Sustentabilidade em eventos: isso é possível?


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Sustentabilidade é muito, mas muito mais do que eliminar canudos plásticos ou fazer reciclagem de latinhas. Uma palavra que envolve inúmeras ações de gestão e processos, mas, acima de tudo, mudança de pensamento não só de quem produz eventos, mas também de quem participa. 

No fim do ano passado eu tive a oportunidade de trabalhar com a ONG A Greener Festival, que é uma das principais referências em ações de sustentabilidade tanto para festivais quanto para eventos esportivos, conferências, teatros e casas de espetáculos. 

Ao longo de mais de doze anos de atuação eles desenvolveram um modelo bastante completo para avaliar, medir e também sugerir ações mais sustentáveis em eventos, baseado em quase 200 parâmetros (!!!)

Resumidamente, como funciona?

Antes, um lembrete: se você é um profissional das indústrias criativas e de entretenimento, gosta de viajar e quer aprender mais sobre sustentabilidade, criatividade, inovação, comunicação, cultura e comportamento, clique aqui para saber mais sobre o ØCLB Journey, nosso programa de imersão em festivais internacionais.

Trabalhando como voluntária no festival tailandês Wonderfruit, nosso trabalho se organizou em três etapas:

1. Pré-evento. Estudo e avaliação de todas as iniciativas propostas pelo evento, certificações, documentos, etc.

2. Durante. Observação e verificação da aplicação das iniciativas e qual a resposta do público a elas.

3. Pós-evento. Análise dos dados após o evento — quantidade de resíduos gerada e quantidade emissões de CO2, por exemplo — para discutir sugestões, melhorias e recomendações para ações futuras. 

Claire o’Neil, uma das fundadoras do A Greener Festival Awards

O que é um evento sustentável?

A ideia por trás de todo o processo de análise e avaliação não é ser o evento mais sustentável, mas sim ser o mais sustentável possível, dentro do contexto onde o evento está inserido. Por exemplo, um festival na Noruega tem um contexto social e políticas ambientais completamente diferente de um evento no Brasil.

E ser o mais sustentável possível parte do princípio de mapear e entender os impactos causados pelo próprio evento e, então, criar estratégias para diminuí-los.

Há quem ainda acredite que ser sustentável é fazer tudo exatamente do mesmo jeito, avaliar as emissões de CO2 (em atividades como transporte, geração de energia e resíduos, por exemplo) e comprar créditos de carbono (plantando árvores) ao final para neutralizar as emissões. Ou reciclar os copos de plástico.

Embora essas sejam ações importantes, elas não podem ser isoladas. É preciso pensar em sustentabilidade de forma sistêmica e holística em toda a cadeia produtiva, do planejamento à execução, incluindo mudança de hábitos e colaboração, não apenas da equipe de produção, mas também do próprio público.

Alguns itens para pensar. Tem mais! E podemos conversar sobre, se você tiver interesse.

. Transporte

Um dos principais impactos, pode ser responsável por mais de 90% das emissões de CO2 de grandes eventos e turnês mundiais. Pense assim: quanto mais gente viajando, quanto mais equipamentos sendo transportados e quanto mais longe a viagem, maior o impacto. Bandas e artistas estão também se mobilizando nesse sentido. No ano passado o Coldplay anunciou uma pausa em suas turnês para buscar e criar alternativas menos impactantes em suas viagens. Recentemente, a banda Massive Attack anunciou um estudo com um centro de pesquisas em mudanças climáticas para criar um mapa de emissões relacionadas a turnês de bandas e eventos. Já o Jack Johnson é um artista que há alguns anos já vem implementando projetos ambientais e sociais em suas turnês, além do DJ e produtor Eli Goldstein, do projeto Soul Clap, que comanda a iniciativa DJs for Climate Action

O público também produz uma fatia grande dessas emissões. Imagine o custo ambiental de 100.000 pessoas, durante 10 dias, indo e vindo da Cidade do Rock durante o Rock in Rio? Tudo isso precisa ser levado em conta. 

. Resíduos

Engloba todos os restos que podem ser encaminhados tanto para reciclagem ou reaproveitamento. Os desafios nesse setor são: 1) diminuir a quantidade total de resíduos produzidos especialmente com o fim do uso de materiais descartáveis, como plásticos. No final do ano passado, 1.500 DJs assinaram uma petição para o banimento de plásticos descartáveis em eventos noturnos. O reaproveitamento de copos, como Meu Copo Eco é uma iniciativa importante nesse aspecto. Mas precisa também ser avaliada em conjunto com distribuição de água gratuita, opções alternativas para venda de garrafas de água (que não de plástico) e reciclagem de latinhas e garrafas de vidro.

No festival Wonderfruit, os participantes precisavam levar de casa um copo de outro material que não plástico. Não havia distribuição de tipo algum de copo nos bares. Sem copo, sem drink. O ponto é que, mesmo diminuindo o volume total, a porcentagem de materiais recicláveis e reaproveitáveis precisa ser também considerada. Por exemplo, no reaproveitamento de estruturas de cenografia — outro grande ponto do Wonderfruit!

. Sustentabilidade também é social 

As relações de trabalho são ponto importante e fundamental para a aplicação de ações eficientes. Relações com comunidades onde os eventos acontecem. Qual o efeito dos grandes eventos com relação a poluição sonora e transtornos de trânsito para os moradores do entorno? Condições de acesso e visibilidade também. Em Brasília, o Festival CoMA abre vagas para pessoas com deficiência trabalharem durante o festival. A busca por lineups mais diversos e mais equilibrados entre gêneros também é uma preocupação de iniciativas como o Keychange, que já conta com a participação de alguns festivais brasileiros.  

Wonderfruit Festival 2019, visto de cima

Sou público, o que tenho a ver com isso? 

Tudo! O sucesso da maioria das ações implementadas em eventos depende muito da participação e colaboração de sua audiência. Usar transporte público, os especiais dos eventos (como ônibus fretados) ou ainda ocupar os carros com o máximo de passageiros permitidos é uma ação que multiplicada por milhares de pessoas tem um efeito importante.

Colaborar com as ações de separação dos resíduos em lixeiras especiais ou mesmo com campanhas do uso de copos reaproveitáveis (muitas vezes você faz um depósito pelo copo e depois pode receber esse dinheiro de volta no final).

Se você come carne, já pensou em fazer um lanche vegetariano no evento? A produção de carne é um dos grandes emissores de CO2 e aumentar o consumo de comida sem carne nos eventos é uma forma de colaborar que irá ser cada vez mais relevante.

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