Review: Dekmantel São Paulo supera a maldição do 2º álbum


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Qual é o segredo do Dekmantel? O que torna este festival tão desejado? Por que e como ele se tornou, de um ano para o outro, o melhor festival de música eletrônica do Brasil?

Uns vão dizer que é a curadoria artística. Ousada e com personalidade, abre mão dos nomes mais comerciais para apostar em encontros inusitados, gêneros como o Jazz e a mistura de novos DJs com artistas nacionais e obscuros, mas aclamados pela crítica. Não é só isso.

Marcos Valle – credito: Gabriel Quintão

Outros dirão: a produção e serviços impecáveis. Marcas sendo ativadas de forma discreta e contextualizadas com a experiência do festival. Bares sem filas e banheiros limpos. Cervejas que não se vêem em outros festivais, inclusive uma deliciosa Hoegaarden servida em copos de acrílico e com rodelas de laranja ao fundo. Isso ajuda, claro. Mas não é o suficiente.

Amigos queridos, Hoegaarden e a gente fica como?

Já sei, então você vai dizer: a escolha das locações e aquela cenografia e palcos que só o Dekmantel tem. No primeiro ano, o charmoso Jockey, com sua arquitetura de estilo art déco. Nesta edição, o antigo Playcenter, invadido por uma vegetação abundante, mas que a produção do evento – mais uma vez – soube valorizar, integrando o que há de mais urbano em São Paulo com o que há de mais verde no Brasil. Quase lá.

A resposta para as perguntas do início do post é uma. Simples e direta: Music is the answer.

Não existe no Brasil um festival de “dance music” – no sentido mais amplo da expressão – em que você encontre uma palheta sonora tão completa, contemporânea e interessante. Apresentações que trazem uma fusão criativa entre o soul, disco, MPB, hip-hop, techno, electro, house, funk, R&B e a música pop (sim, até ela).

Esta mistura, que é a essência da cultura disco (e depois clubber e depois raver), ficou esquecida na década de 90, quando “DJ de techno só tocava techno”, “DJ de house só tocava house” e assim por diante. Daí veio o jungle, o drum and bass e o trance. Nos anos 00, tirando um breve surto chamado electroclash, veio o minimal. A música de pista nunca foi tão insossa.

Felizmente, depois de 20 anos, voltamos à era de ouro da música de pista (ou dance music, como preferir). E isso foi o que vimos neste último Dekmantel. Esta liberdade poética que os berliners do Modeselektor tiveram ao mixar Underworld (Born Slippy) com Frank Ocean (Nikes). Dos holandeses dos Dekmantel Soundystem, fundadores do festival, prestarem um tributo à música Brasileira tocando a versão do Numumbah para Tudo Que Você Pode Ser do Lo Borges. Da Peggy Gou tocando Donna Summer (I Feel Love) e Underground Resistance (Make Your Transition) no mesmo set. E o Four Tet. Ah, o Four Tet.

Four Tet – Crédito Gabriel Quintão

Kieran Hebden (aka Four Tet) fez o melhor set do Dekmantel. Talvez um dos melhores que tive prazer de escutar nos últimos anos. Isso, com uma falha técnica no início que desestabilizaria qualquer DJ. Não ele. Planet é o nome da música que tocava quando seu set foi interrompido. Depois de um hiato de poucos minutos, Planet foi a música que recomeçou e surpreendeu até os mais céticos com uma sequência que incluiu o elegante future jazz do Pharao Sanders (Love is Everywhere), um remix do Pangea para a Loletta Holloway (Stand Up!) e a improvável e inesperada Selena Gomez (Bad Liar). Uma apresentação épica que vai ser falada por muitos tempo.

É essa mistura, esse sincretismo musical, essa quebra de pre-conceitos, que reúne em um mesmo espaço e tempo gerações diferentes de clubbers, produtores de outros festivais, DJs, artistas, jornalistas, gente “da cena” e de fora dela, fãs da montação e do glitter com góticos “lenheiros” vestidos de preto dos pés à cabeça.

Se um festival representa o espírito do tempo, o Dekmantel é um exemplo do que está acontecendo hoje em clubes, festas e ruas do Brasil. O festival é um grande encontro da DJ culture pós-moderna. A segunda edição do Dekmantel São Paulo se consolida, supera a maldição do segundo álbum e mostra que veio para ficar.

De crítica, apenas uma. Pequena. Como não consigo apontar uma solução, fica o pedido para a produção. A pista Gop Tun, a segunda estrela após o main stage na edição anterior, ficou ligeiramente prejudicada nesta edição. Senti falta da arquibancada que rolou ano passado, para apreciar alguns shows sentado, bebendo bons drinks e conseguindo enxergar quem estava se apresentando sem ter que me enfiar lá na frente. Mas isso é coisa de um clubber old school rabugento que em absolutamente nada desmerece a produção impecável que presenciou no último final de semana.

Crédito: Ariel Martini

Vida longa ao Dekmantel. Aguardemos ansiosamente o terceiro ano.

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