Entrevista: Eyedrop e a Importância dos Aftermovies Dos Festivais


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Quem não lembra dos primeiros videos do Tomorrowland divulgados nas redes sociais? Longos e com seus 30 minutos de duração, eles foram inspiradores e fundamentais não só para criar o anseio no público em estar lá mas também para criar um mercado que começou a surgir a partir dali, o dos aftermovies.

Aftermovie = Video de curta ou longa duração divulgado nas redes sociais pós-evento que mostra os melhores momentos de festivais, shows e festas com o objetivo de fortalecer marcas e também “vender” o evento, o tornando cada vez mais conhecido e desejado.

Abaixo, o primeiro aftermovie do Tomorrowland que se tornou rapidamente viral em todo o mundo e fez explodir o nome do festival pela internet. Depois desse video, os ingressos do festival passaram a esgotar em poucos minutos após a abertura das vendas.

Para falar um pouco mais desse assunto, entrevistei dois grandes profissionais do mercado: Rafael Salles e Diogo Camargo, que são sócios da Eyedrop, empresa que está se destacando nesse segmento no Brasil. Rafael é formado em publicidade & marketing, responsável pela área de atendimento, filmmaker e apaixonado pelo seu trabalho. Diogo se formou em produção musical na Berkeley, em Boston, e após voltar ao Brasil, começou a estudar fotografia e começou sua carreira como filmmaker.

eyedrop

Diogo Camargo e Rafael Salles


Pulso: O que vocês acham dos aftermovies dos festivais, produto que se tornou fundamental para uma possível “pós-venda” desses eventos com o objetivo de seduzir e criar o desejo no público desse segmento?

Eyedrop: Nós não chamaríamos os aftermovies de pós-venda, pois eles têm se mostrado ao longo dos últimos anos o mais importante instrumento de divulgação dos grandes festivais. Seus principais objetivos são o fortalecimento da marca do festival, e o de criar uma necessidade e um desejo na mente do público alvo. Pensando com a cabeça de um publicitário, esses dois objetivos unificados em um só produto, aliados a um plano de divulgação bem feito e uma identidade visual marcante, são simplesmente a melhor ferramenta comercial que um produtor de festivais pode ter em mãos. Concluindo, podemos dizer que a médio prazo o fortalecimento da marca gerada pelo aftermovie irá proporcionar um aumento de vendas orgânicas (mesmo sem se importar com atrações) nas futuras edições dos festivais.

Pulso: Qual evolução vocês vêem nos aftermovies de uns anos pra cá?

Eyedrop: Em 2011 o Tomorrowland praticamente inventou essa ferramenta. Já existiam coberturas de grandes festivais em forma de vídeo, mas elas não tinham esse formato. Eles começaram a produzir verdadeiros filmes, que mostravam de forma muito bonita e emocionante grandes momentos do festival. Assim, o espectador começou a ser inserido de forma muito mais intensa na atmosfera que essas grandes festas proporcionam. Como acontece com todo tipo de produto, essa inovação criou uma necessidade em todos os demais festivais. Não é exagero se dizer que o Tomorrowland é o que é hoje em dia muito em função dos aftermovies que ele produziu. Já era um festival muito bem produzido e diferenciado, mas foram esses filmes que mostraram ao mundo o que era vivenciar essa experiência. Esse vídeo de 2011 tem mais de 70 milhões de views, o de 2012 superou os 120 milhões. É uma ferramenta impressionante, que se explorada de forma correta, pode ter grande parte de seu investimento pago pelo próprio Youtube através de retorno em publicidade no site.

Pulso: Qual o melhor video que vocês viram recentemente? 

Eyedrop: Nós somos grandes admiradores do trabalho do Charly Friedrichs, conhecido como Final Kid (vejam alguns trabalhos dele aqui). Na nossa opinião, ele pegou o conceito criado pelo Tomorrowland em 2011 e evoluiu em vários pontos nos filmes do Ultra Music festival. Isso só foi possível porque os produtores do festival americano viram o enorme poder e retorno desse produto, e investiram nisso com o carinho e a atenção que são necessários. O filme “United We Dance” do Ultra 2014 continua a ser na nossa opinião o melhor aftermovie que já vimos. Para a sua produção foi criada uma trilha própria pela dupla Vicetone, que se encaixa perfeitamente no filme. Ele foi todo filmado em 4k, com os melhores filmmakers de EDM do mundo, a equipe contava com mais de 15 pessoas. As entrevistas feitas com os artistas em um estúdio móvel são simplesmente fenomenais, além dos efeitos de Motion Graphics, que são perfeitamente inseridas no vídeo e sem exageros. Esses efeitos inclusive são feitos pelo talentosíssimo brasileiro Thiago Porto, que é um grande parceiro nosso. Enfim, todos os filmes do Ultra são nossos preferidos mas os de Miami, por motivos óbvios de investimento, estão um passo a frente dos demais. O filme de 2015, lançado nas últimas semanas mais uma vez surpreendeu. Ele foge dos slows e da trilha sonora predominantemente de EDM. O resultado é um vídeo dançante e com muito groove. Não é tão emocionante quanto o anterior, mas as transições, as técnicas utilizadas e a qualidade incrível de imagem e cor, deixam qualquer um de boca aberta.

Pulso: O que vocês acham das transmissões online dos festivais e shows mundiais?

Eyedrop: Novamente vemos uma inovação vinda dos dois maiores festivais do mundo nesse sentido. O Ultra e o Tomorrowland vem melhorando as transmissões ao vivo ano a ano. Porém, estamos falando de um investimento extremamente alto. As transmissões online, quando feitas de forma simplista, com poucas câmeras, sem uma direção feita em mesa de corte, entre outros detalhes, pode acabar sendo um tiro no pé. Elas acabarão por mostrar o evento sem riqueza de detalhes e profundidade. Com isso o evento pode parecer menor ou pior do que de fato ele é. Os grandes festivais possuem apoio governamental e muito patrocínio envolvido. Na nossa opinião, o que deve ser feito é buscar receita de investimento para que essas transmissões sejam feitas com várias câmeras e uma direção de imagens profissional.

Pulso: Vocês trabalharam na produção dos videos do Ultra e do Tomorrowland. Como foi essa experiência e o que vocês aprenderam estando lá?

Eyedrop: Na verdade isso foi uma grande surpresa para nós! Tudo começou quando o Final Kid entrou em contato conosco quando estava no Rio filmando o documentário “Unforguettable” para o David Guetta. Ele nos convidou para ajudá-lo nas filmagens pela cidade. Foi uma experiência incrível e várias imagens feitas por nós apareceram no filme. Esse foi o início de uma grande parceria. No ano seguinte, o Diogo teve a oportunidade de trabalhar no Ultra Miami, e conhecer os melhores filmmakers do mundo. Depois disso já participamos do Ultra Chile, Buenos Aires, Tomorrowland Brasil, e agora em outubro iremos fazer o Ultra Peru e Chile, onde pela primeira vez ficaremos também responsáveis pela edição. Com certeza foram nessas filmagens que mais aprendemos até hoje. É uma sensação difícil de se descrever, a de estar junto com os filmmakers que te inspiram e presenciar de perto a forma como eles trabalham.

Pulso: Vemos muitos DJs produzindo aftermovies de uns anos pra cá e isso se tornou muito importante para consolidar suas carreiras, concordam?

Eyedrop: Assim como para os festivais, os aftermovies dos DJs são muito importantes para aproximar os artistas de seus fãs. Alguns DJs já possuem um filmmaker a tira colo, acompanhando suas gigs e o dia a dia deles. Porém esses DJs, que possuem um filmmaker próprio, em geral já possuem um cachê alto e com isso conseguem cobrir esse investimento. DJs que ainda não têm essa oportunidade devem ver os vídeos como um investimento que deve ser feito de forma profissional. Na nossa opinião, eles devem planejar toda a criação de suas carreiras e de sua marca, e ir trabalhando na sua imagem aos poucos. Não somente os aftermovies são importantes, mas suas logos, presskits e identidades visuais devem ser tratadas com muito carinho. Existem grandes fotógrafos e designers no país. Esses profissionais tem de ser tratados como parceiros não só pelos DJs, mas por todos que trabalham na cena eletrônica. Na hora de criar nossa identidade visual, recorremos ao Vinícius Araujo (VA Designer). Ficamos muito surpresos e felizes com o resultado desse que foi somente o primeiro de muitos trabalhos com ele.

Pulso: Para quais DJs, projetos etc vcs já produziram videos?

Eyedrop: Começamos a nossa carreira filmando para a empresa de formaturas Forma Ideal. Lá tivemos a oportunidade de filmar belos eventos com os DJs Fedde Le Grand, Borgeous, Vicetone, R3hab, Sander Van Doorn, Chukie e os brasileiros Marcelo Cic, FTampa, Vintage Culture, entre outros. Produzimos o primeiro vídeo clipe do DJ Johnny Glovez, o que é outra tendência forte no mercado. Além disso, filmamos os já citados Ultra e Tomorrowland e já fizemos trabalhos para Pacha, para a festa Holi Play etc. Devido a dificuldade de se conseguir os investimentos adequados para produzir vídeos de qualidade no mercado de música eletrônica no Brasil, começamos a buscar outros nichos. Recentemente produzimos o DVD do DJ de funk carioca Dennis DJ. Fechamos um contrato anual com a CBJ (Confederação Brasileira de Judô) onde fazemos vídeos de todos os eventos do ano. Fizemos também trabalhos para Ancar, Herbalife e recentemente filmamos a cobertura do Rock in Rio para a Heineken.

Pulso: Pra vocês, qual o festival que mais se preocupa com as imagens exibidas nos telões?

Eyedrop: Quando fomos trabalhar no Ultra em 2014, ficamos impressionados com a transmissão para os telões. Além dos gráficos que em muitas vezes são feitos pela própria equipe dos DJs, havia imagens em cortes muitos rápidos se assemelhando muito a aftermovies sendo transmitidas junto com muito grafismo.

Pulso: O que acham do trabalho dos VJs e o crescimento dessa profissão?

Eyedrop: Recentemente, quando fizemos o DVD do Dennis DJ, ficamos muito felizes com o trabalho do VJ contratado para a ocasião, Toshiro. Além disso gostamos demais do trabalho do VJ Vagalume. Os VJs são a alma visual da festa. Achamos que, junto com o iluminador, eles são imprescindíveis para o sucesso de um festival. Além disso, eles têm uma importância vital para a produção de um filme. Sempre que possível tentamos conversar com os VJs e iluminadores antes do evento para ver se é possível que eles trabalhem em cima das cores que melhor imprimem no vídeo.

Pulso: O que um aftermovie não pode deixar de mostrar?

Eyedrop: Cada aftermovie e cada evento tem suas particularidades e elas devem ser tratadas de forma individual. Porém procuramos sempre passar emoção e sincronismo. Estamos sempre buscando ângulos diferenciados e aqueles lugares que as pessoas não têm acesso. Todo aftermovie deve mostrar os diferenciais do evento, sua decoração, a iluminação, as principais atrações. Porém, a palavra de ordem de um aftermovie é “flow”. O filme deve evoluir de forma harmônica, com cortes nos lugares certos e transições bem utilizadas, sempre buscando o melhor momento de cada take.

Pulso: E no Brasil, como vocês vêem o investimento dos festivais e festas no Brasil nos videos?

Eyedrop: Pensamos que nossa economia é um grande dificultador nesse momento do país. Isso tem uma influência forte no orçamento separado para essas ações. Mas independente da economia, não há dúvidas de que no Brasil ainda não é dado o valor necessário para a questão do audiovisual. Normalmente os festivais gastam todas as suas economias em atrações, o que é aceitável em um primeiro momento. Porém muitas vezes vemos festivais esgotando antes do anúncio das atrações, principalmente os gringos. Isso faz você pensar na importância do áudio visual tratado com carinho. Os festivais do exterior ainda trabalham de forma bem superior o seu material visual. Claro que os festivais brasileiros querem caprichar no nesse sentido, porém, no atual momento, isso ainda não é uma realidade. Se formos imaginar uma lista de prioridade na planilha dos grandes eventos por aqui, o aftermovie estará quase sempre no final dessa tabela.

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