Desde pequeno, tive muito contato com a música. Dentro de uma família de músicos e apreciadores, fica difícil não se envolver. Aos sete anos comecei a tocar bateria e a paixão pela música começou de fato. Dei inicio à minha fase Beatles. Todos têm essa fase, não necessariamente na mesma idade, embora eu estivesse sozinho nela na época. Meus amigos estavam bricando de pique-pega e eu lá, escutando o Abbey Road.
Um pouco depois uma outra banda me pegou de jeito. E eu não pararia mais de ir atrás de banda após banda. Sim, era o The Strokes, o “ícone do indie”. Eu estava com 11 anos e não conseguia me identificar com meus amigos. Perguntava se eles curtiam Arctic Monkeys, Tv On The Radio, Bloc Party… e eles só sabiam falar de Naruto. Teve até uma época que eu só escutava bandas suecas (sim, elas são sensacionais, né?!), mas isso não vem ao caso.
Em 2011, veio o Rock in Rio. Eu com meus treze anos já tinha me “consolidado” como um apreciador da música. Mesmo assim, ainda não era um festival que de fato me representava, sabe? Fui no dia do Coldplay e, embora tenha sido um show apoteótico, não me sentia parte do festival.
Logo após o RiR, confirmou o (extinto) Planeta Terra. Sim, pessoa de boa memória, 2011 foi o ano do Strokes. Como até minha mãe é também fã de carteirinha, não ia ser agora que dispensaríamos uma oportunidade dessas. Eis que me despenco para São Paulo (sou de Brasília) e me deparo com uma situação no mínimo constrangedora. Apesar de o festival ter vendido o ingresso para mim e eu ainda estar acompanhado da minha mamãe, fui barrado na entrada. Depois de investidas inúteis, ligações para a policia e chantagens emocionais, finalmente dei um jeito de entrar. Mais uma vez, estava em um lugar que não me representava, inclusive ilegalmente. Me senti hostilizado por ser menor… Ah, mas o show do Strokes foi muito bom (admito ter deixado cair lágrimas).
Poucos meses após o Planeta Terra, anunciaram um tal de Lollapalooza. Falaram que era uma franquia de um festival lá de Chicago e agora teria sua edição aqui no Brasil. Falaram que era cheio de bandas famosinhas da cena indie e tudo mais. Até então nada de novo. Só que teve uma certa frase que mudou tudo:
“Classificação indicativa: livre.”
É, eu meio que tive de ir nesse negócio aí. Agora, além de ter uma porção ainda maior de bandas que eu gostava, eu poderia estar lá – legalmente falando! Foi eu chegar no Joquei Clube que senti e pensei: “Não estou sozinho nesse mundo.”
Virei adepto. Vi o Arctic Monkeys, o Black Keys, o Arcade Fire (fica para um outro texto, mas esse foi o show da minha vida fácil) e o Jack White. Se você é tão fã do Lolla quanto eu, percebeu que, sim, fui em todas edições. Lá no Joquei e em Interlagos conheci pessoas novas, descobri o gosto de amigos e fui até tachado de hipster – mas quem se importa não é mesmo? – e descobri uma experiência essencialmente livre para todos os gostos, idades e tribos.
Eu acho que foi isso que fez o Lollapalooza ter dado tão certo aqui no Brasil. O festival nada mais é que um grande encontro de pessoas e essas pessoas precisam ser identificadas. O Lolla então é um festival humanizado, voltado para as emoções, as amizades sem se perder no som, que cada edição tem sido um destaque cada vez maior, mesmo com divergências para os “adeptos”. Além disso, a questão de ser também um evento livre, para todas as idades, dá uma certa segurança para todos que estão lá. Acaba que, por dois dias, eu me sinto em uma gigantesca família de 80 mil pessoas.
Hoje estou com 17 anos e a um mês de fazer 18. Continuarei a tradição anual. Não serei mais o menor por lá, mas isso nunca foi algo que eu aspirei quando estive no festival. Mais uma vez o line up foi impecável, com uma pegada mais de rap e com pela primeira vez uma headliner feminina. Não perco por esperar!
Ah, fica uma ideia no ar que eu sugeri na página do Lolla no Facebook: a criação de cartão fidelidade para o festival. Seria bem legal, hein?