SXSW, Ultra e Tomorrowland Winter cancelados! Entenda os efeitos do coronavírus na indústria do entretenimento


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Além de ter causado a morte de milhares de pessoas ao redor do mundo, os efeitos do coronavírus também têm deixado as suas marcas na indústria do entretenimento, sendo responsável pelo cancelamento ou adiamento de eventos, filmes e turnês de artistas.

Chineses vestem sacos para se proteger do coronavírus

Bolsas no mundo inteiro despencaram e o Real foi a moeda mais desvalorizada do mundo. Centenas de vôos foram cancelados. Cidades como Milão ficaram isoladas. E até os jogos Olímpicos de Tóquio correm o risco de serem adiados (ou cancelados).

Junto com o turismo, que já estima um prejuízo de US $ 30 bilhões somente no setor da aviação, a indústria do entretenimento é a que mais vem sendo afetada pelo escalonamento dos casos do coronavírus. 

Esses foram os últimos grandes eventos impactados:

  • Ultra (Miami, EUA, de 20 a 22/03). No será realizado pela primeira vez em 21 anos. Foi o primeiro grande festival de música a ser cancelado por causa do coronavírus
  • SXSW (Austin, EUA, de 12 a 21/03). Maior evento de inovação do mundo, que recebe cerca de 280 mil pessoas por edição, e que em 34 anos nunca deixou de acontecer. Foi cancelado logo em seguida do Ultra, na sexta-feira de 06/03.
  • Tomorrowland Winter (Alpes da França, 14 a 21/03). O novato da lista realizaria sua 2ª edição em 2020. 
  • Coachella (Indio, EUA, 12 a 19/04). Adiado para outubro.

 

Além dos eventos, esses são alguns dos shows e turnês já alterados:

  • A banda de K-Pop BTS cancelou todas as suas apresentações em sua terra natal, na Coréia do Sul.
  • Mariah Carey adiou seu show no Havaí de 10 de março para dezembro de 2020 (alegando “envolvimento de restrições internacionais em viagens”)
  • Diversos outros artistas adiaram apresentações previstas na Ásia: Khalid, Slipknot, White Snakes, Stormzy, Green Day e Avril Lavigne são alguns destes.

O ritmo frenético dos cancelamentos e adiamentos fez com que alguns sites de notícias como os da Ad.Age e IndieWire criassem páginas de atualizações para mapear em todo o mundo os efeitos do coronavírus na indústria do entretenimento. 

Outros sites como o Is It Cancelled Yet (Já foi Cancelado?) foram criados para debochar ou tirar proveito deste momento de histeria coletiva onde a nova ordem mundial é se isolar e não frequentar locais ou eventos públicos. Ou seja… voltar ao tempo das cavernas.

Afinal, como começou essa cascata de eventos cancelados? Até que ponto se justifica os cancelamentos? E o que podemos esperar como mudanças na indústria do entretenimento daqui em diante?

Efeitos coronavírus: como começou a cascata de cancelamentos?

 

Depois do Mobile World Congress (MWC) – um dos maiores encontros do mundo da indústria da telecomunicação – ter sido o primeiro evento de tecnologia a ser cancelado no início de fevereiro, foi a vez do Facebook e Google cancelarem seus encontros anuais com desenvolvedores (anunciando uma versão transmitida online). 

Na sequência, Facebook e Twitter, fizeram uma declaração quase que conjunta retirando-se do SXSW, ao mesmo tempo em que “recomendavam que todos os seus funcionários não participassem desse evento”

Nota do autor: é curioso notar que as duas empresas mais responsáveis pelo momento mais sensível e conturbado da história de fake news e desinformação nas redes sociais foram justamente as primeiras a fazer declarações oficiais sobre o seu cancelamento no SXSW. O que elas perdem com isso? Quase nada. O que ganham? Muito. Afinal, ambas lucram com a quantidade de tempo que você e eu passamos dentro de suas plataformas produzindo conteúdos, compartilhando links e discutindo os assuntos polêmicos que serão estrategicamente colocados no topo das nossas timelines. Como o coronavírus.

Enfim, a repercussão do cancelamento das duas empresas de tecnologia no SXSW fez com que outras como TikTok, Microsoft, LinkedIn, Amazon e Netflix seguissem seus passos e se retirassem do festival. A última empresa a sair antes de fechar as portas foi a Apple, que lançaria no SXSW o documentário sobre os rappers Beastie Boys, dirigido por Spike Jonze (um dos palestrantes do festival).

Beastie Boys Story seria lançado no SXSW
Beastie Boys Story seria lançado no SXSW . Photo by Atiba Jefferson.

Vale lembrar que o SXSW é um evento de 10 dias, dividido em um festival de inovação e tecnologia (Interactive), mas também de música e filmes. Com saída da Netflix, Amazon e Apple, uma parte dos lançamentos de filmes esperados durante o festival foi prejudicada.  Mas o festival de música do SXSW – e seus mais de 2.000 artistas confirmados – não havia sido ainda impactado.

Isso, até o Ultra ter sido cancelado pela prefeitura de Miami. Em seguida, na mesma semana, foi a vez da prefeitura de Austin comunicar o cancelamento do SXSW.

O comunicado do festival diz que a produção está explorando opções para reagendar o evento e trabalhando para fornecer uma experiência on-line virtual do SXSW o mais rápido possível para os participantes de 2020″. Os ingressos comprados não serão reembolsados. Eles serão válidos para trocas por qualquer uma das próximas três edições do festival.

Nos grupos de WhatsApp de Brasileiros, que seria a maior delegação internacional desse ano, muitos estão enfrentando problemas para conseguirem cancelar suas passagens e hospedagens.

Enquanto isso, a prefeitura de Austin e a organização do SXSW estão fazendo um apelo para os moradores da cidade ajudarem a levantar a economia local. O movimento Stand With Austin foi criado 3 dias depois do cancelamento do evento, inclusive pedindo arrecadações para um fundo que vai dar suporte para clubes, bares e restaurantes que dependem da organização do festival para sobreviver.

Até que ponto se justificam os cancelamentos? 

 

No caso do SXSW, foram os próprios moradores de Austin quem começaram um baixo-assinado que chegou a recolher mais de 50 mil assinaturas para o evento não acontecesse nesse ano.

Influenciadores digitais como o célebre autor Tim Ferriss (Trabalhe 4 Horas por Semana, Tools of Titans) apoiaram o movimento, anunciando sua retirada do evento, logo depois que o CEO do Twitter Jack Dorsey comunicara o seu cancelamento nessa edição. 

Houve uma enorme pressão popular para que o evento não acontecesse, que foi se acumulando a medida que as gigantes da tecnologia e do streaming começassem a debandar em marcha do festival.

A decisão do cancelamento provavelmente passou por uma minuciosa matemática financeira, que envolve seguros, advogados e uma longa discussão sobre o que fazer para comunicar o cancelamento do evento para dezenas de milhares de turistas, que já tinham comprado suas inscrições, passagens aéreas e feito reservas em hotéis da cidade.

Vale dizer que especialistas em seguros afirmam que a probabilidade de um evento receber reembolso caso seja cancelado pela própria organização é mínima. Eles tem que esperar (ou torcer) serem cancelados pela política local. E foi exatamente isso o que aconteceu com o SXSW, Ultra e Tomorrowland Winter. 

Até a prefeitura de Miami cancelar o Ultra, ainda não havia um festival de música que houvesse sido cancelado. 

Diferente do SXSW, que tem um impacto de US $ 356 milhões anuais para a cidade de Austin, o Ultra não tem a mesma relevância econômica para Miami.

Além disso, o festival de música eletrônica representa uma dor de cabeça para o poder público local. O festival tem uma mancha em seu passado, relacionado a fatalidades de seus frequentadores decorrentes de abuso de drogas. Em 2019, o evento foi “convidado a se retirar” do local onde sempre foi realizado pela prefeitura de Miami, sofrendo muitas críticas de seus participantes. Em 2020, a organização do evento prometeu que voltaria a ser realizado no centro de Miami, mesmo contra a pressão dos moradores do local. 

Vale destacar que outros festivais como o III Points (1º de Maio) e dezenas de eventos esportivos que reunem milhares de pessoas não foram cancelados em Miami. Assim como não foram fechados os seus aeroportos, outlets e shopping centers, onde transitam dezenas de milhares de pessoas todos os dias. 

É de se estranhar que justamente o Ultra tenha sido o primeiro festival de música a ser cancelado até agora nesse ano. Na sequência, o Tomorrowland Winter. Ambos festivais de música eletrônica, que carregam o estigma da associação com drogas sintéticas e clima hedonista.  

Será que Coachella, Lollapalooza, Primavera Sound e demais grandes festivais de música sofrerão o mesmo destino?

ATUALIZAÇÃO (10/03): Coachella e Stagecoach estão adiados para outubro de 2020 (saiba mais).

Efeitos do coronavírus na indústria do entretenimento. O que muda?

 

As conferências de tecnologia foram as primeiras a serem canceladas, adiadas ou transmitidas integralmente de forma online.

Aqui, já fica um sinal claro de como essas empresas estarão cada vez mais se preparando e investindo em tecnologias de streaming. 

Outra mudança significativa que podemos esperar no futuro diz respeito às cláusulas de seguros relacionadas a turnês de artistas e produção de eventos.

A revista norte-americana Variety, especializada em entretenimento, publicou um extenso artigo com a opinião de alguns gestores de fundos de seguros especializados na indústria do entretenimento. 

Adam Siegel, representante da companhia de seguro que atende o Ultra, disse que o festival de Miami pode acabar influenciando outros, já que criou o precedente para os demais seguirem. Afinal, nenhum deles quer ser conhecido como o epicentro de uma epidemia. 

Porém, essa não é uma decisão unilateral do evento. É algo que deve vir como um top down, ou seja, é o governo quem vai tomar a decisão de cancelar ou não um evento. Caso contrario, o seguro não cobre. Essa é provavelmente uma das razões pelas quais o SXSW foi cancelado tão tarde (uma semana antes de começar)

Outro aspecto interessante que o artigo comenta é que a partir de agora os seguros vão se desenvolver e se adaptar. Depois do atentado nos Estados Unidos do Onze de Setembro, os seguros começaram a incluir a cobertura contra terrorismo. É provável que agora venhamos a esperar novas modalidades de seguros que cubram “doenças contagiosas”, como o coronavírus.

No caso dos artistas, os mais afetados são os menores, porque os grandes já possuem contratos com cláusulas muito “folgadas”. Não é raro lermos noticias de nomes como Cardi B ou Drake cancelando um ou outro shows por aí em festivais por motivos nem sempre claros. 

Os mais afetados, como sempre, são os produtores dos eventos, que investem tempo e dinheiro em marketing, pagam por estruturas fixas e equipes, muitas vezes muito antes do tempo de suas produções. O risco maior é sempre deles.

Ainda vamos ver muitas novas cenas sobre os efeitos do coronavírus na indústria do entretenimento.

Para quem ainda está preocupado com as consequências da epidemia que vem assolando o mundo, vale a pena observar um pouco de perspectiva histórica. Recentemente, o escritor israelense Yuval Harari (Sapiens, Homo Deus etc), disse em entrevista para a a BBC:

“Mesmo na Idade Média, quando você não tinha aviões e trens, epidemias como a Morte Negra se espalharam por continentes inteiros […] Se você realmente quer se isolar, você não precisa viver como na época medieval. Não precisa voltar para a Idade da Pedra. O verdadeiro antídoto é uma cooperação global mais estreita para que os países possam compartilhar informações de forma mais eficiente, em que todos possam aprender com a experiência das primeiras vítimas, confiar uns nos outros e, o mais importante, ajudar uns aos outros também.”

Pelo bem do entretenimento – e principalmente para o seu também – não faz o menor sentido parar suas vidas. Lave bem as mãos, tente comprar um álcool gel para levar consigo e usá-lo constantemente, e evite colocar mãos sujas nos olhos e no rosto.

A melhor forma de combater o coronavírus não é se insolando. É fazendo o básico. Sendo consciente e higiênico.

Como diria o ditado… O show precisa continuar.

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