Glastonbury Escreve Mais Um Capítulo na Discussão Sobre Gênero


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De acordo com o próprio site oficial, o Glastonbury é o segundo maior festival de música do mundo. Fortemente influenciado pelo Isle of Wight (leia: As 10 Melhores Performances do Isle of Wight) e pelos movimentos hippie e de contracultura, ele surgiu em 1970 e ocorre com frequência desde então, com pausas periódicas (a última foi em 2012!) que pretendem dar um descanso à cidade de Pilton, seus moradores e à equipe que trabalha incessantemente para entregar toda essa grandiosidade da melhor maneira possível.

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Só por esse contexto já podemos notar que o festival preza pelo público e também por todos os envolvidos na realização do evento. Por isso, o Glasto entrou de cabeça na luta pela equidade de gêneros (leia: Edward Snowden e os Direitos Humanos no Roskilde Festival) e anunciou, há pouco tempo, que irá criar um palco exclusivamente voltado para mulheres, o The Sisterhood, em 2016. Segundo as organizadoras, o local será uma “pista revolucionária” aberta a todas aquelas “que se identificarem como mulheres”, sejam elas trans, gays ou deficientes.

“No Reino Unido, a diferença de salários, a violência doméstica e a prostituição estão dando luz à questão. O Sisterhood busca oferecer um espaço voltado para as mulheres se conectarem, se conhecerem e dividirem suas histórias, além de se divertirem e aprenderem a melhor maneira de se apoiar”

O espaço contará com uma equipe de segurança totalmente formada por mulheres, além das cantoras, bandas e DJs. Também na programação estão debates sobre interseccionalidade, diversidade e inclusão, aulas de dança e workshops diários com a carpinteira Rhi Jean

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A notícia, como não poderia deixar de ser, gerou controvérsias. “Por que destinar uma área somente às mulheres? Não seria isso uma forma de segregação?”

De acordo com as próprias idealizadoras do The Sisterhood, espaços voltados para o público feminino ainda são necessários num mundo criado e governado para beneficiar homens.

Para provar esse ponto, a jornalista cultural Alexandra Pollard fez uma enquete em seu Twitter pessoal na qual perguntava às meninas se elas já haviam se sentido ameaçadas, inseguras ou desconfortáveis em festivais de música. Das 146 que responderam, 127 marcaram “sim”.

Algumas ainda comentaram que evitavam áreas muito cheias em eventos desse porte (como as mais próximas ao palco, por exemplo!) por conta do assédio, tanto físico quanto verbal, além de outros relatos chocantes, como cotoveladas por responderem às “cantadas” de maneira mais incisiva.

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Nada disso, entretanto, irá tirar mulheres ou bandas lideradas por elas dos palcos principais do evento. A ideia do The Sisterhood é simplesmente agregar ainda mais ao Glastonbury, enaltecendo a importância do respeito e da dignidade humana, dois pontos que, em pleno 2016, nem deveriam ainda estar sendo debatidos. O The Sisterhood é simplesmente voltado para a representatividade feminina, para a troca de experiências desse público e é muito importante um evento dessa magnitude se posicionar a respeito da causa de forma tão engajada.

Elisabeth Troy, do Clean Bandit / Glastonbury 2014
Elisabeth Troy, do Clean Bandit / Glastonbury 2014

Militância e revolução feminista na música

Vale lembrar que a ideia de uma revolução feminista na música, porém, não é inédita.

No início dos anos 90, Kathleen Hanna liderava o Bikini Kill (e, no final da mesma década, o Le Tigre) e foi uma das criadoras (junto a Allison Wolfe, do Bratmobile) do movimento riot grrrl, corrente que visava encorajar e apoiar meninas a criarem suas próprias bandas e manifestos (como fanzines), além de expressarem seus desejos e opiniões de forma livre, em clara oposição ao machismo instaurado no punk e no hardcore.

Uma das iniciativas de Hanna (atualmente vocalista do The Julie Ruin) era promover a política do “girls to the front”, isto é, meninas ocupando as primeiras fileiras dos shows. Para ela, os garotos podiam “ser legais uma vez na vida”.

Além disso, lá em 1976, foi fundado o Michigan Womyn’s Music Festival, evento que rolou até o ano passado, e era produzido, desenvolvido e realizado apenas por mulheres. A pegada do MWMF era voltada para a vertente mais radical do movimento que, dentre outras pautas, defende que mulheres já nascem desse jeito (“womyn-born-womyn“), excluindo as transexuais e outros tipos de identidades de gênero existentes.

O festival ocorria sempre no mês de agosto, numa área próxima a Hart Township, em Oceana County, Michigan, e foi encerrado após quarenta edições devido aos crescentes protestos e boicotes promovidos pela comunidade LGBT nos últimos anos.

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Outro nome que merece destaque é o Lilith Fair (já falamos dele um pouco dele por aqui), festival itinerante que reunia apenas mulheres em seu line-up e foi criado pela cantora Sarah McLachlan em 1997. A proposta da musicista era balancear a quantidade de artistas do gênero feminino em festivais, especialmente como headliners, problema que acontece até hoje, inclusive no próprio Glastonbury.

O evento foi realizado quatro vezes: 1997, 1998, 1999 e, por fim, em 2010, numa edição revival, angariando um total de 10 milhões de dólares para caridade. Alguns nomes que tocaram por lá foram Bonnie Raitt, Diana Krall, Lauryn Hill, Sheryl Crow, Erykah Badu, Fiona Apple, Tracy Chapman, Pat Benatar, Cassandra Wilson e The Pretenders.

Lilith Fair 2010
Lilith Fair 2010

Apesar da luta por direitos iguais estar longe do fim, iniciativas como essas mostram que, pelo menos, estamos no caminho correto para uma verdadeira revolução na sociedade em que vivemos.

Um passo de cada vez, certo? #GirlPower 

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Ah! Para conferir algumas das performances do Glasto (22-26 de junho), basta clicar aqui e acompanhar justo à BBC. AdeleSavages, Wolf Alice, PJ Harvey, AlunaGeorge, Ellie Goulding, GrimesCyndi Lauper Santigold, além de Coldplay, Muse, Beck, The Last Shadow Puppets, The 1975, Sigur Rós, Disclosure e James Blake, estão entre as principais atrações.

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