Ambos os festivais apostam na música de vanguarda, na arte e na tecnologia. Também acreditam na força da cauda longa, em artistas que representam a soma dos nichos, ao invés dos superstars DJs da EDM, de perfil mainstream e cachês astronômicos. São primos, ainda que distantes, mas com trajetórias semelhantes: nasceram independentes, frutos da paixão de seus fundadores, souberam se adaptar ao longo dos anos sem perder a identidade e cativando uma legião de milhares de fãs.
Porém, enquanto a edição Brasileira do Sónar ainda não convenceu, a Tribaltech já é o mais aguardado – e elogiado – festival de música eletrônica do segundo semestre.
O que aconteceu?
A Expectativa é a Mãe da Merda
Fiquei sabendo da volta do Sónar para o Brasil por vias informais. Imediatamente, me lembrei da edição de 2012, do cancelamento da edição de 2013… pensei: ” – não deve vir como 2012, mas é o Sónar, né?”.
O evento foi confirmado oficialmente no dia 21/05. Uma semana depois, publicaram um teaser sobre o line-up, apresentando a escalação do evento de Barcelona .
No dia 13/06, foi a vez do countdown para anunciar as atrações do festival, com direto à transmissão em coletiva de imprensa ao vivo da edição principal do evento, em Barcelona.
No dia 20/06, conforme prometido, anunciaram as primeiras atrações. E aí começaram os problemas…
- Anunciaram “apenas” 4 atrações. Entre aspas porque, entre elas, estão os Chemical Brothers, que acabaram de lançar um álbum (exatamente no Sónar Barcelona) e que são, sem dúvida, headliners de peso em qualquer grande festival. Mas, por isso mesmo, quando comparados aos demais, a impressão que ficou é a de que faltou alguma coisa… Afinal, Hot Chip é figurinha repetida e Brodinski e Evian Christ praticamente se apagam ao lado de dois ícones da música eletrônica britânica.
- O valor dos ingressos: R$ 550 (inteira) e R$ 275 (meia-entrada) + taxa de “conveniência” de R$ 99 (#wtf?!), assustou muita gente. Que só piorou pelo fato das atrações não serem exclusivas, ou seja, se apresentam no Rio de Janeiro em shows do Queremos. O show do Hot Chip no Rio custa R$ 240 (inteira) e R$ 120,00 (meia). O do Chemical Brothers, R$ 460,00 (inteira) e R$ 230 (meia). Fazendo contas, considerando a viagem pra SP, a quantidade de shows e atrações imperdíveis… Entendeu, né?
- Por fim, depois de quase um mês, no dia 16/07, foram anunciados os esperados nomes que completariam o line-up do Sónar São Paulo 2015: a chilena Valesuchi, o espanhol Pional e o paulista Zopelar. A despeito da qualidade das atrações anunciadas, a massa crítica de comentários na página do festival dá sinais claros que a expectativa do público não foi atendida. Pelo contrário, os posts já não tem a mesma taxa de engajamento e o tom foi do elogio à crítica.
Fazer É Maior Que Dizer
No mesmo mês que o Sónar anunciou suas atrações, a Tribaltech, um festival que nasceu em Curitiba em 2004 com uma forte raiz psicodélica, preparou terreno para a segunda edição da trilogia iniciada ano passado com a edição Reborn (leia aqui nosso review: Tribaltech, o Renascimento).
Começou sua divulgação de forma autoral, com textos nas redes sociais narrados em primeira pessoa, acompanhados de vídeos oníricos e surreais, marcados por uma identidade carregada de tons pós-apocalípticos, reforçando o lado lúdico e tom artístico da produção.
No dia 09 de julho, revelaram não 4 (nem 7), mas 40 atrações. Nenhum à altura do Chemical Brothers. Como a seleção da Alemanha, o time não depende de uma ou outra estrela. Mas a união dos craques é imbatível. A curadoria da Tribaltech, que sempre foi o ponto forte do Sónar, foi exemplar.
E como não se emocionar com o texto de anúncio destas atrações:
Razões Para Acreditar
Apesar das derrapadas, ainda acredito no Sónar. Mesmo.
Uma das surpresas – daquelas que não vende ingresso, mas pode surpreender – é a curadoria de um time brilhante de curadores do Sónar+D. Ronaldo Lemos, Hermano Vianna e Alê Youssef são apresentadores do Navegadores, da Globonews (e se não me engana a memória os dois primeiros também ja assinaram a curadoria do Tim Festival).
Também tem a mostra de filmes, que somados às partes de música e arte+tecnologia (qualquer semelhança com o SXSW não é mera coincidência), promete fazer deste festival algo inusitado para o público brasileiro.
De resto, fica a saudade de um line-up à altura que vimos por aqui em 2004 e 2012 (quem sabe em 2016?).
Enquanto isso, no stress: felizmente, temos a Tribaltech.