Entrevista: Duda Magalhães Refaz o Sónar São Paulo


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Conversei com Duda Magalhães, CEO da Dream Factory, empresa de eventos que faz parte do grupo Artplan e Rock In Rio – além de responsável pela realização do Sónar São Paulo – para entender os desafios de produzir no Brasil mais uma edição do festival catalão (veja mais posts sobre o Sónar aqui).

Foi um papo aberto e esclarecedor, com direito a explicações sobre como o festival é produzido em cada lugar, o cancelamento da edição de 2013 e a persistência em tentar encontrar um modelo de negócios sustentável para um festival de arte e música avançada no Brasil.

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(Pulso) Para falarmos sobre o próximo Sónar, é preciso dar um pulo no passado. O Sónar 2012 foi um dos melhores festivais que já aconteceram no Brasil. Você poderia nos contar um pouco sobre como surgiu a ideia de trazer o festival para cá?

(Duda Magalhães) Estamos presenciando a chegada de ótimos festivais no Brasil e, por volta de 2010, a Advanced Music – proprietária da marca Sónar – buscava uma empresa que pudesse contribuir com o fortalecimento e continuidade do Sónar no Brasil. Assim, eles chegaram à Dream Factory.

A primeira edição do festival no Brasil foi realizada em 2004, e não contou com o envolvimento da Dream Factory. Aliás, uma belíssima edição e que criou a marca no mercado brasileiro (leia mais sobre esta edição aqui e aqui).

Já em 2012, a empresa realizou a edição do Sónar São Paulo que recebeu 30 mil pessoas e 48 atrações – entre elas Kraftwerk, Justice, Chromeo, Mogwai, Flying Lotus e James Blake, tornando-se referência no circuito de festivais no país.

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Achávamos que havia realmente não apenas um espaço no mercado brasileiro, como também demanda para este tipo de conteúdo. No final, as críticas foram excelentes!!

(Pulso) Ainda sobre o Sónar 2012… Meu Deus, que line-up foi aquele?! De Alva Noto & Ryuchi Sakamoto a Kraftwerk (3D!), Modeselektor a James Blake, Cee-Lo Green a Justice… Foi provavelmente o line-up que mais chegou perto do que rolava no Tim Festival e Free Jazz. Como equalizar as contas para entregar um evento daquele porte?

Kraftwerk, um dos headliners do Sónar SP 2012
Kraftwerk, um dos headliners do Sónar SP 2012

(Duda Magalhães) A edição de 2012 deu prejuízo, apesar dos altos valores de patrocínio captados para um festival segmentado. A bilheteria poderia ter sido melhor e alguns custos, menores. Mas, com a crítica altamente positiva e o sucesso do evento, decidimos avançar com o projeto e adaptá-lo ao mercado que parece ser maior do que é. É um mercado altamente qualificado, mas de tamanho restrito. Vai crescer de tamanho com o tempo e esses festivais ajudam a criar a cultura e formar público.

(Pulso) Daí, em 2013, a proxima edição do festival já estava anunciado, mas teve que ser cancelado no meio do caminho… Na época, foi divulgado um comunicado que culpava a “instabilidade no mercado de entretenimento nacional”. Vc poderia explicar melhor o que aconteceu?

(Duda Magalhães) Exatamente isso. Instabilidade nos patrocínios, custos elevados e o formato inadequado para a realidade deste mercado no Brasil. Por isso adaptamos o projeto para que se torne também viável e sustentável. Ao longo do tempo vai se fortalecendo e crescendo.

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(Pulso) Chegamos em 2015. Uma nova edição do Sónar foi confirmada e milhares de fãs – entre eles nós do Pulso – encheram as redes sociais de elogios. Durante a exibição do streaming da edição em Barcelona, foram comunicados os primeiros nomes do line-up (Chemical Brothers, Hot Chip, Brodisnki e Evian Christ). Ficou uma sensação de “Ok! Legal, mas… cadê o restante dos nomes?”. Anunciaram mais alguns artistas nacionais, todos muito bons, mas ainda assim nada que possa se comparar à edição de 2012 (ou a promessa de 2013). O que aconteceu?

(Duda Magalhães) O Sónar realizado pelo mundo nunca será igual ao evento realizado na capital catalã. A edição do Sónar São Paulo 2012 talvez tenha sido a que mais se aproximou do evento na Espanha e com certeza isso contribui para gerar a expectativa que estamos vendo no Brasil.

Mas são dois formatos distintos que o Sónar possui. Aquele formato de 2012 não teria espaço no atual mercado e por isso fizemos a escolha correta com a atual combinação de Club, Cinema e +D.

(Pulso) Não dá para trazermos alguns dos artistas que estão indo se apresentar nas edições de Buenos Aires e de Santiago, que traz nomes como Modeselektor, Kiasmos, Recondite e Gorgon City? Como fica esta relação com os hermanos?

O line-up do Sónar Buenos Aires 2015
O line-up do Sónar Buenos Aires 2015

(Duda Magalhães) A relação com as demais edições do Sónar em Latam é ótima! Contratamos artistas em conjunto, o que com certeza ajuda a viabilizar o trânsito de muitos artistas pois alguns deles dificilmente viriam a América do Sul para atuar em apenas uma cidade.

Porém, cada país de Latam possui um formato próprio e diferente. O Sónar +D será realizado em Buenos Aires e Santiago (Chile) também. Já Bogotá decidiu apostar mais pelos Shows. Cada edição está adequada a seus respectivos público e mercado.

(Pulso) Vale dizer que o Sónar +D é um ponto positivo desta edição. Com a curadoria do crew Navegador – Alê Youseff, Hermano Vianna e Ronaldo lemos – esta parte do festival vai abordar o tema “refazer, no sentido de que tudo, na atualidade, está sendo e deve ser reconstruído” (extraído do site). É interessante o tema porque, na verdade, o festival em si está refazendo sua história no Brasil. Qual a relevância do Sónar+D neste sentido? Como surgiu a ideia de traze-lo?

(Duda Magalhães) O objetivo do Sónar é (e sempre foi) contribuir efetivamente com o desenvolvimento artístico, tecnológico e criativo do país e, dentro de alguns anos, ser uma referência neste sentido na América Latina. A edição de 2015 terá um formato diferente, será um Sónar mais integrado com a cidade de São Paulo.

Além dos shows no SónarClub, a programação ainda conta com o Sónar Cinema, uma mostra audiovisual, e uma conferência internacional, o Sónar+D. Este formato de Sónar é bem diferente daquele realizado em 2012. É feito desta forma em outras cidades do mundo, sendo mais versátil e plural, ampliando os focos em conteúdo além dos shows.

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(Pulso) Sobre o SónarCinema, a mostra de filmes gratuita. Ela acontece no mesmo espaço do Sónar+D, certo? Todos os filmes são do Frank Scheffer (diretor de cinema Holandês conhecido pelos seus documentários musicais). Já que o festival ampliou sua oferta de conteúdos para além da música, será que não valeria abrir um espaço para produtores e diretores locais apresentarem suas obras?  

(Duda Magalhães) Claro, sem dúvida! Ótima sugestão para as próximas edições. Queremos inclusive ampliar os locais de exibição do Sónar Cinema para praças, universidades etc.

(Pulso) Qual a expectativa de público para o Sónar Club (dia 28/11)? Como vocês estão lidando com a crise do dólar versus cachês e demandas dos artistas (o rider do Chemical Brothers pesa algumas toneladas…)?

(Duda Magalhães) A expectativa de público é de 15.000 pessoas somando os três espaços (Club, Cinema e +D). Realmente, não é fácil trabalhar com dólar no patamar dos R$ 4,00, especialmente em um momento econômico delicado como esse.

Para piorar, ainda temos a Lei da Meia Entrada que nos obriga a ter uma cota mínima de ingressos com 50% de desconto. Como sabemos, é duvidosa a procedência de muitos dos documentos que dão direito a este benefício. É um desafio enorme realizar um festival no Brasil e precisamos de muitos parceiros para torná-lo realidade.

(Pulso) A pergunta que não quer calar: existe alguma chance de um dia termos no Brasil um Sónar à altura que foi o de 2012?

(Duda Magalhães) Claro que sim. A visão é essa mas dependerá de inúmeros fatores relacionados à mercado e economia do que apenas o nosso desejo. Queremos crescer o projeto de forma sustentável e consistente.

Line do Sónar SP 2012. A Bjork foi substituída pelo Kraftwerk. Nada mal, né?
Line do Sónar SP 2012. A Bjork foi substituída pelo Kraftwerk. Nada mal, né?

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Nós também, Duda, estamos na torcida pelo festival. Nos vemos na pista!

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