Há não mais que cinco anos, festivais de música no Brasil eram ainda uma realidade um pouco distante do nosso cotidiano. Apesar de bombarem pelo mundo, o mercado nacional demorou para desabrochar e o próprio Rock in Rio ficou sem ser realizado por uma década por aqui. Antes dele, podemos apenas destacar alguns poucos festivais de grande porte como o Skol Beats Festival, Nokia Trends, Coca-Cola Vibezone e, finalmente, o Tim Festival (sucessor do Free Jazz Festival) que, apesar de ter sido um dos grandes expoentes do gênero, só durou cinco edições consecutivas, fechando o ciclo em 2008 e deixando muitas saudades até hoje.
Felizmente, esse cenário se modificou e agora também sediamos alguns dos maiores festivais do mundo, além de termos reconquistado o Rock in Rio em seu local de origem. Sempre na vanguarda, o evento lançou a premissa “Por Um Mundo Melhor” em 2001 e, em termos práticos, já beneficiou milhares de pessoas nas cidades de Madrid e Lisboa, através de uma parcela da venda de ingressos.
Além disso, os organizadores também notaram que o público anda muito mais exigente e conectado aos mais diversos temas vigentes, como economia, meio ambiente e política, e que um line up de peso não era mais o suficiente para atrai-los. Era preciso mais: mais experiências, mais memórias e, por que não?, mais engajamento.
Por isso, há poucas semanas, o Rock in Rio lançou um novo projeto que visa permear todas as edições até 2019. Batizado de Amazônia Live, a empreitada surge sob o mote “Mais do que Árvores, Vamos Plantar Esperança” e consiste basicamente em educar a população quanto ao consumo consciente dos recursos naturais, além de alertar sobre a situação alarmante da Amazônia.
Falando em números, cerca de 632 mil km² de florestas foram desmatadas e as consequências vão desde mudanças climáticas severas até perigosos desequilíbrios pluviais, gerando a aniquilação da maior reserva de biodiversidade do mundo.
Toda essa teoria foi finalmente concretizada em 2015, após um convite bastante especial da Prefeitura de Manaus: promover um evento na região que conseguisse chamar a atenção para os problemas ambientais do local. A proposta soou como um desafio para o Rock in Rio que, prontamente, atendeu ao pedido e, agora, após um ano do encontro, anunciou o primeiro resultado dessa parceria: um show no dia 27 de agosto, num palco flutuante em pleno Rio Negro, com apresentações dos tenores Plácido Domingo e Saulo Lucas, além da Orquestra Sinfônica e abertura de Ivete Sangalo. O espetáculo será para apenas 200 felizardos, mas tudo será disponibilizado online via streaming e com transmissão ao vivo pelo Multishow.
Para ressaltar ainda mais esse movimento de preservação da natureza, vale lembrar que o Burning Man se consolida como um dos eventos mais procurados de 2016 e carrega consigo a premissa de não deixar rastros após seu encerramento. A preocupação com o lixo em excesso e o exagero na utilização de recursos foi, inclusive, destacada pelo Festival Guy em entrevista aqui no Pulso lá em dezembro. Na oportunidade, nosso parceiro de pistas frisou a importância do tema ser cada vez mais integrado aos pilares dos eventos de música. Um bom exemplo disso é o Electric Picnic, na Irlanda, que conta até com a consultoria da Global Green para a criação e desenvolvimento de ações conscientizadoras.
O elo festivais-meio ambiente promete ser uma das apostas mais assertivas na manutenção desse mercado e vai muito além da simples sugestão de utilizar transportes públicos no trajeto até a festa.
O Coachella, por exemplo, seguramente um dos pioneiros, explora bem o aspecto da mobilidade e da emissão de gases poluentes, oferecendo promoções que têm como prêmios ingressos VIP vitalícios e passes de backstage às pessoas que se deslocarem através da “carona solidária” num carro com mais de 4 amigos.
Eles também criaram um esquema de troca de garrafas vazias por itens de merchandising do evento, reciclam boa parte do lixo com a ajuda de artistas de rua e têm até um playground que possibilita a recarga dos celulares com a energia gerada pelos brinquedos.
O Bonnaroo, no Tennessee, é outro que vem investindo na temática: um dólar de cada ingresso é convertido para melhorias da fazenda que abriga os shows. O sistema de carona também foi adotado com bonificações e há um espaço totalmente voltado para a conscientização, o Planet Roo, que procura informar o público através de diversas atividades culturais e um palco à base de luz solar.
Já o Pickaton, em Portland, foi além: já conseguiu eliminar a utilização de utensílios descartáveis e incentiva os pagantes a levarem seus próprios pratos, copos e talheres ou comprarem os oferecidos no local. Como se não bastasse, o evento também é 100% realizado com luz solar.
O Lollapalooza de Chicago também aderiu ao sistema de permuta de lixo por memorabilia do festival e não só controla a emissão de gases poluentes, como também comercializa compensadores de carbono por 3 dólares em parceria com a Indian Creek Landfill Gas Project, captando metano e o destruindo pelo processo de combustão.
Apesar dos passos curtos e gastos ainda bastante altos, ações que contemplam a sustentabilidade em eventos de grande porte prometem conquistar ainda mais adeptos mundo afora. As soluções, cada vez mais criativas e interessantes, angariam gradualmente o apoio de empresas e marcas de renome, como Heineken e Coca-Cola, e mobilizam agências de publicidade globalmente, mostrando que a revolução verde, finalmente, está em andamento.