A antiga fábrica de tecidos “Fabra I Coats”, que fica no bairro Santa Andreu em Barcelona foi o cenário do último Mira Digital Arts Festival, que faz jus ao nome, imersão total em artes digitais, música experimental acompanhada de visuais que conversavam totalmente entre si e uma seleção impressionante de artistas de diferentes estilos me deixaram de “boca aberta e cabelos em pé”.
Havia apenas dois stages no festival, o que foi bom, assim os frequentadores podiam explorar as instalações de arte sem estresse e claro, sem perder os concertos.
As instalações artísticas ficavam entre os andares do prédio – uma instalação por andar – ao visitá-las, a sensação era de ser transportado para o futuro. De uma sala cheia de drones dançando de acordo com os movimentos da multidão para uma sala transformada em um mundo digital autônomo de luz e som.
Sem falar na Cúpula 3D patrocinada pela marca Adidas, que ficava na parte de fora dos stages, uma experiência audio visual que eu nunca havia visto até o momento. Claro que tinha fila, mas depois que você entrava, valia o tempo de espera.
Imagina que você entrava em uma cúpula, com pequenos colchões vermelhos no chão, você escolhia um, deitava e ficava olhando para cima vendo uma projeção em 360º de algo que seria impossível descrever com palavras, mas tinha muito a ver com a criação do Universo, pelo menos foi essa a sensação que eu tive. A projeção durava mais ou menos uns 20 minutos!
Todos os shows musicais foram acompanhados por imagens projetadas em enormes painéis de LED com definição perfeita e shows no Main Room.
Este ano, o Mira trouxe uma novidade para os amantes da música de dança (me incluo totalmente nesta categoria), o 3D Sound Room da SON Estrella Galicia, dedicado ao som multidimensional e à tecnologia auditiva imersiva, música eletrônica para aqueles que gostam de sentir as batidas, que saiam de 32 alto-falantes colocados ao redor da sala. Som 3D, de verdade.
No palco principal, o produtor eletrônico e líder da banda, James Holden, apresentou seu último álbum, The Animal Spirits, um trabalho que mistura síntese modular com instrumentos acústicos resultando em uma viagem espiritual trance e jazz.
William Basinski, mestre da música ambiental, realizou seu show dividido em duas partes – Para David Robert Jones e A Shadow in Time – uma homenagem à David Bowie. Shackleton e Anika Henderson se juntaram para criar Behind The Glass.
Tivemos a chance de ver Julianna Barwick, com um ciclo infinito de sintetizadores suaves e vozes que transportavam o público para seus esconderijos mais silenciosos e íntimos.
Entre os artistas que mais me surpreenderam no stage 3D Sound Room, quem se destacou foi a inglesa Kelly Lee Owens, que colocou o público para dançar com suas batidas tecnológicas e explosivas.
Em outro momento, Fantastic Twins, com refinamento e experiência apresentou seu álbum de estréia, Obakodomo.
O DJ Voiski mostrou que é possível encontrar o ponto perfeito entre texturas atmosféricas e ritmos convincentes, fez um set totalmente diferente do set que havia visto no Dekmantel, deste ano, em Amsterdã.
E finalmente, o último DJ da noite de sábado, Ferenc manteve a multidão dançando techno dos bons até as luzes se acenderem. Hora de ir pra casa. Home sweet home!
See you next year!