Review: Popload Festival 2015 – Uma Celebração à Mistura


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A relação entre o rock e a dance music sempre foi marcada por altos e baixos. Em 1979, frustrado por artistas como Village People, Donna Sumer e Chic serem mais pedidos nas rádios que Led Zeppelin e Rolling Stones, o DJ norte-americano Steve Dahl lançou a campanha “Disco Sucks!”, uma das mais preconceituosas (e mal sucedidas) investidas contra a música de pista feita até hoje.

Em 1986, foi a vez do ícone indie Jim Morrissey, líder dos Smiths, lançar o single “Panic”. Em sua letra, versos como “burn down the disco” e “hang the DJ” davam um recado claro contra a indústria da música pop. O single nunca chegou ao topo das paradas (ficou na 11ª posição) e os anos seguintes, com a explosão da acid house, da música eletrônica e do que ficou conhecido como o segundo “Verão do Amor” (1988), encarregaram-se de derrubar de vez qualquer preconceito em volta da dance music.

Felizmente, o mundo é outro. E o Popload festival veio pra mostrar que a dance music e o rock podem, sim, conviver pacificamente.

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Natalie Prass abre o Popload

Um Festival Para Iniciados

Desde o início do ano, Carol e eu temos frequentados festivais de música no Brasil para entender quem são seus frequentadores, qual a relação deles com festivais e o que torna cada um destes eventos tão especial.

Durante o Popload, entrevistamos várias pessoas para entender suas motivações e como conheceram o festival, entre outras questões.

De todos os os festivais que fomos neste ano, ficou claro para nós que ali havia um público com mais repertório, ou seja, muitos deles já tinham o hábito de ir em festivais e curtiam a experiência do Popload justamente por este ser um evento “intimista e aconchegante” (como o próprio site do festival afirma).

Quando perguntados qual festival eles mais admiravam, era comum escutar respostas como o extinto Tim Festival e o Primavera Sound, que acontece anualmente em Barcelona.

Uma Celebração à Mistura

O público do Popload era misturado como a proposta artística do festival. Onde mais você poderia assistir a um show do rapper Emicida antes do ícone punk Igyy Pop? Ou a dupla Chris & Rich, do Belle & Sebastian, discotecando numa pista enquanto na outra se apresentava o Cidadão Instigado? Entre os nossos entrevistados, houve um positivo consenso sobre a programação musical do evento.

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Belle & Sebastian, um dos melhores momentos do festival
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Emicida rasga o verbo

Sim, a mistura funcionou. Contudo, ao longo das duas noites, também ficou claro que havia um interesse e foco muito maior nos shows e bandas que pelos DJ sets. Estivemos todo o tempo transitando entre ambas as pistas e era evidente a desproporção entre elas. É claro, isso acontece em qualquer festival. Mas, para Carol e eu, que temos uma relação mais íntima com a dance music, deu pena ver em muitos momentos a pista Club às moscas. Eric Duncan, cara metade de ótimos projetos como Rub-n-Tug e Still Going (da DFA) , tocou de forma burocrática para não mais que uns 30 empolgados. A dupla Holy Ghost! também fez um DJ set para uma pista vazia, que só “encheu” quando terminou o show do Belle & Sebastian.

Talvez um caminho para o festival seja explorar os shows em um horário mais cedo e os DJ sets madrugada adentro. Ou o contrário, planejar DJ sets como warm-ups dos shows. O Popload termina cedo e, para muitos, o Club foi tão somente um esquenta para outras festas que estavam rolando na cidade. Não à toa promotoras da D-Edge acumulavam-se na porta na saída do festival com balões de gás de gosto duvidoso com mensagens convidando o público para “curtir o after no club”.

Hang The DJs

O Popload é o que se propõe a ser. Um ambiente intimista, indoor, confortável, sem filas, com muitos banheiros e uma excelente curadoria musical. Porém, para um fã (adulto) da dance music, houve momentos em que a pista Club me irritou seriamente.

A dupla Britt Daniel (Spoon) e Lovefoxxx, por exemplo. Havia uma visível falta de entrosamento entre ambos: uma Luiza empolgada e um Britt com cara de “o que eu tô fazendo aqui?”. Foi um clássico caso de Ipod-shuffle-DJ-set, de músicas desconexas entre si e mixagens toscas.

O DJ set da dupla Chris & Rich, do Belle & Sebastian, também não convenceu. Era uma coleção de hits previsíveis. ‘Our Love’ do Caribou, ‘Good Life’ do Inner City, ‘Over and Over’ do Hot Chip… Pelo menos eles tiveram uma preocupação em mixar as faixas. The Twelves e Holy Ghost! fizeram sets bem parecidos e tecnicamente corretos. Ambos tocaram o excelente remix do soulwax de “Let It Happen” do Tame Impala.

Felizmente, havia Todd Terje. O produtor e DJ norueguês fez uma apresentação inesquecível, daquelas que viram história em papos de pista. Ele tocou vários de seus hits e manteve um pulso firme, alternando synths alegres e coloridos com linhas de baixo gordas e hipnotizantes. Dois momentos que merecem destaque: quando ele tocou um remix de I Wanna Dance With Somebody, de Whitney Houston – o mesmo que ele e Lindstrom tocaram no encerramento do Sónar Barcelona de 2014 – e, claro, quando apresentou ao vivo o seu maior hit, Inspector Norse. Foi sem dúvida a minha apresentação favorita do festival (e, arrisco dizer, do ano também).

Balanço Final

Valeu a pena conhecer o Popload. É um dos poucos festivais brasileiros que conseguiu um raro equilíbrio entre programação artística, locação e público. Sua praça de alimentação era variada e interessante, o chope da Heineken é sempre bem-vindo e as marcas estavam presentes de forma a complementar a experiência do festival. Fiquei com vontade de voltar.

* imagens: Rafael Medina

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