Review Nuit Sonores: Um Sonho de Festival em Uma Cidade Que é Puro Charme


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O Nuit Sonores (NS) é um dos principais festivais de música eletrônica da França. Mas ele vai muito (mas muito mesmo) além da música. Embora o Daniel Tambarotti tenha sido o primeiro a falar dele no Pulso, foi só depois de ler o review da Bruna e João que ele entrou direto para minha lista de festival dos sonhos.

Foram várias as justificativas:

. A curiosidade em conhecer Lyon, 2ª maior cidade da França (em área urbana) e capital gastronômica do país, com paisagens de tirar o fôlego.

. A programação cultural do festival, que acontece em 18 lugares diferentes da cidade (!). Assim como o Sónar Barcelona, o NS divide-se em uma parte de dia/tarde e outra pela noite/madrugada. Entre as dezenas opções (!!), estão festas em barcos, exposições e instalações artísticas, exibição de filmes, workshops de produção e até degustação de ostras (!!!).

. As festas oficiais, cuja curadoria é assinada por artistas convidados. Neste ano, ninguém menos que Black Madonna, Nina Kraviz e Jon Hopkins assinaram os line-ups de cada dia – e noite – do festival.

As minas dominaram geral

. A chancela do grupo We Are Europe (leia aqui), entidade composta por 8 festivais de arte e música avançada, que vem recebendo apoio (leia-se, investimentos) da Comunidade Européia.

. A oportunidade de participar do European Lab, programação de painéis, debates e palestras que acontece paralela ao NS e que reune jornalistas, produtores, artistas e promoters discutindo a indústria dos festivais, da política cultural e das cidades da União Européia.

. A homenagem especial à Lisboa na programação “Carte Blanche”. A cada ano, o NS escolhe uma capital para “ocupar”o festival com artistas, performances, comidas entre outras atividades.

Bispo e seu krautrock psicodélico

Aula de Responsabilidade Social e Redução de Danos

Um dos aspectos que mais chamou a atenção no NS foi o cuidado nos detalhes em suas ações sociais.

Além de distribuírem folhetos informativos alertando sobre o uso da maconha e do álcool, a produção também preparou um material para alertar sobre os riscos de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e a agressão à audição.

Cartilhas educativas… e aí, Brasil, vamos continuar tapando o sol com peneira?

Foi o primeiro festival que vi distribuir gratuitamente para todos os convidados preservativos masculinos, femininos e protetores de ouvido.

Por outro lado, também foi o primeiro festival que vi distribuir em seu welcome kit um isqueiro assinado com a logomarca do evento… Aliás, quanta gente fumando! Lembrando que o NS rola durante a primavera, então se você tem histórico de alergia, não esqueça de levar seus remédios.

Chamou a atenção também o convite de seus curadores deste ano: duas mulheres – Nina e Black Madonna – e um homem – Jon Hopkins. E também uma de suas festas, My House is Your House, cuja proposta era reunir DJs e artistas refugiados. Inclusão social era visivelmente uma bandeira levantada pelo festival.

Sustentabilidade Na Prática

Antes de entrar no banheiro, as mulheres recebiam um pacote de serragem para jogar dentro da privada, fazendo a compostagem dos detritos. Ou seja, não havia sujeira, e o mal cheiro e resíduos eram tratados ali mesmo.

Já os banheiros masculinos eram feitos com um sistema de madeira (ou papelão). Muito diferentes daquelas estufas de plástico dos banheiros químicos que encontramos na maioria dos festivais.

Banheiros masculinos sustentáveis

O sistema de copos nos bares era do tipo reutilizável. Você pagava 1 euro a mais para ter um copo só seu, um brinde do evento para levar pra casa depois (mas… confesso que não vi se era possível entregar o copo para recuperar o dinheiro – acabei levando pra casa mesmo!).

Mini Nuit Sonores

O fofo espaço Mini Nuit Sonores

Todos os dias do festival, durante a parte diurna, havia uma programação inteira de atividades dedicadas às crianças. Gratuita e aberta ao público. Pais e mães podiam levar seus filhos, que eram presenteados com animadores infantis, DJs, pocket shows exclusivos, com direito à roda de ciranda, jogos e muita, muita fofura. As crianças também recebiam um headphone protetor de ouvido para curtir a festa com os papais à vontade.

E a Música?

Techno, techno e mais techno. Tanto que eles até fizeram o pôster abaixo no melhor estilo ‘debochè’.

Esses franceses….

Carol e eu aterrissamos em Lyon na quarta-feira (26/05), primeiro dia do festival, já de madruga. Deixamos as malas no Airbnb e fomos direto pra noite de abertura.

A Anciennes Usines Fagor-Brandt era um complexo industrial de aspecto underground (como a Fabrika de SP ou o Espaço Behringer no Rio). O espaço era dividido em 3 pistas, por onde se apresentaram nomes como Vitalic, Talaboman, Mind Against e Laurent Garnier. Na hora que chegamos, deu pra conferir apenas uma parte do set da alemã Sarah Farina, recheado de bass, com pitadas de dancehall e dubstep. Mesmo assim, foi o que mais curti nesta noite.

Belo line, hein?

Monsieur Laurent Garnier estava em casa e apresentou um ‘UK Style’ set (foi anunciado assim mesmo). O maestro não decepcionou, mas pesou a mão no dubstep, jungle e outras sonoridades sombrias demais para meu mood naquela hora. Talaboman fez um set clichê, tech-house e deep house com pitadas étnicas. Me senti numa festa da Selvagem. Mind Against sentou a mão no techno minimal. Valeu, hora de ir embora…

Como no Sónar, a programação noturna é lotada ao ponto desconfortável. Majoritariamente composta de club kids, no inicio dos seus 20 anos, ‘tres loké’. Por isso, nos demais dias, optamos pelas festas de “dia” (que terminavam às 22h). Valeu a pena.

Na quinta (27/05) e sexta (28/05) fomos descobrir a nova cena de artistas portugueses. Vimos o show de krautrock da banda Bispo (super Brasília feelings), o jazz lisérgico experimental do Jibóia (uma das melhores coisas que vi em todo o festival), o deep-tech-tribal house do projeto Rocky Marsiano & Meu Kamba (outro que curti demais), o kuduro quase funk carioca dos DJs Marfox e Rastronaut e o surf-rock-califa da fofa banda indie The Mighty Sands.

A garotada de cara com a bailarina do projeto Rocky Marsiano e Meu Kamba

A cena de Portugal está fervendo e foi um ponto certeiro de Lyon montar a programação com estes artistas. Além dos shows, assistimos aos painéis sobre a cena de Lisboa e a história da dance music underground da capital.

Valeu demais a imersão, conhecemos muita gente boa e fizemos novos amigos de pista.

Nós e o casal Mariana e Gustavo aka Village Underground Lisboa

Um Encerramento à Altura do Festival

Pra fechar, sábado de tarde fomos ao La Sucriere, outra fábrica desativada, desta vez colada ao azul turquesa do Rio Saône.

O último Nuit Day foi curado pelo produtor britânico Jon Hopkins, que selecionou nomes como Actress, Anthony Naples, The Field e Nathan Fake. Mais uma vez, divididos em 3 pistas, um rooftop, uma externa e outra indoor.

Tentamos ver o Nathan no rooftop, mas a fila e o sol escaldante na cabeça não permitiram. Nem mesmo os sorvetes Haagen Daaz distribuídos gratuitamente deram o refresco necessário. Ficamos então dentro da fábrica, surrealmente “geladinha” e com um sound system impecável (funktion one).

A posição dos DJs, no meio da pista, na altura das pessoas, cercados apenas por uma grade circular (e seguranças bem ativos!), foi um pontasso a favor.

Vi parte do set (caverna) de techno da dupla Barker & Baumacker, numa pressão que mais parecia um after da festa ODD. Quando Jon Hopkins subiu pra tocar, rolou uma comoção generalizada. Mesmo com um probleminha técnico que o fez desligar o som, o computador e reiniciar seu live-dj-set… Apresentou um set pre-gravado em Ableton, com músicas de outros produtores (como Dixon e Todd Terje) e edits de suas produções. Independente do formato, o cara botou a casa abaixo. Misturou pressão e harmonia na dose certa, contou uma história e mostrou porque é hoje um dos grande nomes da música eletrônica underground.

Jon Hopkins, o cara

Assisti na seguida o início do Daniel Avery, último da noite, mas saí mais cedo porque em Lyon, se você não chega ao restaurante até as 21h, esquece qualquer possibilidade de jantar (a boa mesmo é comprar vinhos e baguetes no mercado e comer na beira do Rio #ficadica).

**

Balanço final: o NS lembrou o Sónar de uns 10 anos atrás. Tamanho certo, lineup foda, público estiloso e simpático (a maioria esmagadora de franceses), clima liberal e paisagens/locações ‘artsy’. A crítica fica pelos preços da viagem. Lyon é uma cidade cara e o festival segue a média. A cerveja custava 7 euros, sanduíches entre 9 e 10 euros. Não vende bebida destilada, mas uma dose pequena de vinho custa 4 euros (mas que vinhos, amigos!).

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