Um festival de closes certos foi o que vimos em São Paulo, na primeira edição do Milkshake Brasil. O Festival holandês que promove a liberdade e a diversidade fez sua estreia por aqui no dia 16 de junho, trazendo todos os sabores da comunidade LGBTQ.
Diferente da sua forma original, onde predomina um clima de festa no parque de diversões, aqui em São Paulo a vibe foi de balada mesmo, muita ferveção e bateção de cabelo. Nitidamente, o que ditou o tom do evento foi e espaço onde ele foi realizado. E isso funcionou muito bem!
Anunciado anteriormente para acontecer no Autódromo de Interlagos, teve seu local remanejado para o Milkshake Square, um complexo de entretenimento montado especialmente para este festival, formado pela junção de 3 casas noturnas na região da Barra Funda. A produção conseguiu dar uma identidade única a todos esses espaços, somando quatro ambientes: Live Stage, Supertoys, Afrika e Trio Elétrico Stage, além da praça de alimentação com food trucks e amplo estacionamento.
Do ponto de vista estrutural, a mudança de local foi uma decisão muito acertada. Garantiu mais facilidade de acesso por sua proximidade com pontos de transporte urbano, mais segurança, proteção total à chuva e… banheiros de verdade! O terror dos banheiros químicos esteve longe desse festival!
Essa formatação dos espaços chamada de “Milkshake Square”, refletiu diretamente na acessibilidade do festival. Isso por que toda a estrutura já estava lá, as casas noturnas locadas para sediar o evento já possuem os pré-requisitos de acessibilidade. Ambientes planos e lineares, com rampas e banheiros adaptados, apenas um degrau aqui, outro acolá. Aparentemente estava tudo certo para a participação dos PCDs (pessoas com deficiência) nesse fervo todo, mas então esbarramos num close erradíssimo.
Deu-se a impressão que a acessibilidade não foi pensada como um todo, e se escorou apenas no que as casas noturnas já ofereciam. Com isso, duas falhas podem ser apontadas.
A primeira já estava na entrada do evento, pavimentada com pedras de paralelepípedos muito irregulares, sendo obstáculo para quem tem mobilidade reduzida ou mesmo para uma cadeira de rodas transpor esse trajeto.
O segundo foi uma falha inadmissível em qualquer evento: a falta de uma área reservada para PCDs assistirem os shows, especialmente no Live Stage, onde estavam os headliners. Sem o conhecido “cercadinho” para a acomodação das pessoas com deficiência, todos os outros itens de acessibilidade vão por água abaixo, pelo simples fato de que não adianta colocar o deficiente lá dentro e não permitir que ele de fato assista aos shows. Afinal, entre tantos outros motivos, vamos aos festivais principalmente para ver os shows. Can I get a amen?
As áreas reservadas são imprescindíveis, pois sem elas, um cadeirante não consegue enxergar o palco ou uma pessoa com problemas de equilíbrio pode ser derrubada em meio à multidão, entre outras situações que podem ocorrer. Isso tudo, fazendo uma análise restrita à acessibilidade para PCDs com mobilidade reduzida. Nesse ponto, infelizmente o Milkshake Brasil deixou a desejar.
Apesar desse deslize, foi um festival lacrador, cheio de empoderamento e diversão! Um saldo positivo com um público de cerca de 10 mil pessoas, 20 horas de duração, mais de 40 atrações e centenas de performances, tudo numa grande celebração a diversidade. Com certeza todos que estiveram nessa primeira edição estão com um único pensamento para 2018: “Milkshake, SHANTAY YOU STAY!”