Se os festivais de música são ótimas antenas para captar os sinais do espírito de um tempo, o Primavera Sound 2019 foi um exemplo do que gostaríamos de imaginar como o futuro dos festivais.
Desde os tempos de Woodstock, o imaginário coletivo de liberdade, paz e amor perpetuou-se nos festivais. Mas são raríssimos os eventos que de fato entregam estas qualidades. Pelo menos para uma boa parcela de seus frequentadores – em especial, mulheres e grupos LGBTQ.
Com um lineup predominantemente feminino e uma belíssima campanha de comunicação interna que repudiava qualquer forma de assédio ou preconceito, foi a primeira vez que estive em um festival onde vi minas, manos e monas tão à vontade.
Se pudesse resumir em uma frase: mais que um festival, o Primavera Sound 2019 foi um marco na história dos festivais.
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#NewNormal e #NobodyIsNormal
#NewNormal foi o nome da campanha que o festival criou para lançar o lineup e tema artístico campanha 2019.
Através de um poderoso vídeo manifesto, o Primavera Sound ousou em escalar uma programação artística maioritariamente feminina. Erykah Badu, Janelle Monáe, Solange, Robyn, Rosalía e Miley Cirus (que substituiu Cardi B) dividiram o palco e o mesmo peso na divulgação que Tame Impala, J Balvin e James Blake.
Durante o evento, foi a vez da campanha #NobodyIsNormal entrar em ação. Cartazes fixados nos bares, faixas sinalizadas pelo evento e mensagens no App do festival alertavam o público que a organização condenava veemente qualquer prática de violência racial e de gênero. Havia inclusive um posto em destaque na entrada do festival para atender pessoas com qualquer tipo de queixa durante o evento.
O lineup, a mensagem da comunicação pre-evento e a campanha durante o festival fizeram com que este fosse um dos festivais que eu visse mais “gente de boa”, ou seja, literalmente tranquilas.
Glitter, brilho e montação foi o que não faltou no Primavera Sound 2019. E, claro, uma surra de shows épicos.
Uma surra de shows épicos e inesquecíveis
No quesito aproveitamento artístico, o Primavera Sound 2019 foi nota 9,5 (o 0.5 vai para a parte eletrônica, mais a seguir).
Quinta-feira
No primeiro dia, Erykah Badu foi simplesmente um dos melhores shows que já assisti. Mais próxima de uma diva do jazz, Lady Badu literalmente teve a platéia nas mãos durante toda a sua apresentação. Vestida como uma entidade africana, ela enfeitiçou todos com sua voz de sereia e presença imponente. Um show que vale a pena ver e rever “até o disco furar”.
Ainda neste início de festival, destaque para o grupo francês Christine and The Queens, que fez um show bastante contemporâneo, com figurinos minimalistas inspirado nos anos 90, dança moderna e um cover a capella de ‘Heroes’ (David Bowie). Emocionante. Outro destaque deste dia foi a Princess Nokia, que fez um show altamente feminista, com direito à uma coreografia especial para o remix da música ‘Formation’ (Beyoncé).
Mas o show mais completo da noite foi mesmo o da FKA Twigs. Ela literalmente mostrou para que serve um palco. Muitos figurinos, uma espetacular coreografia com espada (sdds Kill Bill) e um cenário de fundo que cai durante o show para revelar uma banda com dançarinos ao fundo foi algo que ninguém poderia esperar.
Sexta-feira
No segundo dia, o brilho das minas foi da Janelle Monáe. Que show! Que vibe! Que palco! Que coreografias! Que figurinos! E que guitarrista esquisito…..!?
Janelle fez um dos discursos mais emocionantes da noite. Negra, lésbica, nascida em uma família de classe baixa, disse estar ali representando o sonho de milhares de pessoas. Representatividade, empoderamento e uma energia de palco que me fez pensar que se a Erykah Badu representava o passado, ali estava o futuro.
Miley Cirus entrou bem, com ‘Nothing Breaks Like a Horse’, seu hit do momento, feita em parceria com o top produtor Mark Ronson. Mas depois ficou um tanto perdida, descontextualizada em meio à tantas falas e performances de artistas com muito mais a dizer que ela. Foi um show preguiçoso, que terminou rápido e não apresentou nenhum momento mais impressionante que a sua entrada no palco.
A banda de psych-rock Tame Impala entregou um dos melhores shows do festival. Kevin Parker e cia não economizaram nos hits. Apesar do repertório previsível, as projeções e iluminação foram tudo menos isso. Os lasers e as imagens psicodélicas da banda é o mais próximo de uma viagem lisérgica que você pode chegar sem tomar um alucinógeno.
Pra fechar, um pouco de Robyn (que começou bem devagar e não nos prendeu até o final) e um bocado de Jungle. A banda ferveu a pista com hits, um iluminado palco lindíssimo e aquele clima pra derreter.
Sábado
O último dia foi também um dos mais icônicos. A estrela da noite (e prata da casa) Rosalía, entregou o show mais disputado do festival. E com muito estilo e coreografias. Um super introvertido James Blake vestido de preto dos pés à cabeça participou de um dueto com a diva catalã no hit ‘Barefoot In the Park’.
Não vi o show da Solange, mas não me arrependi (só um pouco). Optei por presenciar a Lizzo, uma das artistas que tinha vista no streaming do Coachella e que já, já você também vai ver entre as 2 primeiras linhas de cartaz de qualquer mega festival pelo mundo. Lizzo é uma rapper, performer e dona de uma presença de palco que é pura simpatia. Sem sombra de dúvidas, um dos top 3 momentos do Primavera Sound.
Na sequência, o divertido e altamente visual show de Tierra Whack. A (também) rapper americana se esforçou pra manter a pista aquecida como a Lizzo. Foi foda, mas se fosse antes… seria um perfeito warm-up.
Atravessamos o festival às pressas pra assistir ao show de James Blake. Valeu a pena. Foi um momento lindo, introspectivo e melancólico – como já esperava. “Celestial” é a palavra para definir este show. Foi surpreendente o momento techno que antecedeu ‘CYMK’, primeiros hit underground do cantor e produtor londrino.
Fechamos o festival no meio da pista com o live do Modeselektor. Não decepcionou, mas poderia ter sido melhor. O som parecia um pouco baixo e já havíamos visto tanta coisa surpreendente que nem as projeções e nem a animação da dupla berlinense nos fez chegar ao êxtase dos shows vistos no festival.
Nem tudo são flores…
Estivemos no Primavera Sound em 2016 e, de lá pra cá, o festival cresceu absurdamente. O número de palcos praticamente dobrou, foram 15 nesta edição. Idem a presença de marcas e cuidados da produção (destaque para o gigantesco gramado sintético colocado como piso entre os dois palcos principais do festival, onde antes era apenas terra, poeira e pedras – um MEGA acerto!).
Por outro lado, tem certas coisas que esse festival não acerta a mão. A parte de música eletrônica, por exemplo. Não adianta, é sempre “um puxadinho”, com uma escalação errada, em horários que não ajudam. Neste quesito, o Sónar continua sendo “O” festival para ir em Barcelona.
Mas o maior fail do festival foi mesmo a operação de bares. Não havia o serviço cashless e tampouco a compra de fichas. Você pagava a mesma pessoa que te servia um drink ou chope. Uma ida ao bar significava as vezes 20 minutos de espera para pegar somente um copo. #epicfail
A saída do festival na quinta e sexta, quando não havia metrô circulando a noite inteira, também foi complicada. Muita espera, muitas filas, poucos taxis e carros disponíveis. E ainda rolou um senhor frio…
Contudo, na experiência geral, estes são meros detalhes (exceto a operação dos bares, que realmente não tem como perdoar).
Por outro lado, as opções da praça de alimentação eram das mais variadas possíveis, com comidas de vários países, além do tradicional hambúrguer, pizza e batata frita. Havia foood trucks de todos os tipos também por todas as partes.
Por fim, as ativações de marcas foram bem feitas, concentradas na entrada do evento e todas muito pertinentes à proposta do festival, sem gritar por atenção ou gerar filas desnecessárias.
A melhor ativação de todas foi a da SEAT, que ofereceu um ônibus gratuito para conduzir as pessoas de um lado do festival ao outro (entrando na lógica colaborativa que já apresentamos em nosso e-book Guia Pulso Para Ativação de Marcas em Festivais). Imagine essa ideia no Lollapalooza São Paulo, com um busão te levando numa pista livre de tráfego do palco Doritos ao palco Adidas? Deu pra entender?
Vale destaque também a marca Pull&Bear, que criou pontos instagramáveis e uma coleção inteirinha de roupas e acessórias exclusivas do festival (vendidas numa lojinha bombada dentro do evento).
Partiu Primavera Sound 2020?
O Primavera Sound 2019 foi e será provavelmente o melhor festival de música que estivemos neste ano. Foi tão bom que já o incluímos em nosso calendário de viagens para festivais de 2020.
Se você tiver interesse em participar desta experiência com o nosso grupo, faça sua pre-reserva grátis aqui. São apenas 10 vagas e nós divulgamos o lançamento da viagem primeiramente nas newsletters do OCLB Travel (saiba mais aqui). A próxima edição do Primavera Sound Barcelona acontece de 04 a 06 de Junho de 2020.
O festival também anunciou uma edição especial em Los Angeles em 2020, em setembro deste ano. E ainda tem uma edição surpresa, que andam dizendo por aí que será no Reino Unido.
Siga os stories do Projeto Pulso. Assim que confirmamos, divulgamos lá. 😉