Spoiler alert: se você clicou neste link achando que este seria um post sobre realidade virtual, inteligência artificial entre outros fetiches tecno-futuristas, sugiro mudar rapidamente para este post 😉
Como já falamos aqui e aqui, os festivais mais inovadores são aqueles que, para além da música, criam e estimulam comunidades que se relacionam com movimentos e causas relevantes.
Apresentam propostas, discussões e atuam como plataformas para testar, divulgar e prototipar soluções para um futuro mais sustentável e igualitário.
É por isso que desde que começamos o Projeto Pulso, o Roskilde é um dos nossos principais desejos. Neste ano finalmente vamos conhecer o festival que tanto nos inspira!
Enquanto aguardamos o vôo para Dinamarca, conto aqui por que este festival está a um (ou vários) passos a frente dos outros:
1. Pioneirismo
Completando 47 anos, Roskilde Festival se denomina uma comunidade criativa e espiritual. A cidade temporária erguida em torno do festival abriga a 4a maior população da Dinamarca durante oito dias. Desde sua criação, é gerido e produzido por uma associação sem fins lucrativos e todo o lucro é doado para entidades sociais e culturais. Do início dos anos 70 até hoje, já foram mais de R$160 milhões para caridade.
2. Para Além da Música
Apesar das 180 apresentações musicais em 8 palcos, há uma rica agenda para além da música, com programação de arte, cultura e sustentabilidade.
O festival se orgulha em não só engajar subculturas e tendências, mas também de conectar empresas, organizações e sociedade. Há forte parcerias com instituições de ensino da Escandinávia, e uma série de teses e dissertações já foram produzidas usando o festival como “laboratório” para experimentar e desenvolver projetos.
A cidade temporária de aproximadamente 130,000 pessoas funciona como uma metrópole e faz com que seja um caso único para cientistas e estudantes testarem soluções em tecnologia, sustentabilidade e planejamento urbano (leia Como um festival pode fazer um mundo melhor).
Este ano diversos empreendedores terão a chance de testar e desenvolver projetos em uma colaboração com o Fundo de Inovação da Dinamarca.
3. Igualdade Cultural
O tema é um dos highlights do festival, que convidou organizações de ativismo internacional e locais como Black Lives Matter, Amnesty, Danish Women’s Society, MIX CPH e Rapolitics para conduzirem uma programação de palestras e workshops em um espaço exclusivo para as discussões.
Os temas serão racismo no dia-a-dia, marginalização religiosa, igualdade entre gêneros e identidade sexual. Além disto, mais de 60 artistas, escritores, biólogos e músicos irão apresentar suas interpretações sobre igualdade de gênero.
4. Gastronomia Orgânica sem Desperdício
90% de toda a comida vendida no festival é orgânica!
Além de uma diversidade de opções, a novidade será a possibilidade de saborearmos hambúrguer e outras iguarias feitas com insetos, uma colaboração que visa trazer o fenômeno gastronômico dos insetos comestíveis para os festivais.
Outra proposta interessante é a um projeto de gastronomia de mulheres refugiadas, que servirão comidas típicas de seus países de origem. O festival não se preocupa apenas com a origem mas também com a trajetória dos resíduos produzidos. A Det Runde Bord (mesa redonda) é uma organização que transforma ingredientes não utilizados pelos restaurantes do festival em refeições para necessitados.
A cerveja dinamarquesa Tuborg RÅ é orgânica e apenas produzida e comercializada durante o festival. Vinhos orgânicos e o conceito de Cocktails on Tap, onde os drinks são produzidos próximos ao festival e servido em torneiras de chopp prometem agilizar o serviço de bares.
5. Sustentabilidade Ambiental e Social
O festival sempre esteve buscando e praticando soluções ambientais para grandes eventos.
Mas foi no ano passado que lançaram um plano estratégico de sustentabilidade, com a criação de um código que gere não apenas as ações de gestão e produção mas também expectativas e programas com o público.
Parte do esforço é sobre a quantidade de resíduos produzidos durante o festival, que segundo a organização custam R$4 milhões anuais para serem geridos. A mesma quantidade de dinheiro poderia ser utilizada para oferecer café gratuito para todos os participantes durante todo o festival!
Outra grande preocupação é o material de camping que é deixado pelos participantes ao final do evento. Somente ano passado, cerca de 28 toneladas de colchões de ar foram abandonados no camping. Além da campanhas para que as pessoas não deixem os lixos no camping, a empresa Utopia Camping recicla barracas abandonadas e as alugam em novos festivais. O serviço este ano já está sold out!
6. Club Experience
Na rota contrária ao movimento de diminuição dos clubes na Europa e USA, o festival apresenta este ano uma experiência chamada KlubRÅ, um clube fechado com shows, performances, arte visual e instalações de arte. Serão cinco salas inspiradas nos elementos da natureza misturando diversas possibilidades artísticas e, claro, reflexões sobre igualdade de gênero e identidade.