Entrevista: Novas Frequências 2015 por Chico Dub


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Não é segredo que o Novas Frequências é um dos festivais favoritos do Pulso. Descentralizado, multidisciplinar e inovador, o festival faz jus ao seu nome ao apontar tendências e novas formas de experimentar música, arte e tecnologia.

Desde o ano passado, faz parte do ICAS, sigla para International Cities of Advanced Sound, uma rede global sem fins lucrativos de festivais dedicados a música, arte e cultura avançada.

Aki Onda no Oi Futuro Ipanema
Aki Onda no Oi Futuro Ipanema

Sua próxima edição começa no dia 01 de dezembro e vai até o dia 08, sendo realizado em diversos locais espalhados pelo Rio de Janeiro. Bati um papo com Chico Dub, um dos sócios, idealizador e curador artístico do festival. Confira a seguir.

Chico Dub – Créditos: Lucas Bori

(Pulso) Quais as principais diferenças da edição passada para esta? Lembro que no nosso último papo, você disse que preferiu reduzir o tamanho do festival deste ano em comparação com o passado. Pode falar um pouco sobre este movimento?

Chico Dub: Na verdade, a opção deste ano não foi reduzir o tamanho do festival. A opção foi simplesmente reduzir o número de dias – de 14 para 09. Se você reparar bem, vai perceber que a programação diária aumentou; tem bem mais coisas acontecendo diariamente do que no ano passado. Ou seja: o festival cresceu em relação a 2014. Temos 42 artistas contra 33 do ano passado. O formato da 4º edição, que tinha shows, festas, oficinas e palestras se repete em 2015, mas temos como novidade: uma mostra de filmes, uma exposição de fotografias comissionadas para a nossa identidade visual, um hacklab e uma ocupação no Laboratório Agnut, o atelier do Tunga, que é praticamente um festival dentro do festival. Só lá temos 12 artistas diferentes.

(Pulso) Sim, a cada ano, o NF parece expandir seu conteúdo para outros territórios além da música, como a arte e tecnologia. Quão relevante são estas atividades paralelas em comparação às apresentações musicais? 

Chico Dub:  Desde 2013, optamos em seguir um caminho que são muitos ao mesmo tempo. Estar somente no palco é pouco para o Novas Frequências. Queremos ocupar espaços diferentes e realizar ações site specific, ou seja, propostas pensadas para acontecer especialmente naquele local. Quanto mais espaços diferentes, maior a chance de experimentar novas linguagens e conceitos. Esta é a nossa pegada.

Novas Frequências: Workshop do Laraaji no Parque Lage
Novas Frequências: Workshop do Laraaji no Parque Lage

(Pulso) Desde o ano passado, o NF faz parte do ICAS. O que mudou para você e para o festival fazer parte deste grupo? Como se dá esta relação com outros festivais e players do segmento da música experimental?

Chico Dub: Hoje, quem está ligado no nicho do NF – experimentalismo, vanguarda, novas tendências – sabe que a gente existe. Do japonês ao egípcio; do norte-americano ao colombiano. E parte disso se dá graças ao ICAS e também ao apoio de mídia que temos da publicação britânica The Wire.

A relação com outros players é muito boa. Tentamos costurar algo para este ano que infelizmente não deu certo, mas teremos num futuro próximos coisas bem legais surgindo – tanto aqui no Rio como em outras cidades/festivais do mundo.

(Pulso) Sobre o artístico, chama a atenção nomes como The Bug, King Midas Sound (curti!) e Auntie Flo, nomes bem fortes da cultura UK Bass. Algum dos artistas do NF deste ano já se apresentou em alguma outra edição? Como foi o critério para convidar estes nomes? Existe uma tendência pra vertente mais Bass nesta curadoria ou é impressão? 

Chico Dub: Ao contrário da maioria dos outros festivais, não só não repetimos atração como só trazemos artistas que nunca tocaram no país.

Quest no Sergio Porto
Quest no Sergio Porto

Sobre o bass, acho que é uma impressão sua. Talvez só a festa tenha um pouco mais dessa pegada. O conceito dela é falar de África e diásporas e neste caso o bass é um elemento unificador, aglutinador.

(Pulso) Quais as apresentações/performances que você mais gostaria de ver (trabalhando ou não no evento) e porque?

Chico Dub: Sou suspeito pra falar, né? Rsrsrs. Quero ver tudo, é claro!

Além das ações junto ao Tunga, destacaria a experiência de som expandido. A dupla italiana Quiet Ensemble traduz instrumentos musicais clássicos através de recursos luminosos, estroboscópicos e teatrais com a função de formar uma verdadeira orquestra elétrico-óptica de frequência, calor e ruído.

A relação entre o som e a arquitetura, mais especificamente a obra de Oscar Niemeyer, é o tema da residência artística do escocês Trudat Sound. No primeiro hacklab (ou laboratório colaborativo) desenvolvido pelo festival, a dupla mexicana Interspecifics Collective, especialista em sonificação, vai coletar bactérias e sedimentos de diferentes praias do Rio para criar uma sinfonia de sons e ritmos não-humanos junto a artistas locais.

Eduardo Magalhães - I Hate Flash-103
Ben Frost no Oi Futuro Ipanema

(Pulso) Muitos nomes nacionais vem se destacando na cena eletrônica e experimental. Suas compilações Hy Brazil! são um ótimo exemplo. Como vc trabalha este equilíbrio entre convidados gringos e artistas locais? 

Chico Dub: Nunca tivemos tantos artistas brasileiros no line-up. São 27 brasileiros contra 16 artistas internacionais. Inclusive, é o primeiro ano que o número de brasileiros ultrapassa o de gringos. É um sinal de que a nossa cena vai muito bem, obrigado.

40% Foda/Maneiríssimo Vs. Domina no La Paz
40% Foda/Maneiríssimo Vs. Domina no La Paz

(Pulso) O NF é um festival descentralizado, que acontece em vários lugares, dias diferentes. Porque desta escolha? 

Chico Dub: Festivais que acontecem no mesmo lugar geralmente são muito chatos. O mais bacana hoje em dia é usar a cidade de forma inteligente, atuante, protagonista. Fomentando espaços que já existem, gastando menos verba com construção de palcos que depois serão desmontados, trabalhando junto com as cenas locais para construír um ecossistema produtivo para todos.

Também tem aquela questão que falei lá em cima de gostar de trabalhar de forma site especifico. O palco não é o único lugar possível para o NF.

Quintavant na Casa Daros
Quintavant na Casa Daros

(Pulso) O NF é uma ilha em meio a grandes festivais com viés mais comercial. Ainda assim, chama a atenção em nível nacional, tem parceiros como a Wire e uma comunidade fiel de fãs. Queria que vc falasse um pouco sobre o propósito por trás deste festival e seus planos para o futuro. 

Chico Dub: Nunca quis ser mais um. Tudo que faço na minha carreira obrigatoriamente precisa tem um viés de novidade e inovação. Não poderia ser diferente com o Novas Frequências.

O propósito do festival é bem claro: chacoalhar com o status quo dos festivais nacionais ao realizar uma curadoria que está muito além de botar um monte de nomes bacanas tocando num palco; aproximar os universos da música experimental e da arte contemporânea; só trabalhar com o ineditismo; abraçar o Rio de Janeiro de todas as formas possíveis.

Os planos para o futuro são trabalhar mais uma parte ligada a economia criativa, fomento e capacitação; lançar livros e publicações; estreitar laços com produtores e eventos que falam a nossa língua aqui no país; criar showcases internacionais em festivais de fora do país.

Fotos: Eduardo Magalhães – I Hate Flash

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