“Primeiro trimestre de 1984. O publicitário e empresário carioca Roberto Medina andava desiludido com a violência no Rio de Janeiro. Mais ainda: desiludido com o país. Tão desenganado que um plano estava traçado: ele e a família se mudariam para os Estados Unidos (…) Conversando com sua mulher, Maria Alice, sobre os planos de mudança, ouviu dela: ‘- Você vai se arrepender e se sentir culpado lá fora’. Uma pergunta martelou sua cabeça: ‘Será que você fez tudo que podia por seu país?’ Concluiu que não. Era preciso fazer algo”.
Assim começa o 1º capítulo do livro Rock in Rio, A História do Maior Festival de Música do Mundo (Ed. Globo), do jornalista Luiz Felipe Carneiro. A história do primeiro grande festival brasileiro é recheada de romance. Não é possível separar a ficção dos fatos. Mas uma verdade é inegável: o sonho de Roberto Medina virou realidade. E mais: nestes últimos 31 anos, o Rock in Rio provou ser não só um dos maiores cases de sucesso em empreendedorismo no Brasil, como uma das marcas de festival mais poderosas do mundo.
Em 2017, será realizada a 7ª edição do Rock in Rio no Brasil. Desta vez, em uma nova Cidade do Rock. Entenda o que está por trás da mudança.
As Quatro Cidades do Rock
“As obras foram iniciadas em agosto de 1984, com um investimento inicial de 4.5 milhões de dólares. Logo de cara, um primeiro problema. Para nivelar o terreno, seriam necessários 13 mil metros cúbicos de aterro, transportado em 71 mil caminhões. Também era imperioso criar uma lagoa de estabilização com aguapés para receber toda a água vinda dos banheiros. Do contrário, ela escorreria direto para a lagoa de Jacarepaguá, acarretando um desastre ambiental. Ainda era preciso construir uma subadutora, com 1 Km de extensão, para levar a água até a Cidade do Rock. Tudo isso em pouquíssimo tempo. Faltavam apenas cinco meses para Ney Matogrosso pisar no palco e abrir o festival.” (Rock in Rio, A História do Maior Festival de Música do Mundo, Ed. Globo).
A 1ª Cidade do Rock compreendia uma área de 250 mil metros quadrados e contava com o maior palco do mundo já construído até então: com 5 mil metros quadrados, além de dois fast foods, dois shopping centers com 50 lojas, dois centros de atendimento médico e uma estrutura para atender quase 1.5 milhões de pessoas, que passaram pelo evento.
A Cidade do Rock que sediou o Rock in Rio da Lama foi imediatamente fechada depois de sua realização, graças a uma demolição decretada pelo então governador do Rio em 1985, Leonel Brizola. Vale notar que a decisão era – como ainda acontece hoje no Rio (veja o caso do Ultra Brasil aqui) – fruto de uma rixa pessoal. A agência de publicidade de Medina, a Artplan, era responsável pela conta do concorrente de Brizola à época, Moreira Franco. Reza a lenda que o prejuízo do 1º Rock in Rio foi tão grande que Medina teve que vender o prédio inteiro onde ficava a Artplan, localizado na valorizada região da Lagoa Rodrigo de Feitas, na Zona Sul da cidade.
Sem casa, a 2ª edição do Rock in Rio aconteceu no Maracanã em 1991. O festival voltou a construir sua 2ª Cidade do Rock 10 anos mais tarde, quando sediou o Rock in Rio III (2001), no mesmo lugar onde havia erguido o festival de 1985. Os 10 anos que seguiram foram marcados pelo processo de internacionalização da marca, que realizou no período 4 edições em Portugal e 2 na Espanha (para o descontentamento de muitos Brasileiros).
Em 2011, atendendo um pedido da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, o Rock in Rio volta ao Brasil (e veja como o mundo dá voltas). Inicialmente, o festival deveria ser realizado no mesmo ano da Copa do Mundo de 2014, mas Medina antecipou-se e – junto com a prefeitura – construíram a 3ª Cidade do Rock no Parque dos Atletas, com a proposta de ser um campo de treinamento para esportistas e uma base permanente para o festival, que passaria também a ser realizado a cada dois anos.
A estrutura teria capacidade para receber até 85 mil pessoas por dia e, em 2013, um novo sistema de ônibus de faixa exclusiva – o BRT – impedia carros, vans e táxis que se aproximassem do evento, democratizando o acesso ao local.
E eis que, 3 edições depois e 6 anos mais tarde, uma 4ª Cidade do Rock é anunciada.
Por que Uma Nova Cidade do Rock?
Além do Rock in Rio crescer de tamanho a cada ano, com ingressos esgotados para todos os seus dias, a nova Cidade do Rock será construída no Parque Olímpico do Rio de Janeiro. A estrutura foi amplamente testada, está ociosa e foi bastante elogiada pelas milhares de pessoas que por lá passaram durante os Jogos.
Vale citar que a antiga Cidade do Rock é um parque público, construído para as Olimpíadas para ser a área de treinamento dos atletas. O parque permanecerá aberto ao público, com as quadras esportivas. Provavelmente acontecerão outros eventos lá, como as passadas turnês da Madonna e Lady Gaga, além de eventos como o Rio+20 da ONU (2012). Para o futuro, quem sabe outros festivais? Leia aqui: Rio 2016 Foi Um Festival Descentralizado. E Agora, Qual é o After?
Segundo o release do festival, a área contará com quase o dobro do tamanho da antiga Cidade do Rock (
500 milatualização: 300 mil metros quadrados), facilitando o acesso das pessoas entre palcos e áreas de serviço do evento. Além disso, “quem sair da Zona Sul, por exemplo, levará pouco mais de 30 minutos para chegar ao Rock in Rio, utilizando o Metrô e BRT”.
Como no primeiro festival, um novo lago será construído no local e as apresentações musicais não serão apresentadas dentro dos estádios. Todos os novos palcos serão abertos a céu livre e um imenso tapete de grama sintética será instalado no local.
Segundo pesquisa realizada pela consultoria Mana (que também deu origem ao Projeto Pulso), a atual “Cidade do Rock” do Rock in Rio representa local tecnicamente bem avaliado por entrevistados de nossas pesquisas. Diferente do Lollapalooza, que acontece num autódromo, ou do Tomorrowland que acontece numa fazenda-pesqueiro, a Cidade do Rock foi construída especificamente para a realização do festival. O terreno é 100% plano, o sinal de celular (costuma) pegar bem (exceto em horários de pico), o acesso para chegar e voltar é relativamente tranquilo, não se vê fios e cabos espalhados entre os palcos e a estrutura para pessoas com necessidades especiais é também visível. Porém, muitos concordaram que durante os horários de maior movimento, deslocamento, filas e banheiros poderiam comprometer a diversão.
O Rock in Rio segue o mesmo modelo de outras cidades que sediaram Jogos Olímpicos, como o Primavera Sound, que acontece em Barcelona no Parc Olímpico, exatamente como o festival de Medina vai construir sua 4ª Cidade do Rock (ou 8ª, considerando as de Vegas, Lisboa e Madri). Leia aqui: Primavera Sound ou Como Ocupar Uma Cidade com Um Festival.
Longa vida à nova Cidade do Rock. Não sei quanto a vocês, mas… Eu vou!