Pulso Insights: Um Novo Olhar Sobre O Lollapalooza Brasil


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*Imagem de capa: I Hate Flash

Dizem que a primeira vez a gente não esquece. E não esquece mesmo! O Lollapalooza Brasil foi onde o Projeto Pulso começou, quando reunimos um time de videomakers, trendhunters, data scientists, fotógrafos e pesquisadores para uma pesquisa inédita – em campo e nas pistas – sobre o perfil dos frequentadores de festivais no Brasil.

Passado um ano, retornamos ao Lollapalooza, que aconteceu neste último final de semana em São Paulo. Diferente de 2015, desta vez levávamos na bagagem a experiência e os resultados de um ano de pesquisa, que incluiu não só o Lolla, mas também Tomorrowland, Rock in Rio, Sónar e Electric Daisy Carnival (além do questionário Pulso Zeitgeist 2015 – em breve, + novidades).

A seguir, compartilhamos o que aprendemos sobre o Lollapalooza Brasil e seu público. Vem com a gente!

A Experiência Musical

O gráfico abaixo apresenta a evolução dos gêneros musicais no Lollapalooza ao longo dos últimos 3 anos:

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Podemos observar uma gradativa redução de espaço dos gêneros Rock & Indie Rock em favor da Música Eletrônica e, especialmente nesta última edição, do Hip Hop e Bass Culture (Trap, Dubstep, Grime, Funk Carioca etc).

https://www.youtube.com/watch?v=FbfmRs7MLb8

Assim como acontece no Rock in Rio, o Lollapalooza vem progressivamente investindo em uma maior diversidade de gêneros musicais em sua programação artística, claramente em busca de uma maior variedade e quantidade de público.

Diferente do Rock in Rio, no entanto, contemporaneidade é a palavra que define a curadoria artística do Lollapalooza Brasil.

Enquanto o Rock in Rio continua preso à uma perigosa fórmula de continuar apostando nos (cada vez mais raros) grandes astros da música pop, o Lollapalooza apresenta uma programação artística mais atual, atenta à algumas das principais tendências musicais.

Ficou claro nesta edição, por exemplo, o maior investimento na pista de música eletrônica.

Antes uma tenda fechada, a ex-pista Perry cresceu e virou o Palco Trident, reunindo expoentes artistas do Trap (RL Grime, Flosstradamus), da EDM (Alok, Zeds Dead, Zedd,Kaskade), do house (A-Trak, Duke Dumont) e da nova Música Eletrônica Brasileira (Funky Fat, Groove Delight, Zerb).

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Acima, Tenda Perry em 2015 e, abaixo, o Palco Trident em 2016

Vale lembrar que o G1 fez uma pesquisa para identificar qual foi o melhor show de 2015 do Lollapalooza e os primeiros colocados foram Skrillex (48%), Calvin Harris (16%) e Pharrel Williams (10%). E que o Observatório de Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo fez uma pesquisa perguntando qual era o show mais desejado, apontando Calvin Harris como o favorito do público em 2015, com 41.5% dos votos.

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Imagem: I Hate Flash

A bass culture e o hip-hop também estiveram de forma onipresente no festival. Karol Conka e Emicida se apresentaram no Palco Trident, Eminem no palco Skol e Planet Hemp no Palco Axe (no lugar de Snoop Dog). Somente o palco Ônix, assinado pela montadora Chevrolet, não contou com uma atração deste estilo – mas Diplo e Skrillex, formando a dupla Jack U, encarregaram-se de convidar o funkeiro MC Bin Laden para uma participação especial. Aliás, o funk carioca esteve em evidência nesta última edição do Lolla e o remix que o DJ e produtor carioca Omulu fez de Wesley Safadão também foi tocado pelo duo norte-americano Jack U  no palco mais lotado do festival.

Mas nada representou melhor a contemporaneidade da curadoria musical do Lollapalooza que a apresentação do projeto sul-africano Die Antwoord.

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Ninja e Yo-Landi Vi$$er (Imagem: MRossi)

Hip-hop, hardcore, trap, techno, raggaton… Estava tudo ali, remixado e misturado, acompanhado de um visual agressivo e impactante que apresentava referências do grafite, design, minimalismo oriental, cultura pop, web e Zef. O trio, formado pelos ~rappers~ (?) Ninja e Yo-Landi Vi$$er, acompanhados pelo DJ Hi-Tek, fez uma rave dentro do festival, deixando uma platéia hipnotizada por sua presença de palco e sincretismo estético.

Patrocinadores e Experiências Para Além da Música

Investindo cada vez mais na experiência para além da música, o Lollapalooza ampliou seu Market Place e caprichou nas lojinhas de merchandising, além de contar com seus patrocinadores – Skol, Chevrolet, Axe, Trident, Fusion, C&A e Ray-Ban – para oferecer uma variada opção de passatempos ao público entre um show e outro.

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Lolla Market (Imagem: I Hate Flash)

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Lolla Merchandising

As marcas continuaram com forte presença no Lolla (leia mais: De Indie a Mainstream – Lollapalooza 2015, Um Review Nada Convencional). Observamos, porém, que elas também evoluíram em suas propostas de ativação, integrando-se melhor à paisagem do evento na tentativa de uma comunicação mais adequada ao perfil dos frequentadores do festival.

A Skol, por exemplo, esteva menos ostensiva que em 2015, mas seus mochileiros eram facilmente encontrados no meio da pista e não faltou bebida nos bares. Ponto para a cervejaria, que entendeu que não é preciso gritar para chamar a atenção e melhorar a experiência do público.

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Outra marca que chamou a atenção neste edição foi a Axe. Aproveitando-se da lacuna deixada pela Pepsi como patrocinadora deste ano, reproduziu a lata de led similar a que o refrigerante apresentou em 2015 para lançar a nova embalagem de seu desodorante.

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A campanha “O Cara Do Lolla” foi igualmente pertinente, apresentando uma plataforma de 10m de altura para as pessoas se jogarem em um colchão de ar, chamando a atenção de quem passava por perto, ao mesmo tempo em que proporcionava uma experiência exclusiva.

O comercial que passava nos telões do palco também apresentava uma linguagem jovem, atual e carismática, aquele tipo de filme criativo que ainda dá esperança à propaganda tradicional. Não conseguimos encontrar na web, mas descobrimos de onde veio a campanha original:

https://www.youtube.com/watch?v=WzTSE6kcLwY

Fusion também aproveitou-se do Lolla para apresentar sua nova embalagem, fórmula e campanha, Wake-Up Pra Vida. O energético mostrou uma maior desconexão com o universo da música eletrônica (diferente do que observamos em todos os festivais que estivemos em 2015), buscando agora uma maior associação com o dia, seguindo um movimento global dos energéticos em explorar mais oportunidades de consumo além da noite e balada.

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Line-Up de Comidas: Chef’s Stage e Food Trucks

Embora os food trucks continuassem espalhados pelo festival, observamos uma oferta reduzida de comidas dentro do Chef’s Stage. Durante o tempo em que estivemos no festival, notamos também uma quantidade menor de pessoas circulando neste espaço em comparação com o ano passado.

A caminho do festival, pegamos um Uber e o motorista nos contou que ano passado montou com sua irmã um food truck durante o Lollapalooza. Nos disse que a experiência foi positiva, vendeu muitos sanduíches, porém a metade do previsto, já que havia oferta em excesso para pouca demanda. Por isso, neste ano, recusou-se participar do festival (embora tivesse recebido um convite formal da organização).
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A experiência gastronômica variada foi um dos principais acertos do Lollapalooza nos últimos anos e este festival foi pioneiro no Brasil em trazer food trucks e culinária gourmet para o grande público. Mas, para continuar inovando, vale refletir sobre este aspecto em suas próximas edições. Será que não seria a hora de explorar curadorias temáticas e experiências sensoriais diferenciadas? (leia mais aqui – Será A Comida O Novo Rock n’Roll?).

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Imagem: M. Rossi

Diversidade de Gêneros e Atitudes

Os festivais de música são tradicionalmente reconhecidos como espaço de liberdade onde a juventude se expressa através das roupas ou atitudes. E, no caso do Lollapalooza, esse comportamento é ainda mais evidente.

O discurso de que “aqui posso ser quem eu sou” ou “aqui encontro pessoas com gostos e aparência parecidos comigo” foi muito recorrente nas falas dos entrevistados durante nossa pesquisa na última edição do festival.

Nesta última edição foi muito muito interessante notar como como questões relacionadas à igualdade de gênero foram trazidas tanto pelo público quanto pelo próprio festival.

O público do Lolla mostrou-se alinhado com o movimento global de fluidez de gênero, em que as barreiras estéticas entre o que define “roupa de menino” e “roupa de menina” estão sendo quebradas, em detrimento de um vestuário que também reflita as transições de uma geração mais livre de estereótipos de gênero (veja a ótima Galeria que o I Hate Flash fez por lá).

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O tema também foi presente em diversas ilustrações dos já tradicionais (e sempre super bacanas!) lambe-lambes espalhados por todo o evento.

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Imagem: I Hate Flash

Embora a estética boho de outros tempos e outros festivais ainda esteja presente, inspirações mais recentes em Sportwear e Streetstyle deram um ar mais contemporâneo ao Lolla. Não apenas consequência da própria mudança de sonoridade do festival, que nesta edição esteve mais alinhada à culturas musicais urbanas como hip hop e bass culture, mas também pela busca de outras referências estéticas, como as lindas e multicoloridas tranças afro, na cabeça da galera e também da sempre diva Karol Conka (conheça o festival Afropunk, considerado referência desse estilo nos Estados Unidos).

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Imagens: I Hate Flash

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Imagem: M. Rossi

No mais, o clima de “sempre carnaval” que estamos vivendo nas festinhas mais descoladas do Rio e São Paulo também chegou ao Lolla, com muita purpurina e glitter colorido nos rostos da galera.

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Imagem: I Hate Flash

Por fim, o que observamos no ano passado e que continua nos encantando foram pais e filhos curtindo juntos o festival.

Embora o Rock in Rio também seja bem familiar, os arranjos do Lolla são diferentes: jovens pais cujas referências são festivais mais recentes como SWU, Tim Festival ou Nokia Trends apresentando a experiências de um festival para os filhos crianças e adolescentes.

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Salomão curtindo o Lolla com seus pais.

Conclusão

O Lollapalooza continua a ser o festival de massa mais contemporâneo do Brasil.

Apesar do crescimento acelerado, o evento continua dialogando com algumas das principais tendências musicais do momento (sobretudo as que estão acontecendo nos EUA), investindo em experiências para além da música, apresentando ativações de marca inteligentes e, por consequência, atraindo um público igualmente conectado com estes códigos culturais.

Existe um desafio de permanecer crescendo sem perder a sua essência. Jornalistas e críticos tradicionais continuam entendendo o festival como um lugar onde as pessoas vão somente para assistir shows, preferencialmente de rock / indie rock. Embora este gêneros venham perdendo espaço na programação do festival, é importante reforçar que a “essência indie” não saiu do festival, apenas se expandiu para outros gêneros musicais além do rock. E, como sabemos, o mundo sempre dá voltas…

Até o próximo festival!

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* Pulso Insights é o braço de consultoria e pesquisa do Projeto Pulso. + Informações, entre em contato conosco pelo nosso email: contato@projetopulso.com.br.

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