Depois de um ano intenso em muitos festivais, Carol e eu tiramos férias em janeiro e viajamos para o México. Entre a nossa programação, estava o BPM Festival 2016 (veja mais: Festivais dos Sonhos – BPM).
O BPM é uma espécie de Copa do Mundo dos DJs e produtores de techno e house. Estavam quase todos os grandes nomes por lá. Dá uma olhada no cartaz do line-up e sinta o tamanho da pressão.
Considerado nos dois últimos anos ‘o melhor festival de Janeiro’ pelo Resident Advisor, o BPM começou em 2008 como uma espécie de encontro da indústria da dance music. O nome do festival é uma sigla para Bartenders, Promoters e Managers.
A cada ano, milhares de clubbers viajam para Playa Del Carmen, um balneário paradisíaco que fica em pleno mar azul turquesa do Caribe. São 10 dias de festival, com mais de 150 DJs em 50 festas diferentes.
Playa é como Búzios (no RJ) ou Arraial da Ajuda (na BA), uma cidadezinha charmosa com uma vida noturna agitada, muitos restaurantes, resorts, gringos de todos os cantos do mundo e uma vibe de paraíso que por si só, já valeria a viagem.
O formato do BPM foi um dos pontos altos para que escolhêssemos este destino como nosso primeiro festival do ano. Ele não acontece no mesmo espaço, tendo um palco principal e outros paralelos.
O BPM é, na verdade, um encontro de várias festas, com capacidades que variam de 3 a 10 mil pessoas, espalhadas em uma dúzia de beach clubs da cidade.
As festas são divididas em 3 horários: das 12h às 21h, das 22h às 6h e, em alguns dias, das 17h às 6h acontece uma espécie de “mini-festival” dentro do BPM. Estas festas, que começavam de tarde e varavam a madrugada, eram as maiores do festival e as únicas que não era possível ir a pé (todas as outras aconteciam dentro do “centro” de Playa del Carmen, a distância de uma caminhada).
Para cada horário destes que comentei, havia pelo menos 3 festas acontecendo simultaneamente, em beach clubs diferentes da cidade.
Ao longo de 10 dias, você podia escolher entre pelo menos 6 festas x dia para ir. Haja disposição!
Boas Vindas e Produção Impecável
Fomos ao BPM convidados pela Pioneer e, assim que chegamos na cidade, buscamos nos credenciar. Após recebermos um livreto com a programação do festival e o flyer com a programação do dia, caminhamos pela cidade e ficamos bastante impressionados com a maneira que o BPM está integrado na programação turística de Playa.
Além das lojinhas oficiais do festival, que vendiam camisas, bonés e acessórios, também havia uma série de camelôs espalhados pela cidade comercializando “versões genéricas” destes produtos. Dezenas de hotéis, restaurantes e até mesmo a lojas de maquiagem MAC exibiam com orgulho em suas fachadas e vitrines um adesivo de ‘estabelecimento parceiro do BPM’.
A estrutura dos beach clubs é profissional e os preços variam de acordo com cada lugar. Uma cerveja custava de 60 a 80 pesos (entre R$ 15 a R$ 20 reais).
Nos chamou a atenção um certo exagero na ostentação (especialmente dos norte-americanos), com mesas carregadas de whiskey e baldinhos de energéticos (nada diferente de algumas festas daqui) e também um serviço de atendimento que consideramos um pouco ‘exagerado’: na maior parte das vezes, você não precisava ir ao bar pegar uma bebida já que vários garçons sempre estavam por perto para te trazer uma bebida (a gorjeta era opcional).
A exceção acontecia em festas muito disputadas, o que não era raro, especialmente nos finais de semana do festival. Se você espera um ambiente exclusivo, com pouca gente e muito espaço pra dançar, melhor se contentar com as festas com menos atrações conhecidas e começando às 12h.
A decoração das festas era simples, o que você pode esperar de qualquer club pé na areia. Mas quem se importa quando nomes como Tiga, Tale of Us, Joseph Capriati, Marco Corola, Dubfire, Richie Hastin, Soul Clap, Nicole Moubader, Jamie Jones, Pete Tong e Art Department tocam há poucos metros de você num visual como este?
Aquela Vibe do Jeito que o Diabo Gosta
A vibe das festas é intensa e raras vezes escutei um som desanimado ou de baixas bpm. Como num desfile de moda, os DJs e produtores fazem questão de apresentar novidades e fazer a platéia enlouquecer. Muitos DJs, como Solomun e Hot Since 82, tocam em mais de uma festa (dia) ao longo do festival.
O ponto mais assertivo do BPM é mesmo sua curadoria artística. Eles são consistentes na entrega. Tudo que você puder pensar de techno e house, tinha lá. Do soulful ao deep house, do progressive ao tribal, do tech-house ao minimal techno, de nomes clássicos das pistas como as lendas Stacey Pullen, Danny Tennaglia, Mark Farina, Sasha e Sneak aos “nomes do momento” (dos 20 Top DJs do Resident Advisor de 2015, metade se apresentou por lá nesta última edição).
Musicalmente falando, é também esta consistência o maior “calcanhar de Aquiles” do festival. Como na época das linhas de produção fordista, em que “todo americano poderia sonhar com um carro, desde que fosse preto”, no BPM você também pode dançar 24 horas por dia, todos os dias da semana, desde que seja techno e house.
Depois de três dias de festival, comecei a sentir uma overdose de variações de um mesmo tipo de som. Não havia (ou não vi, mas procurei) sons mais experimentais, batidas mais quebradas como o trap, dubstep, electro ou mesmo o bom e velho drum and bass. As poucas apresentações ao vivo seguiam a mesma marcha 4X4 que davam ritmo e cadência aos dias do festival.
Para não dizer que não falei das flores, uma apresentação se destacou sobre todas as demais. O duo dinamarquê Laid Back, projeto de 1979 (!) conhecido pelos clássicos White Horse (1983) e Baker Man (1989) apresentou um live consistente com a proposta do lugar, de synths baleáricos e beats orgânicos, com direito a músicas cantadas em coro pela galera.
A dupla se apresentou na festa Crew Love, que também recebeu o Wolf+Lamb, Pillowtalk, No Regular Play e Soul Clap. Este último encerrou a noite com o hit Let’s Dance, de David Bowie (foi também o dia em que nos despedimos do artista). Mais emocionante, impossível.
Pelo conjunto da obra – local, som, pessoas e serviço – esta foi a nossa festa favorita desta edição 2016 do BPM festival.
E que venham os próximos festivais!