Festivais de música estão cada vez mais inclusivos e a cada temporada mais pessoas descobrem esse universo, como por exemplo, as Pessoas Com Deficiência – PCD.
Ouso dizer que para esse público, participar de um festival pela primeira vez seja um momento de transgressão. Ao menos foi assim pra mim ¯\_(ツ)_/¯
A gente nunca sabe direito como vai ser, como será a acessibilidade, o percurso, os banheiros… Enfim, sempre rola o pensamento: “será que dá pra ir?”.
Então com base na minha experiência de cadeirante festivaleiro, e no que acontece na maioria dos grandes eventos, aqui estão dicas para quem tem alguma deficiência motora e vai se jogar num festival pela primeira vez. E acredite: depois do primeiro, você irá a muitos… Bora lá!
Pessoa com deficiência em festival – O que saber antes de se jogar?
ANTES DO FESTIVAL
INGRESSO
No Brasil vigora a Lei nº 12.933/2013, a famosa “Lei da Meia-Entrada”.
Vale a pena conferir o texto da Lei na integra, mas basicamente é o seguinte: toda PCD e seu acompanhante têm direito à pagar a metade do valor dos ingressos em eventos artístico-culturais e esportivos, abrangendo assim os shows e festivais.
A pessoa com deficiência deve apresentar no momento da compra e na entrada do evento, seus documentos pessoais e os que comprovem sua deficiência: cartão de Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social ou um documento emitido pelo INSS ou algum laudo médico.
Fique atento para duas situações:
- alguns sites de venda de ingressos distinguem os tipos de meia-entrada, limitando estas para as PCD. Atenção: independente de como o site de venda classifique, toda pessoa com deficiência e seu acompanhante tem direito à meia-entrada;
- a “Lei da meia-entrada” é Federal, então, estados e municípios podem ter alguma regulamentação própria, sempre abrangendo mais benefícios, nunca os diminuindo. Em algumas cidades, por exemplo, as PCD são isentas de pagar ingressos.
INFORME-SE
Descubra tudo sobre o festival e a acessibilidade nele. Geralmente essas informações estão no site oficial do evento, numa página específica ou nas Perguntas Frequentes – FAQ (Frequently Asked Questions).
Se no site oficial você não encontrar informações suficientes, nada sobre acessibilidade ou se você precisa de algum trato específico por conta da sua deficiência, entre em contato direto com os organizadores do evento o quanto antes. Seja por e-mail, telefone ou pessoalmente, vá atrás dessas informações.
Faça contato também com quem já foi ao mesmo festival em edições anteriores ou em outros eventos no mesmo local. Assim dá pra ter uma noção de como tudo funciona na prática.
ESTUDE
Literalmente estude o festival, o que ele propõe e como ele funciona. O tráfego no entorno, as entradas, o estacionamento, se o transporte público poderá acessar ou não as vias próximas, e com base em tudo isso elabore um plano que facilite sua chegada ao evento.
Confira também como será o “mapa do festival”. Além das entradas gerais e preferenciais, estude o layout da festa: a posição dos palcos, áreas reservadas, banheiros adaptados, os bombeiros e posto médico. Sabendo disso tudo, trace as melhores rotas.
Finalmente, estude os horários dos shows e calcule mais ou menos seu tempo de deslocamento para não perder nada. Já faça uma lista de que horário deve estar em qual palco, afinal, não dá pra gente sair correndo de um ponto ao outro.
CADASTRE-SE E COMPRE TUDO ANTES
Os festivais oferecem a compra de vários serviços antecipadamente. Então para evitar caminhadas desnecessárias no dia do evento, compre antes seu voucher de estacionamento e também desbloqueie, cadastre-se e já carregue com créditos sua pulseira/cartão.
Não se esqueça de levar tudo impresso, evitando ter que se deslocar até a bilheteria ou caixas específicos no dia do festival.
NO DIA DO FESTIVAL
HORÁRIOS
Evite aglomerações e transtornos por conta da movimentação do público no entorno. Se você tiver que fazer algum trajeto a pé, quanto menos gente, melhor né. Quanto mais cedo chegar, melhor consegue se ambientar e localizar onde estão os equipamentos e rotas acessíveis.
ESTACIONAMENTO
Dentro do estacionamento geral, as vagas mais próximas à entrada são reservadas para PCD. Em alguns festivais há um estacionamento exclusivo para esse público. Importante: além do voucher, não esqueça seu cartão de estacionamento preferencial e tenha colado no carro um adesivo de acesso universal.
Dica: às vezes, o estacionamento está muito longe da entrada o que demanda uma longa caminhada, e talvez nesse caso seja melhor optar por um uber ou similar.
ACESSO PREFERENCIAL
Para evitar a aglomeração de pessoas, uma portaria preferencial será disponibilizada, num local distante da portaria do público geral, até mesmo numa rua diferente.
BUGGY ELÉTRICO
No caso da portaria ou do estacionamento ser longe do local dos shows, é oferecido translado com o conhecido “carrinho de golfe”.
MEDICAMENTOS
Segue a regra geral do evento: apenas com receita médica você pode entrar com medicamentos. Uma dica é levar algum documento ou laudo médico se precisar entrar com algum equipamento específico, seja de locomoção, adaptação ou até mesmo de uso íntimo.
ÁREAS RESERVADAS
São áreas destinadas para as PCD poderem assistir aos shows com segurança e àqueles que estiverem sentados, poderem enxergar o palco. Geralmente são tablados elevados e posicionados de acordo com a demarcação feita pelo corpo de bombeiros, visando à segurança do público.
A produção do festival deve disponibilizar uma pulseira para que somente as pessoas que realmente precisarem tenham acesso às essas áreas.
#ficadica: Se você for PCD mas puder e for assistir aos shows em pé, ou for acompanhante, fique no fundo da área reservada, para não bloquear a visão de quem não consegue ficar em pé.
BANHEIROS
Na maioria dos festivais são utilizados banheiros químicos. Sim, existe um banheiro químico adaptado. E como você deve imaginar, não é confortável e nem prático, afinal, banheiro químico é ruim pra todo mundo.
Geralmente estão dispostos junto às áreas reservadas. Minha dica é descobrir se no local que acontece o festival, além dos banheiros químicos há banheiros convencionais, mesmo que pra isso você tenha que se deslocar um pouco mais.
ACOMPANHANTES
Desde a compra dos ingressos até o acesso às portarias preferenciais e áreas reservadas, a política adotada é de um acompanhante. No caso das áreas reservadas, o acompanhante também ganha uma pulseira de acesso.
EQUIPE DE APOIO
Alguns festivais já contam com uma equipe destinada à dar apoio e facilitar o acesso das pessoas com deficiência. São treinados para isso e estão à disposição para qualquer ajuda necessária. Além deles, sempre podemos contar com o auxílio dos bombeiros, que prontamente estão dispostos a dar um help.
CARPE DIEM
Vá de coração aberto, cheio de good vibes e no melhor espírito de “conversando a gente se entende”. Obviamente você deve fazer valer os seus direitos, mas também não pode deixar de curtir esse dia cheio de adrenalina que é um festival. Particularmente, sugiro o seguinte:
- Se joga! Vá sem medo e curta ao máximo respeitando seus limites.
- Get together! Festivais atraem um público absurdamente numeroso, e algum desgaste pode acontecer. Tenha isso em mente e procure as melhores opções para qualquer empasse.
- Everybody is a star! Aos acompanhantes, vale lembrar que a pessoa que você ama é importante, mas não é mais nem menos deficiente que os outros, cuidado com os julgamentos e exigências.
- Respect. Respeite a equipe que está ali fazendo o máximo para te ajudar, algumas coisas estão fora do alcance deles.
- Brodagem! Você pode e deve ir sozinho, se possível diante da sua necessidade, mas é interessante ter aquele amigo parça que já manja de tudo e pode contribuir. Ele não é sua babá, é parceiro mesmo!
DEPOIS DO FESTIVAL
Compartilhe sua experiência. Isso é muito importante para que outras pessoas com deficiência saibam que é possível participar desses eventos. Sabemos que muita gente deixa de frequentar pelo simples fato de não saber como é, então divulgue o que você vivenciou.
E no mais, depois do festival, já comece a se programar para o próximo!
Eu sei que ir num festival pela primeira vez pode até causar certo medo. Esse medo por fazer coisas fora da zona de conforto geralmente é potencializado nas pessoas com deficiência. Mas acredite em mim: cada segundo vai valer a pena! Como diz Plutarco: “É preciso viver, não apenas existir”.