Saiu (mais) um artigo questionando o quanto o line-up é relevante para uma nova geração de frequentadores de festivais (leia a versão em inglês aqui). O texto, publicado na tradicional publicação de negócios The Economist, acusa o Instagram como um dos principais responsáveis por colocar a música em segundo plano nestes mega eventos.
Anywhere, in between 📷: @ryanmuir
Uma foto publicada por @coachella em
Segundo a matéria, uma busca pela #Coachella2016 nesta rede social apresenta mais de 276 mil menções, poucas delas tendo qualquer coisa a ver com música.
“Essa geração mais jovem, que pode acessar música quando e onde quiser, busca por experiências mais que produtos” afirma a matéria.
Em 2015, nós do Projeto Pulso estivemos presentes nos maiores festivais de música do Brasil, entre eles o Lollapalooza e Tomorrowland, pesquisando a experiência e motivação de seus frequentadores. Quando perguntamos o que mais gostaram nestes festivais, vejam a resposta:
Embora 1 em cada 4 pessoas no Lollapalooza ainda aponte a música como a melhor caraterística deste evento, a “experiência geral” de participar de um festival – que inclui a viagem, a companhia dos amigos, compras, gastronomia e, claro, a música e apresentações – é o que hoje em dia melhor representa os gostos dos novos frequentadores de festivais.
Nos EUA, o Lollapalooza comemorou 25 anos em 2016 em quatro dias de festival. Mais de 400 mil ingressos foram vendidos antes do line-up ser divulgado. No Coachella deste ano não foi diferente, tendo esgotados seus ingressos em 1 hora.
Segundo dados do instituto de pesquisa Nielsen, o mercado norte-americano atrai cerca de 32 milhões de frequentadores por ano. São aproximadamente mais de 840 festivais.
Trata-se de um novo mercado global, impulsionado pela geração millenial, dando continuidade ao legado que os jovens da geração baby boomer ajudaram a criar nas décadas de 60 e 70.
Diferente da geração de seus pais, porém, esta nova leva de frequentadores de festivais tem a Internet e as redes sociais do seu lado.
Pela primeira vez, é possível ir sozinho a um festival de música e estar em contato com seus amigos a um clique de distância (desde que a rede do seu celular esteja funcionando e a bateria carregada). Também é possível acompanhar um festival pelo streaming e redes sociais sem ter que pisar nele.
O Snapchat revolucionou a forma como acompanhamos um festival (veja aqui: Assista a Um Festival Pelo Snapchat), tanto que o Instagram literalmente copiou sua fórmula de sucesso. Ferramentas e apps de live streaming como Meerkat, Periscope e Facebook Live também contribuem para um novo mundo de possibilidades de experiências de consumo em grandes eventos. Agora imagine como será quando estes festivais começarem a usar a realidade virtual (ou aumentada) para engajarem seus fãs?
Usar o Instagram como métrica para afirmar que as pessoas não valorizam a música hoje em festivais é tão descabido quanto afirmar que todo mundo hoje come mais porque posta fotos de comida ou assistem mais programas de culinária.
A relação que as pessoas têm com as redes sociais não significa que ela deixe de curtir um show e um artista, exatamente como seus pais dela faziam. A diferença é que hoje ela pode se sentir parte daquele momento como antes não era possível. Qualquer pessoa pode hoje eternizar um momento e compartilha-lo com seus amigos (ou seguidores?) ou, se preferir, simplesmente “fazer um snap”, deletando-o da memória 24 horas depois.
E se a questão é musical, porque não usar as redes sociais e aplicativos que colocam música em primeiro lugar – ao invés do Instagram, cuja natureza são imagens e videos?
Porque quase nunca vemos matérias como essa citando quanto o Shazam – app para descobrir músicas – é usado em festivais de música? Ou como estes mesmos festivais vem usando o Spotify para criar playlists que não só apresentam novos artistas aos seus fãs, como também permitem o consumo de músicas em uma velocidade e volume muito maior que gerações passadas poderiam um dia imaginar? Isso sem falar em Apple Music, Tidal, Mixcloud, Soundcloud, Deezer…
O mundo mudou, mas para alguns veículos de mídia ainda não.
Fica para uma próxima geração.