* Colaboração de Emília Soares
Coroa de flores, kimono, franjas, top de crochê, penas, estampas étnicas, chapéu, camisetas de tye dye, cocar de índio… Eles desfilaram pelo Lollapalooza Brasil, estão na coleção que a H&M fez em parceria com o Coachella, nos blogs de moda, nas redes de fast fashion, nas vitrines de Ipanema… Se você está se perguntando porque todo mundo está se vestindo assim nos festivais, este post é para você!
Todos esses elementos fazem parte do estilo conhecido como boho, boho chic ou boêmio. Ele dançou no Woodstock e reapareceu no Glastonbury, mas foi no Coachella que ganhou visibilidade e status de “roupa de festival”. Porém, ao longo de mais de 200 anos de história, o estilo incorporou diversas influências e acompanhou artistas e intelectuais em seus ideais de liberdade e rejeição ao materialismo.
Na ruína financeira pós Revolução Francesa, diversos artistas perderam apoio e aderiram ao estilo nômade, vestindo-se com roupas desgastadas e surradas. Mas foi com o Movimento Romântico que artistas e intelectuais adquiriram status de personalidade. Seu estilo individual, uma espécie de gênero excêntrico, passou a ser expressado também através das roupas. A aparência era cuidadosamente planejada, e com eles o estilo boêmio passou a sugerir um caráter permissivo e liberal.
Ainda no século XIX, por acreditar que a revolução industrial era desumanizante, o estilo de vida boêmio incorporou antigas técnicas de produção artesanais. Nas roupas usavam tecidos coloridos com corantes orgânicos e decorados com bordados a mão, baseados em trajes medievais e influências orientais.
Já no final dos anos 1960, o clima de instabilidade produzido pela grande reviravolta de valores e a consequente necessidade de escapismo, criou nos jovens a busca por uma vida mais saudável, simples e natural. Assim, o Movimento Hippie com a rejeição ao estilo de vida mainstream incorporou os ideais boêmios, também em sua maneira de vestir, utilizando elementos de trajes históricos, étnicos e artesanais. Com a popularização dos grandes festivais nos últimos anos, o estilo pipocou nas revistas e blogs de moda e virou o dresscode desses eventos.
Analisando sua história e entendendo sua forte relação com movimentos estéticos e de contracultura, fica fácil compreender a incorporação dos elementos que hoje definem o estilo boho como roupas fluidas, tecidos naturais, modelagens amplas, botas e chapéu como referência ao campo, roupas usadas e desgastadas, elementos orientais como roupões e kimonos, desenhos étnicos da Pérsia, Índia, Turquia e China, grafismo indígena, camadas, mistura de estampas e combinações de cores inusitadas.
Embora a moda tenha abraçado e popularizado seus elementos estéticos, os valores principais do estilo boho – a liberdade individual, a rejeição ao materialismo, o sonho de ideais utópicos, a produção artesanal e local – estão sendo adotados na atualidade como poderosa alternativa à cultura mainstream.
E você, com que roupa vai no próximo festival?
Emília Soares é designer de moda e praticante dos valores boêmios na Cos.