Review: TribalTech Evolution 2015


Assine a Cápsula, nossa newsletter para mentes inquietas em busca de inspiração

[mautic type="form" id="1"]
Compartilhe esse artigo
[addthis tool=”addthis_inline_share_toolbox_2jg5″]

Em nossa relativamente nova – e tímida – cultura nacional ao redor dos festivais de música, a presença das marcas estrangeiras é um bem-vindo desafio à velha tradição brasileira segundo a qual o que vem de fora é sempre melhor. Não faltam bons exemplos de grandes festivais nascidos e criados no país e que, ao contrário dos seus pares internacionais, possuem lugar cativo e insubstituível no coração do público.

A TribalTech é um bom exemplo disto: o festival que acontece há 12 anos em Curitiba cresceu organicamente de uma pequena rave de psytrance para se tornar o maior evento independente de música eletrônica do Sul do país. Após um intervalo no ano de 2013, a festa anunciou um retorno ambicioso: uma trilogia de festas nos anos seguintes sob a temática de “Renascimento, Evolução e Fuga”, ou “Reborn, Evolution and Escape”.

12118838_1082521181758058_8652150845676704729_n

Assim, 2014 viu o renascimento da festa superando expectativas ao realizar uma edição de não grandes, mas imensas proporções: quase 25 mil pessoas se dividiram em nada mais nada menos do que 12 palcos para assistir a mais de 120 atrações nacionais e internacionais. A repercussão beirou a unanimidade: a profusão de sorrisos que se viu no dia 11 de outubro de 2014 se converteu em elogios por toda parte (de artistas, público e saff) e o evento ganhou o “Prêmio RMC” na categoria de melhor festival do ano. Diante de tamanho sucesso, como seria a sequencia?

12115437_1082521105091399_6018456466057753459_n
Boris Brejcha

A resposta veio no último feriado da padroeira com um roteiro cercado por suspense, drama e aventura. A edição “Evolution” espichou o festival para dois dias, diminuiu a quantidade de espaços e manteve a promessa de curadoria e cenografia caprichadas. Contudo, um elemento de última hora pretendia literalmente jogar água no chope do festival: a semana que antecedeu o feriado registrou chuvas torrenciais em todo o sul do país, e Curitiba estava na rota da frente fria.

nublado

No dia 10 de outubro, primeiro dia da festa, entretanto, nenhuma gota d’água caiu no gramado da Heimari, fazenda que recebe a TribalTech desde sua primeira edição. O céu permaneceu nublado e foi fácil se divertir: com menos pistas e uma disposição mais compacta do que em 2014, caminhar entre os palcos não cansava e deu pra curtir numa boa ótimos shows como o do trio PillowTalk na Pista Warung e o da dupla Tiger&Woods na Pista Vibe. O palco principal permaneceu lotado e viu sets empolgantes de artistas nacionais como Gabe, Vintage Culture e Volkoder – reflexo do excelente momento que a produção nacional atravessa. O canadense Mathew Jonson e os franceseses do dOP fizeram duas das apresentações mais festejadas pelo público: ambos tocaram na Pista Vibe e dosaram energia e consistência com raro equilíbrio, mostrando porque são considerados grandes lives da eletrônica atual. Eram quase duas horas da manhã de domingo quando a primeira etapa de festa chegava ao fim: era hora de ir descansar!

pillowtalk
Pillowtalk, sempre um prazer aos ouvidos
matthew
Matthew Johnson

No domingo, a chuva começou perto da hora do almoço e, infelizmente, não deu trégua: alternando entre grandes e imensos volumes de água ela sinalizava o desafio que seria vivenciado horas mais tarde. Chegando à festa, o resultado era o esperado: o acúmulo de água transformou o imenso gramado em lamaçal e capas de chuvas eram imprescindíveis pra transitar entre os palcos.

lama

Sob a proteção das tendas, entretanto, o clima era outro, e tanto na Warung como na D-Edge sets inspirados foram ouvidos. Novamente os brasileiros representaram muito bem com Albuquerque, Flow&Zeo, Elekfantz, Renato Ratier e Davis em grandes momentos de catarse pista-artista. Os alemães Marcos Resmann, Mathias Meyer e Roman Flugel tocaram em sequência e se pôde ouvir durante seis horas consecutivas uma miscelânea muito bem cadenciada de sonoridades mais atuais da House Music – um deleite para os ouvidos.

brasil
Os DJ brasileiros fazem a festa – eles merecem

O palco principal do evento teve sua configuração alterada: após os sets de Carl Craig e Oxia a situação climática foi ficando crítica e poucas pessoas se dispunham a se aventurar sob a chuva intensa e sobre a lama escorregadia. A organização do festival então optou por transferir as apresentações de Dubfire, Gaiser, Rodhad e Chris Liebing para as tendas – o que foi comunicado nos telões de LED mas infelizmente não foi observado por todos os presentes. Dubfire e Liebing tocaram na Pista Warung e Rodhad e Gaiser na D-Edge, e em todos os sets o Techno mostrou sua boa e velha força em nova roupagem: os artistas roubaram a cena e deram ainda mais evidências de como o estilo segue em alta.

liebing
Chris Liebing, para sempre ícone do techno underground

É da natureza dos eventos de grandes proporções a capacidade de gerar as mais distintas percepções no público. Com variáveis tão incisivas como o clima adverso e a mudança dos artistas de palcos, a TribalTech Evolution certamente terá repercussões variadas entre público, artistas e staff – cenário oposto ao observado na edição Reborn.

Era comum ouvir durante todo o domingo que a chuva teria “separado” as pessoas de acordo com o grau de sua paixão pela música.

Por mais rasa e simplista que seja esta análise, ela revela com inegável precisão o acordo tácito fechado entre todos que resistiam na manhã de segunda-feira: ignorar a chuva e vencer a queda de braço com o tempo dançando e se divertindo – e o fato de artistas como Dubfire, Mathias Meyer e Ellen Alien permanecerem no festival assistindo aos outros sets foi emblemático disto.

12109013_1081595095184000_3686674957670090459_n

Renascida, com tantas lições a evolução completa da TribalTech certamente só será conhecida no escape de 2016!

*João Anzolin mora em Curitiba, é sócio-diretor da Hot Content e esteve envolvido na organização da Tribaltech.

**

Nota Pulso

Abaixo, segue o comunicado que a TribalTech realizou em sua página no facebook, se desculpando aos fãs pelos transtornos que ocorreram nesta edição. Nós, do Pulso, somos eternamente agradecidos pela inspiração e perseverança deste crew. Sabemos como é dificil produzir um festival no Brasil, ainda mais em condições tão adversas. Estamos na torcida para que o fechamento da trilogia esteja à altura do trabalho duro – e muitas vezes invisível ao grande público – que esta equipe sonha em nos proporcionar.   

“Gostaríamos de agradecer a todos que fizeram parte da TribalTech Evolution – e também pedir sinceras desculpas. O cancelamento de artistas no sábado e as condições climáticas do domingo causaram transtornos à produção, ao terreno onde a TribalTech acontece e ao público, e admitimos que mesmo com todos os nossos esforços para solução dos problemas, sabemos que não conseguimos garantir uma experiência satisfatória para todos. Entretanto podemos garantir que fizemos tudo que esteve ao nosso alcance para beneficiar o maior número de pessoas possível e preservar o melhor ambiente para a apresentação de cada artista.

Ainda assim, a disposição e energia de todos os envolvidos – artistas, colaboradores e principalmente cada um de vocês – superou eventuais dificuldades e resultou na realização de um evento lindo, digno do tema “Evolução”. Foram horas e horas de boa música, sets inspirados e momentos inesquecíveis. Agradecemos a cada um daqueles que encarou a adversidade, a chuva, o frio e a lama com um sorriso no rosto e a determinação de curtir apesar de todos os pesares. Vocês são dos nossos!

Como um festival independente preocupado em entregar o melhor para cada um de seus participantes, gostaríamos de pontuar algumas situações ocorridas durante a festa:

CANCELAMENTO DE ARTISTAS:

Stimming, Coblestone Jazz, Derrick Carter e Atmos não puderam comparecer ao festival. Em todos os casos a TribalTech se exime de qualquer responsabilidade pela ausência destes artistas e garante que esteve fora do nosso alcance mudar a decisão dos mesmos. Caso os fãs que se sentiram prejudicados desejem, recomendamos que entrem em contato com os próprios artistas ou suas agências sobre o assunto.

TRANSPORTE GRATUITO:

A exigência do cadastro para o transporte gratuito era necessária já que a organização precisava mensurar a quantidade de pessoas que precisariam deste serviço para poder organiza-lo a tempo. Este cadastro foi anunciado com antecedência nas redes sociais do evento e deveria acontecer até o dia 05/10. Sabemos que algumas pessoas perderam a data do cadastro e ficaram sem o benefício ou não receberam o e-mail com o ticket de confirmação. Gostariamos de esclarecer que mesmo sem o ticket havia no local de saída um controle que permitia a entrada de pessoas que estivessem cadastradas. Para quem não conseguiu se cadastrar no transporte gratuito, havia também a opção de vans pagas exclusivas para o evento.

VANS:

Sobre a falta de vans nos pontos de saída do evento e de Curitiba no domingo, avisamos que houve um boicote inesperado por parte dos taxistas, que forneciam informações erradas, bloqueavam a entrada das vans no evento e a chegada das mesmas na praça Eufrásio Correia, com o intuito de fechar corridas individuais. Apesar do pedido de apoio da Policia Militar na solução deste problema, muitas vans atrasaram na chegada ao festival e partiram de Curitiba de um ponto localizado a duas quadras do local estipulado. Foram enviados emissários para avisar esta mudança ao público, mas os mesmos, ao serem identificados, sofreram ameaças dos taxistas e assim, algumas pessoas não conseguiram ser avisadas sobre a mudança do local. Pedimos desculpas também por este transtorno e garantimos que vamos melhorar o sistema na próxima edição do evento. Importante informar também que estamos tomando as medidas judiciais cabíveis contra o Sindicato dos Taxistas, já que os meios de transporte envolvidos com o evento estavam totamente regulamentados com a Urbs e o Setran, e não poderiam ter sido alvo deste boicote.

TROCA DE PALCOS NO DOMINGO:

Na visão dos idealizadores do festival o palco principal é o coração de um evento e deve, sim, necessariamente ser aberto – principalmente pela magnitude de tudo que ele representa. Frente à quantidade de chuva, ao frio e ao número mínimo de pessoas que resistiam neste espaço e pensando também em atender ao pedido dos próprios artistas, uma decisão dificil teve de ser tomada. Foi pensando em abrigar o maior numero de pessoas possível nas tendas que tinhamos e assim garantir uma melhor apresentação para os artistas que transferimos Dubfire, Gaiser, Chris Liebig e Rodhad para os palcos Warung e D-Edge.

Todas as trocas foram avisadas no painel de LED do palco principal e também membros do nosso staff avisaram pessoalmente a maior quantidade de pessoas dentro do camarote principal. Assumimos o risco de não poder abrigar todas as pessoas dentro dos camarotes Warung e D-Edge, porém pensamos em abrigar o maior número possível de pessoas dentro das tendas. O risco de uma superlotação destes 2 camarotes era muito grave e por este motivo, em alguns momentos quando atingida a quantidade máxima de pessoas suportada pela estrutura, as entradas foram travadas. Porém isso aconteceu apenas em poucos momentos da apresentação do artista Dubfire. TODOS os artistas internacionais se apresentaram no domingo. Funky Fat, Digitaria e Rolldabeetz que tocariam no Palco Florest Gump, ficaram sem se apresentar, pois o palco teve que ser desativado para garantir a segurança de todos. Agradecemos a compreensão dos artistas e seus fãs pelo ocorrido.

Gostaríamos, assim, de pedir desculpas ao nosso público mais uma vez e também agradecer pela garra com que todos enfrentaram as adversidades encontradas nesta edição. O país atravessa um momento difícil e para a organização foi uma luta bastante árdua conseguir entregar este evento nos moldes que havíamos planejado, cumprindo com o acordado com todos os artistas apesar da absurda alta do dólar, da crise instaurada no país e por fim, da chuva.

A Tribaltech se assemelha muito a estas 7 mil pessoas que aguentaram firmes em um dia muito adverso pelo amor à música. O nosso caminho é longo, nunca fomos pela estrada mais fácil e nunca contamos com ajuda de nenhuma corporação (seja pública ou privada) – mesmo assim estamos aqui há mais de 10 anos fazendo um festival um pouco diferente para os padrões brasileiros e continuamos acreditando que SIM, ISTO VALE A PENA!”

Assine a Cápsula, nossa newsletter para mentes inquietas em busca de inspiração
[mautic type="form" id="1"]

Cinco anos de pesquisa e conteúdo sobre a cultura dos festivais.

@ØCLB / Pulso 2020. Todos os direitos reservados