sábado: “Apesar de ter achado erro de principiante a falta de previsão de estrutura para a chuva *, o que atrasou em mais de 4 horas o início do 2º dia, o som de sábado foi incrivelmente melhor, nas duas tendas, em especial na Cave. Vibe boa e dançante, ao contrário de sexta que foi bem fritação.”  

(* atualização: o evento não foi interrompido temporariamente por causa da chuva, e sim devido a ventos fortes, que colocariam em risco a segurança do público caso se mantivessem)

Apesar do frio na madrugada de sexta, não tirei os pés do Outdoor Stage. Havia uma conjunção musical única. Apresentaria-se, na sequência, o sumo sacerdote da house music Derrick Carter, o poderoso chefão do gangsta house DJ Sneak e, fechando a pista, os prodígios e novaiorquinos Martinez Brothers.

Foto Divulgação – Derrick Carter não estava em um bom dia…

Derrick Carter estava num dia ruim. Bem ruim. Seu set foi incoerente, rolou sambadas nas mixagens e, em dado momento, ele soltou um remix apelativo de “This Love”, do Maroon 5, que definitivamente não cabia naquele momento (na sequência, mixou outro remix sem sal de “Remember The Time” do Michael Jackson). Foi um set morno e previsível. Acontece.

Foto Divulgação – DJ Sneak fez um sr. set, tipo bailão

Felizmente, DJ Sneak estava ali do lado. Empolgado, performático, fazendo caras e bocas, o DJ de Chicago mostrou em 2 horas um repertório e técnica de mixagem que dão a ele o título de House Gangster. Rolou hip-hop, R&B e até samba. Um set dinâmico, que subia e descia de BPM, do soulful house ao jamanta house, carregado de reverb, ginga e pressão.

Foto Divulgação – Os irmãos Martinez foram os grandes destaques do 1º dia

Coube aos irmãos Martinez encerrarem a pista em um set de 4 horas de pura quebradeira. Alternando-se nas pickups, o duo começou o set com um remix poderoso produzido por Luciano de “Depois que o Ilê Passar” (Caetano Veloso). Aumentou a pressão, sabendo dosar momentos de tensão com hits muito bem-colocados. Tocar “I Feel Love”, da Donna Summer, todo mundo faz. Mas escolher a hora certa, como o nascer do sol para a entrada do vocal, é um dom. Foi o melhor set da noite (dia?).

Sobre o techno, nada a dizer. Vi um pouco do set da Amelie Lens e curti o som da mina. Hightech, intenso e poderoso. Mas na sequência veio o Sneak, daí não voltei mais pra caverna. Mas isso é festival, né? Cada um faz o seu. Sem arrependimentos 🙂

Foto Divulgação – vista de cima do palco Outdoor stage

Como o Henrique, desanimei de ir no 2º dia do festival. Já tive uma noite salva por excelentes DJs, encontros e amigos. É bom e suficiente por agora. Deixo este bis para o próximo ano.

Assine a Cápsula, nossa newsletter para mentes inquietas em busca de inspiração
[mautic type="form" id="1"]

Cinco anos de pesquisa e conteúdo sobre a cultura dos festivais.

@ØCLB / Pulso 2020. Todos os direitos reservados