O Rio de Janeiro recebeu, entre os dias 6 e 9 de junho, a versão carioca (ou latina?) do tradicionalíssimo Montreux Jazz Festival. Cerca de 23 mil pessoas passaram pelo festival, com matriz no Píer Mauá, zona portuária da cidade, à beira-mar – e também pelos palcos gratuitos espalhados pela cidade.
Essa é a primeira edição na América Latina de um dos mais respeitados festivais do gênero no mundo, com sede na cidade de Montreux, na Suíça, e na ativa desde 1967.
Como foi a edição carioca do Montreux Jazz Festival
A filial carioca seguiu os moldes do evento original, ocupando diversos pontos da cidade, com shows gratuitos em bairros como Madureira, Tijuca, Barra, Ipanema e Largo do Machado. Além disso, os armazéns concentravam os três palcos principais batizados de Ary Barroso, Tom Jobim e Villa-Lobos.
A presença do festival fez a cidade respirar música durante quase uma semana, com buzz gerado pelo boca-a-boca e a oportunidade de assistir artistas como Yamandú Costa e a Stanley Clarke Band.
Porém, por mais válida que seja a ideia de tornar sede do festival a zona portuária (segurança e locomoção dentro dos armazéns), em um festival onde o jazz é a espinha dorsal, a acústica dos palcos importa e muito. Por aqui não chegou a atrapalhar, mas poderia ter sido melhor em um palco planejado para um evento desses. Além disso, seguindo o modelo suíço, dois palcos principais (além dos “extras” espalhados pela cidade) dão conta do recado. Um open air e um no estilo auditório, podem brincar e conversar entre si – enquanto que quatro dias legais poderiam ser dois dias fantásticos. Por fim, a opção também de compra de ingressos por show jogou contra o evento, afinal, estamos falando de um festival, certo?
E o público?
Com esse formato, o público foi menos popular como gostaríamos e com a faixa etária majoritariamente acima dos 30. Reforço que essa faixa etária não tem nada a ver com a qualidade do evento. Pelo contrário. Realmente existe uma carência de eventos como esse para essa galera e com o sucesso que foi, produtores já sabem que existe um nicho a ser explorado. Lotou!
A logística e o serviço atendiam a proposta dessa edição, mas já antecipamos que, para futuras edições, possivelmente maiores, isso deve ser repensado.
Em tempo, o lineup tímido revelou momentos memoráveis. Ter a oportunidade de assistir artistas como Steve Vai ou o Hermeto Pascoal foi um privilégio. A cantora Corinne Bailey Rae brilhou e as apresentações nacionais – que juntavam artistas como Frejat e Pitty, por exemplo – foram o que esperávamos. As atrações conversavam e ponto. Como adiantamos na nossa primeira análise, o selo Montreux, hoje, aposta em talentos distintos casando com artistas do gênero-sede do festival. Do eletrônico do Chemical Brothers ao hard rock do Queens of the Stone Age, artistas fora do eixo jazz-soul, elevam o festival a outro nível. Sentimos falta dessa ousadia por aqui. Tivemos uma formidável performance de metal acústico, mas a impressão que ficou foi de que era a zebra dessa escalação.
O Rio Montreux Jazz Festival foi uma grata surpresa em solo carioca. Movimentou a cidade, a economia e trouxe um brilho a mais em nossa cultura. O sucesso dessa primeira edição só prova que o mercado existe e que o festival já pode fincar sim as suas raízes por aqui. Foi sim uma primeira edição de respeito e que agradou. O potencial é enorme e acreditamos que nas próximas edições teremos excelente surpresas. Vida longa!