Review: Wired Festival Brasil foca em conteúdo e debate o presente para moldar o futuro


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Com formato mais enxuto e pontual, a 5ª edição do Wired Festival Brasil ocupou a Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, com programação focada em temas atuais como o futuro da comunicação para as marcas, deepfakes e a revolução na produção de alimentos sem carne animal.

Originário da Wired, revista internacional de tecnologia, o evento aconteceu em um único dia (29 de novembro) e atraiu cerca de 2 mil pessoas.

Foto: Diego Moretto

Nesta edição, o foco foi o conteúdo do festival, com palestras e debates de temas que abordam desde assuntos como a diversidade nos quadrinhos até reflexões como a atual desinformação na web.

Destacamos o que mais chamou a atenção no Wired Festival Brasil 2019.

Podcasts e streamings com a corda toda

Já é um fato que os smartphones se tornaram o principal canal de comunicação entre os consumidores. O conteúdo foi ampliado e hoje está acessível a qualquer hora e em qualquer lugar. 

Eu acredito que a informação precisa estar onde as pessoas estão. — afirmou Murilo Salviano, do Isso é Fantástico.

Mas enquanto o podcast está sendo bem consumido pelos jovens, ainda existe uma necessidade de se atingir públicos de idade mais avançadas. Em outra direção, as plataformas de streamings já alcançam uma grande parcela da população brasileira. São dois mercados que estão em vertiginoso crescimento e quem ganha com isso é o consumidor final, com uma gama de opções para adquirir. Segundo Ricardo Dias, vice-presidente de Marketing da Ambev, “marcas devem apostar no entretenimento para gerar engajamento”.

Alimentação do Futuro no Wired Festival Brasil

Foto: Diego Moretto

Um dos assuntos mais debatidos nessa edição foi como iremos repensar a forma como consumimos nossos alimentos, pois já vivemos um colapso. A produção de carne, por exemplo, segue sendo bastante questionada (crueldade contra os animais e nas emissões de carbono, por exemplo). Mas o que fazer?

A palestra com o Marcos Leta, da Fazenda do Futuro, trouxe uma luz à essa questão. Ele falou sobre o processo de criação de seu hambúrguer verde, feito inteiramente de plantas mas que possui textura e sabor de carne) e como tem sido bem aceito no mercado internacional.

A empresa ainda produz outros alimentos nessa linha, como atum e frango. Quando questionado sobre o alto valor desses produtos no mercado nacional, Leta disse que essa é realmente uma dor que eles trabalham para resolver, mas que a baixa procura aliada aos altos custos de produção, refletem nesse preço final.

Foto: Diego Moretto

Também foi debatido o consumo de alimentos feitos com insetos. Essa já é uma realidade em muitos países do oriente, mas de forma ainda artesanal. Estudos têm sido feitos para se processar esses insetos para virarem complemento alimentar, já que possuem ótimas propriedades proteicas, vitaminas e baixa caloria, por exemplo. Paralelo à isso, cientistas estão desenvolvendo técnicas para a produção de carne em laboratório a partir de células de animais. 

A nova medicina e as drogas psicodélicas

Foto: @morettando

Outra palestra interessante foi liderada pelo cientista Dráulio Araújo. O foco foi na riqueza das plantas que compõem o chá de Ayahuasca, por exemplo. Com muita história, ele explicou como essas plantas foram usadas por séculos por curandeiros para tratar doenças em rituais.

Araújo lamentou que, assim como o ativo do canabidiol, esse tipo de medicina ainda sofre represálias baseadas em pré-conceitos que atrapalham o avanço da medicina e da ciência.

A era da desinformação no Wired Festival Brasil

Foto: Diego Moretto

Sem dúvida esse foi um dos assuntos mais debatidos dessa edição. Afinal, 2020 será ano de eleições e já sentimos na pele como as fake news podem atrapalhar esse processo em um país.

O que acontece é que os recursos tecnológicos estão cada vez mais avançados e isso também se reflete nessas chamadas deep fakes. Afinal, como duvidar de um vídeo onde um rosto conhecido fala as coisas mais absurdas e no fim ser tudo uma manipulação?

O jornalista Bruno Sartori introduziu sua apresentação com a pergunta: “Você confia nos seus olhos?”. A jornalista Sônia Bridi disse que as fake news sempre existiram, mas com a internet a proliferação se tornou incansável.

E essa era das deep fakes não afeta apenas a política. Setores como a ciência  e o entretenimento também são alvos constantes de mentiras que se passam por verdades. Quem nunca ouviu falar dos grupos antivacinas? Ou já leu sobre vídeos eróticos manipulados com rostos de celebridades? O terror é real e devemos ficar atentos e preparados para combater.

Pautas sociais não foram esquecidas

Foto: Diego Moretto

Na verdade, o festival abriu o dia com palestras falando justamente sobre a diversidade nos quadrinhos da Marvel (com Sana Amanat, Vice-presidente de conteúdo da Marvel) e o uso da tecnologia contra o racismo.

Sana disse como tentavam convencê-la de que heróis fora dos padrões não vendiam e ela provou o contrário com a Mrs Marvel – sucesso de vendas, a HQ venceu o Hugo Award de 2015 e agora ganhará uma série de TV no Disney+.

Filha de imigrantes paquistaneses, a americana chamou a atenção do mundo ao criar uma personagem muçulmana. A quebra de paradigmas e a empatia serão divisores de água na comunicação nesses novos tempos e isso já reflete no mercado.

O que faltou no Wired Festival Brasil 2019?


Foto: Agência O Globo/Fabio Cordeiro

Não tivemos muitos pontos negativos nesta edição do festival.

O formato pocket ajudou na dinâmica e na coesão entre as palestras. Mas dois pontos poderiam ser facilmente revistos ou melhores trabalhados. O primeiro foi a confusão na programação. Apesar dos motivos terem sido explicados no dia, atrapalhou bastante – sobretudo os desavisados. Palestras atrasaram e/ou mudaram de horário, mas o timetable na frente de cada sala continuava com a programação anterior. As mudanças foram avisadas no Facebook, mas fica a sugestão de criação de uma conta no Twitter para essas finalidades. É a melhor rede para isso – até para uma cobertura do próprio festival, porque não? 

Além disso, como um festival que tem a tecnologia como um dos pilares não tem a opção de WiFi? Senti falta de algumas ativações e experiências também, mas entendi que não era a opção dessa edição. 

O Wired Festival Brasil é um festival de inovação necessário, que olha para o passado e para o presente para pensar e moldar o futuro.

Os assuntos tratados merecem ser debatidos, e a variação de temas foi uma estratégia ótima para se aproveitar todo o dia. A escolha da Cidades das Artes como casa foi certeira e pode se repetir nas próximas edições, com mais assuntos para se colocar na mesa, mais debates e discussões para um futuro melhor para todos nós.

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