Quando voltam as festas? E os festivais? Como está sendo a reabertura de eventos no Brasil e no mundo? O que muda daqui em diante?
Essas são algumas das perguntas mais frequentes que escutamos em nossas lives ou em conversas com parceiros, clientes e membros da comunidade OCLB.
Faz três meses desde que publicamos aqui no Pulso um longo artigo explicando porque cancelar e adiar eventos virou uma medida necessária para salvar vidas.
Passado pouco mais de 100 dias desde o 1º caso confirmado do novo coronavírus no Brasil, chegou a hora de atualizarmos o cenário de eventos com base no que aprendemos até agora.
Antes, um rápido contexto.
Dia 7 de junho o mundo registrou o mais alto número de diagnósticos de infecção num único dia desde o início da pandemia da covid-19. Foram mais de 136 mil pessoas detectadas com a doença num intervalo de 24 horas.
Ou seja, a curva do contágio continua subindo.
Nesse momento, quem puxa a média para cima são países como a Índia, México e, principalmente, o Brasil.
O Brasil, único país do mundo sem um ministro da saúde nesse momento, 2º país em número de infectados e também de mortos, e cujo presidente insiste em violar as normas de distanciamento social abraçando apoiadores em praça pública sem máscara no rosto, aos poucos relaxa o confinamento para reabrir o comércio.
Isso tudo em meio ao pico da doença…
A disputa do cabo de força entre a crise econômica versus a a crise social-sanitária pende cada vez mais para o lado onde a dor bate mais forte: no bolso dos brasileiros.
Embora alguns governadores se esforçam para conter o agravamento da crise, o alto custo político de manter eleitores “presos em casa” em meio a uma economia em colapso é o como tentar apagar um incêndio usando copos d’água.
Então, nada mais resta a fazer senão admirar as geleiras ao mar se aproximando enquanto o Titanic segue seu rumo, certo?
Nada disso.
Existe uma coisa que você e eu podemos fazer. A mais importante de todas nesse momento.
Informar-se com consciência. E agir com responsabilidade.
A seguir, destaco quatro aprendizados destes últimos cem dias. E o que podemos esperar daqui em diante.
Separe um café, escolha um lugar silencioso e senta que lá vem textão…
1. Diferentes realidades para diferentes eventos
A primeira informação a saber é que não existe uma resposta única para a pergunta quando voltam as festas e eventos.
Pelo simples fato que existem diferentes tipos de eventos e diferentes contextos locais da pandemia.
Apesar do Brasil ser o 2º país com o maior número de mortes e também o 2º com maior número de infectados, é preciso observar que existem cidades onde a doença está mais controlada que outras.
Isso não quer dizer que essas cidades devam retomar suas atividades como se nada estivesse acontecendo.
Simplesmente que a resposta sobre quando voltam as festas e eventos pode ser respondida de forma local, de acordo com a realidade de cada cidade e estado, e também sobre que tipo de evento estamos falando.
Ainda sobre eventos, poucos fizeram uma análise tão bem articulada sobre a reabertura como Gabriel Benarrós, CEO da Ingresse.
Ao usar uma lente voltada para a inteligência de dados, o executivo criou um gráfico bem lúdico analisando o perfil de risco de certos eventos de acordo com duas variáveis: potencial de contágio versus número de pessoas no evento:
Ao final do artigo, Gabriel traz uma pertinente provocação: como utilizar a tecnologia para entender o impacto de cada tipo de evento, usando essas mesmas informações para retroalimentar novos protocolos de segurança.
O controle da pandemia através do uso da tecnologia é uma prática fortemente utilizada na Ásia, em particular Singapura, Coréia do Sul e China, onde governos locais vêm investindo agressivamente no controle da doença através de aplicativos que rastreiam a jornada de contágio do covid-19.
Esse é um assunto altamente controverso, que consiste na disputa entre a invasão de privacidade e a perda dos direitos individuais versus o entendimento de que o grupo é mais importante que o indivíduo e o governo é responsável por ele.
Pensadores como o historiador israelense Yuval Harari e o filósofo sul coreano Byung-Chul Han escreveram excelentes ensaios sobre o assunto.
Recomendo ler ambos para entender. É um assunto que promete virar trending topic em diversos festivais e conferências de inovação mundo afora.
2. Quando voltam as festas? Guie-se pelos protocolos!
Assim como acontece com os eventos, cada país, estado ou cidade tem uma realidade diferente para lidar com a crise.
Mas todos trabalham com uma abordagem semelhante para conter o contágio do covid-19, ou seja, uma retomada gradativa e dividida em fases.
Durante as lives semanais do ØCLB de Pijamas, entrevistamos Vander Lins, coordenador de eventos da secretaria de turismo de São Paulo.
Vander nos explicou como funciona o Plano São Paulo, documento que apresenta as fases de reabertura das atividades de comércio e serviços na capital paulista.
Os critérios para a reabertura são estabelecidos a partir de duas variáveis: capacidade do sistema de saúde e evolução da epidemia.
Cada setor da economia tem suas próprias “regras” para a reabertura.
Essas regras – também conhecidas como protocolos – são criadas a partir de um acompanhamento constante sobre a evolução da doença, aliada à pesquisas e conversas com entidades de classe, que fornecem ao governo ideias e informações sobre como diversos setores da sociedade poderiam voltar a funcionar suas atividades com segurança.
Na prática, uma boa maneira de entender como se dará a reabertura é pensar em um jogo de videogame.
A medida que formos controlando a evolução da pandemia, e a situação do sistema de saúde sob controle, “passamos de fase”.
Mas atenção: se chegamos na fase 4 e a situação fugir de controle, voltamos ao “início do jogo”.
Quer dizer, até a vacina com a cura para a doença ser criada (e ser comercializada em larga escala e estar disponível para toda a população), a realidade é que ficaremos nesse jogo de relaxamento e confinamento da quarentena ainda por um bom tempo.
Prova disso aconteceu na semana passada em São Paulo.
Na última quarta-feira (10/06), o governo reabriu parte do comércio. No mesmo dia, o governador João Doria informou uma nova quarentena na cidade entre os dias 15 e 28 de Junho.
Para organizadores de eventos, em particular os de festivais, a situação é complexa.
Festivais de grande porte como o Lollapalooza Brasil, que adiou sua edição de abril para dezembro, correm o risco de não serem realizados nesse ano. Sua edição original, em Chicago, prevista para agosto desse ano, acabou de ser cancelada.
O Coachella, originalmente marcado para abril e adiado para outubro de 2020, foi outro que acabou de cancelar sua edição desse ano.
De uma forma geral, é consenso afirmar que 2020 será o ano em que os festivais deram uma pausa. É improvável, mas não impossível. Pode ser que voltem ainda no 2º semestre.
O EXIT, da Sérvia, um dos maiores festivais da Europa, teve um “ok” do primeiro ministro do país para ser realizado (em nova data, ainda sob estudo).
Mas até a vacina chegar e estar disponível para a população, a realidade é que os grandes festivais dificilmente serão realizados nesse ano.
A Sympla, maior plataforma de eventos no Brasil, também lançou nessa semana um excelente relatório apresentando como vem sendo a reabertura de eventos em diferentes países do mundo, incluindo alguns cases, protocolos e notícias.
Recomendo baixar e conferir o material.
3. Tendências: eventos boutique e a céu aberto
O portal de viagens Matador, uma das principais referências em viagens e turismo, realizou uma extensa pesquisa com mais de 2 mil participantes de todo o mundo.
Ao perguntar “uma vez que as autoridades de seu país estabelerecem que as viagens estão seguras, qual tipo de viagem a lazer você terá mais interesse”, a maioria das pessoas respondeu “aventuras a céu aberto”.
Embora a indústria dos grandes eventos e das mega conferências esteja em alerta vermelho até a vacina com a cura chegar, eventos menores, que consigam adaptar-se às medidas de distanciamento social, em particular aqueles em locais a céu aberto, devem ser os primeiros a ser realizados, a medida que avançamos nas fases de reabertura de negócios.
Na Inglaterra, a primeira rave com distanciamento social acabou de acontecer. Bem meia-boca, mas… é um primeiro passo!
Já o portal de notícias norte-americano The Atlantic publicou um extenso artigo detalhando descobertas recentes de pesquisas na Ásia sobre a maneira como o novo coronavírus se espalha em ambientes fechados como escritórios e restaurantes.
A conclusão inicial de estudos feitos na China e na Coréia do Sul é a de que o vírus se concentra em lugares densamente populados e com pouca circulação:
Também, que a direção do ar-condicionado contribui diretamente para uma disseminação e concentração do vírus.
Para organizadores de eventos, a dica é clara: aposte em eventos outdoors.
E também em “eventos boutique“, voltados para um número menor de pessoas, cuja entrega de experiência seja ainda mais cuidadosa, seguindo todos os protocolos de saúde e segurança.
Vale lembrar que a Coréia do Sul voltou a entrar em quarentena depois que identificaram um novo surto da doença em um bairro de Seul conhecido pela sua vida noturna, bares e clubes.
Lembra das fases do jogo? Então…
4. Virtualize-se (se puderes)
Se você chegou até aqui, provavelmente se deu conta de que provavelmente continuaremos a viver como nos últimos 3 meses por mais um bom tempo até a vacina com a cura chegar, algo que os especialistas prevêem somente para o primeiro semestre de 2021.
Por outro lado, na crise existem oportunidades. Principalmente a de reinventar-se enquanto negócio.
Tecnologias de streaming estão evoluindo a passos largos, assim como novos modelos de negócios.
Grandes eventos de tecnologia como o Google I/O e o Facebook F8 foram cancelados. Por outro lado, um novo boom de summits virtuais e conferências de marketing online vem surgindo.
Além de ter exibido parte da sua programação de filmes em um festival virtual em parceria com a Amazon Prime, o SXSW vem realizando semanalmente lives com palestrantes de renome.
As conferências canadenses C2 e Collision também adaptaram-se para o ambiente virtual.
No Brasil, agências de live marketing vem se especializando cada vez mais em oferecer soluções de streaming para a organização de eventos online.
A TM1, por exemplo, realizou um festival de conteúdos para discutir o futuro das experiências com quatro horas de duração e mais de vinte mil visualizações.
Desde que a pandemia começou, escrevemos diversos artigos para o blog da Sympla com dicas sobre como migrar suas produções para o meio online.
Já explicamos, por exemplo:
- as vantagens de se fazer eventos online
- porque trocar sua entre fazer uma live e um evento online
- o que levar em consideração ao precificar um evento online
- cuidados ao planejar um roteiro para eventos online
Entre outros artigos para quem quer começar, mas ainda não sabe como.
Por aqui, é claro, praticamos o que ensinamos.
Por isso, passamos a levar os conteúdos que disponibilizamos em nossos cursos e palestras no ØCLB de Pijamas, um “curso vivo” onde recebemos líderes e executivos referências na indústria do entretenimento para entrevistas sobre o futuro desse setor.
Como falamos em algumas das nossas lives, estamos vivendo uma situação sem precedentes, e por isso mesmo devemos estar atentos às oportunidades que surgirão a partir dela.
É como se estivéssemos em meio a um jogo de tabuleiro do tipo War.
De repente, rolou um apagão.
Durante o apagão, alguns dos jogadores se aproveitaram do momento e mudaram todas as peças no mapa do jogo.
Quando a luz voltar e olharmos de novo para o tabuleiro, tudo estará mudado. Alguns players terão dominado “o novo jogo”.
Serão justamente aqueles que conseguirem se movimentar nesse período para observar o cenário, aprender habilidades necessárias para adaptar-se ao mundo pós-pandemia e, principalmente, criar valor num rápido e curto espaço de tempo para os seus clientes.
Da mesma forma que a indústria do turismo foi ressignificada após o “11 de Setembro”, todas as indústrias – em especial, a do entretenimento ao vivo – serão bastante diferentes depois que a pandemia passar.
Da mesma forma que todo Brasileiro se lembra onde estava quando tomou 7 a 1 da Alemanha na Copa do Mundo, a maioria de nós vai passar por essa crise com muitas histórias para contar.
A provocação final desse artigo é essa: e você, qual história vai contar sobre o que fez durante esse período?
Aguardemos cenas dos próximos capítulos.