Na fila do caixa eletrônico, escuto a conversa de duas meninas cujas idades somadas não davam a minha: “- minha mãe vai me matar, acabei de gastar R$ 120 reais em uma camisa e uns acessórios na lojinha do Lolla. Saca mais dinheiro para a gente poder comer, tá?”.
Desta vez, não foram os shows ou artistas que mais me chamaram a atenção. O verdadeiro headliner do Lollapalooza Brasil foi ele mesmo. O festival cresceu, apareceu e se consolidou como um grande festival. Deu um salto gigantesco comparado a edições anteriores, investiu pesado em estrutura, em opções alternativas de diversão, em gastronomia, compras e experiências de interação com marcas.
Em resumo: qualquer um que fosse a esta edição do Lolla poderia ter a experiência completa de curtir um festival, sem necessariamente ter que assistir a nenhum show.
PATROCINADORES SÃO OS NOVOS HEADLINERS
“- Nós ficamos 3 horas na fila do lounge da Skol para pegarmos um pôster com nossa foto estilizada. No sábado não conseguimos, mas hoje viemos para cá decididas a não sair de lá enquanto não levássemos nossas fotos.”
Este foi um dos muitos depoimentos que nossa equipe de pesquisadoras escutou ao longo dos dois dias de festival que reforçam uma tendência: as marcas disputam cada vez mais atenção com os artistas dos festivais.
A ativação de marca que mais chamou a atenção das pessoas com quem conversamos foi o exemplo lúdico desta afirmação: a Pepsi criou uma lata gigante de led que tinha um palco com uma banda (destas) de festa de formatura convidando as pessoas a subirem, no melhor estilo karaokê, para cantarem hits e ganharem seus cinco minutos de fama.
“Pode ser Épico” era o nome da ação da Pepsi. E foi. Não houve um minuto que o palco não estivesse cheio. Em um momento marcante, no meio do rock’nroll que rolava entre os palcos Onix, Axe e Skol, um menino cantava hits sertanejos para uma platéia animada de meninas vestidas como neo-hippies e meninos barburdos com camisas xadrez. Detalhe: todos cantavam juntos.
Já a Rayban montou um stand onde as pessoas passavam pelo menos uma hora na fila para ganhar uma camisa branca personalizada com uma frase criada pelo público e um desconto de R$ 100,00 na compra de um óculos. No lounge do energético Fusion, as pessoas esperavam na fila não para ganharem um brinde físico, mas para aprenderem a discotecar com alguns DJs profissionais (e ter seu mix gravado para escutar mais tarde em casa).
Quando perguntava às pessoas porque elas ficavam na fila ao invés de ir ver algum show, a resposta era invariavelmente a mesma: “- porque não tem nada que me interesse muito ver agora”.
As marcas que mais acertaram foram aquelas que colocaram as pessoas do festival como protagonistas de suas ações. A geração selfie saiu agradecida.
LINE-UP DE COMIDAS
E quando não eram as marcas que desviavam a atenção dos shows, o culpado era a comida.
“Muito legal vir pra um festival que tem um line-up de comidas também”, respondeu outro entrevistado.
O lounge Chef Gourmet, que ano passado já havia sido um dos pontos altos do festival, ganhou um reforço ainda maior com a presença de diversos food trucks espalhados ao longo do evento. A experiência de comer algo inusitado aparecia em nossas entrevistas de maneira muito similar a escolha de assistir um ou outro show: “- Cara, você tem que comer um hamburger de carneiro que rola lá perto do Skol Stage”. Ou ” – Comi um risoto excelente! Quando poderia imaginar comer um risoto num festival?”.
Nosso favorito : Los Mendozitos drinktruck
Apesar da novidade ser bem-vinda, os preços estavam salgados. Para alguns, os “mangos”, fichas que valiam R$ 2.5 cada, era uma forma de enganar as pessoas. “Pô, quando fui calcular o valor da comida que estava comprando (12 mangos), eram R$ 30 reais!”, reclamou outro entrevistado.
CRISE NO MODELO? SÓ PARA QUEM VIVE DE PASSADO
O Estado de São Paulo publicou um artigo intitulado: “Crise Chega ao Festival e Obriga Organização a Repensar Estratégias (leia aqui)”.
Honestamente… que crise? O artigo fala que o festival estava menos cheio que anos anteriores, mas não fala o quanto houve de incremento de investimento de marcas patrocinadoras. Quem esteve lá não se queixou, muito pelo contrário: não havia filas para bares, banheiros, os shows foram muito bem-recebidos e conversamos com muitas pessoas de fora de SP e um numero maior ainda de pessoas que estavam lá pela 1ª vez.
O artigo também reclama dos preços de entrada e comida. Faz sentido. Mas quando houve algum elogio a preços em festivais?
Também diz que no domingo – dia mais lotado do evento – cambistas na porta do evento estavam vendendo ingressos a preços menores que os cobrados pelo festival. Ora, quem entende o mínimo de economia, sabe que cambistas no domingo estão tentando se livrar dos últimos convites que tem na mão. Não faz sentido cobrarem a mais que na bilheteria, a não ser que esta informasse o sold out, né?
Quando perguntei a um garoto de seus 17 anos, que já tinha ido a 8 festivais (!), entre eles 3 edições do Lolla, Planeta Terra e Rock in Rio, como seria o seu festival dos sonhos, ele disse: “- Exatamente como o Lolla, que é um festival redondo, que entrega o que promete, traz um line-up diverso e tem um monte de coisa pra fazer entre shows. Só sinto falta de umas atrações ainda mais fortes… queria que viesse o Radiohead”.
Por fim, mais de 90% das pessoas que entrevistamos mostraram-se bastante satisfeitas com o festival, informando que voltariam em proximas edições.
O Lollapalooza abriu de forma épica a série dos grandes festivais de impacto internacional que serão realizados no Brasil em 2015. Deposita uma responsabilidade e expectativa imensa para o Tomorrowland, Rock in Rio e Sónar. Nos vemos no próximo.