No último final de semana estivemos no Hacktown, um festival de inovação, criatividade e tecnologia que contou com mais de 100 painéis, workshops, shows e palestras – entre elas a nossa. 🙂
Projeto Pulso no Hack Town
Foi uma experiência singular e que pretendemos repetir nos próximos anos. Menos por uma ou outra caraterística individual do evento. Mais pelo “conjunto da obra”, que compreende uma química perfeita entre a cidade, as pessoas e os locais onde as atividades do festival acontecem.
Para entender o Hacktown, é preciso antes conhecer a história de Santa Rita do Sapucaí, uma pacata e charmosa cidade de pouco mais de 40 mil habitantes no interior de Minas.
Santa Rita do Sapucaí
Uma Cidade Abençoada Por Duas Padroeiras
Conhecida como “Vale da Eletrônica”, Santa Rita ganhou este apelido graças aos centros educacionais e empresas dessa área situadas na cidade, como o Instituto Nacional de Telecomunicações (INATEL), onde rolaram as palestras de abertura do festival.
Abertura do Hack Town no anfiteatro da INATEL
Se por um lado a cidade leve o nome da santa das causas impossíveis, dos doentes e das mães, por outro basta perguntar a qualquer nativo sobre quem foi Sinhá Moreira para escutar um relato de admiração beirando a devoção.
Sobrinha do presidente Delfim Moreira, Sinhá foi uma mulher a frente do seu tempo. Filha de fazendeiros e casada com diplomata, teve a sorte de viajar pelo mundo nos anos 30, algo muito raro para a época.
Sinhá Moreira nos anos 30
Reza a lenda – uma cidade de Minas sem lendas não vale a pena conhecer – que em uma destas viagens, no Japão, ela conheceu Einstein, que a apresentou a eletrônica como a ciência do futuro. De volta à Santa Rita, Sinhá foi a principal empreendedora, investidora e defensora para que a cidade se tornasse uma referência na área.
Hoje, além do INATEL, a cidade abriga a FAI – Centro de Ensino Superior em Gestão, Tecnologia e Educação e a Escola Técnica de Eletrônica (fundada por Sinhá Moreira), além de diversas iniciativas de fomento e estímulo à inovação e tecnologia, como o próprio Hacktown.
Hacktown Não é o SXSW…E Nem Deveria Ser
O Hacktown possui um formato descentralizado e espalhados pela cidade, sendo o SXSW a principal inspiração de seus organizadores (leia aqui: SXSW e o Espírito do Tempo)
Muitas das atividades acontecem simultaneamente em locais no mínimo pitorescos, que você só encontra numa cidade do interior de Minas como bares, restaurantes, escolas municipais, centros comunitários etc. Os shows e uma feirinha de comida rolavam na praça central de Santa Rita, que também abriga um charmoso coreto, bancos e jardins além de – é claro – a igreja da cidade.
Não tem como descrever o que é no meio de uma palestra você escutar o apito do trenzinho circulando pela cidade ou uma briga de gatos no telhado de uma das salas. Ou sentar depois de muitos anos numa cadeira escolar, com um lanchinho de frutas cedido pela organização (que vibe!), para escutar um debate sobre como hackear a educação.
Cada palestra um local e uma experiência diferente!
Muito mais que o conteúdo das palestras foram estas as experiências que nos conquistaram, além – é claro – dos encontros inusitados com amigos e profissionais que admiramos fora do dia-a-dia e da pressão da cidade grande.
“De uma maneira geral, na contramão do SXSW, o que mais curtimos foi o clima intimista, sem pressa e não invadido por grandes marcas ou “big names” (ainda) que aquela peculiar cidade de pessoas gentis e acolhedoras nos proporcionou.”
Comida (incluindo insetos!!!), arte e música nas ruas de Santa Rita do Sapucaí
Reflexões Para o Futuro
Embora assumidamente inspirados pelo SXSW, o Hacktown pode e tem potencial para ser um festival muito mais interessante que o festival texano.
Primeiro, por ser Brasileiro. É foda viajar pra fora, conhecer um monte de gente interessante e escutar um monte de novidade vinda dos quatro cantos do mundo. Mais foda ainda é poder viver tudo isso sem sair do país (quem esteve no Rio durante os Jogos Olímpicos sabe do que estou falando).
Segundo, pela cidade. Durante uma das palestras que assisti em uma das edições do Rio Music Conference, escutei uma teoria do “prefeito da noite” de Amsterdam (um cargo que a cidade criou para o profissional que faz a interface entre os interesses públicos e privados do setor de entretenimento da cidade). Segundo ele, eventos como o SXSW (Austin, Texas), C/oPop (Colônia, Alemanha) e o ADE (Amsterdam, Holanda) são grandes sucessos porque acontecem em cidades de pequeno e médio porte. Diferente de grandes capitais como São Paulo ou Rio, que invariavelmente oferecem muitas atividades e cujos interesses políticos são disputados por grupos divergentes, locais como Austin, Colônia e Amsterdam conseguem “abraçar” integralmente o evento, entendendo como eles são importantes para o turismo e desenvolvimento econômico local (o mesmo acontece em Parati com a FLIP ou em Barcelona com o Sónar e Primavera – Leia Aqui Como Ocupar Uma Cidade com Um Festival).
Por fim, porque tudo ainda está começando. E aqui observamos o principal desafio do festival: como crescer sem perder sua essência? Como manter o clima de cidade pequena sem uma invasão de ativações de marcas grandes e ativações milionárias? Como continuar atraindo pessoas interessantes, makers e estudantes, mantendo os preços justos e sem o efeito inflacionário que acontece hoje em Austin, cujo aluguel de um apartamento durante o SXSW no Airbnb chega a ficar 5 vezes mais caro que em períodos fora do festival? Perguntas nada simples de responder…
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Saímos encantados, com vontade de voltar para Santa Rita do Sapucaí no próximo ano. Agradecemos o convite, atenção e carinho da organização e produção do evento, em especial ao Carlos Vilella e Ralph Peticov, sócios do festival.
Que venham suas próximas edições. Longa vida ao Hacktown!