Como um Festival Pode Fazer um Mundo Melhor


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Durante o SXSW deste ano, fui entrevistado pela equipe do Youpix para falar sobre um dos temas que mais tenho observado nos últimos meses: a impermanência das coisas.

É curioso observar como uma das redes sociais de maior crescimento, o Snapchat, é firmada na mesma premissa de um dos mais admirados festivais da atualidade, o Burning Man. Ambos são alimentados por um conteúdo “no trace”, sem rastros (leia aqui: Burning Man, O Maior Festival Sem Traços do Mundo).

Essa tal impermanência apresenta como consequência uma série de novas formas para pensar e discutir inovação, do design à arquitetura, passando pelas políticas públicas e até mesmo em carreiras (tema do meu primeiro post para o Medium, em breve!).

Mas o que isso tem a ver com o Projeto Pulso? Tudo.

Afinal, cada vez mais os festivais deixam de ser apenas um coletivo de shows para tornarem-se verdadeiras cidades temporárias.

Roskilde Festival: Um Laboratório de Cidades

Na última semana, foi publicada uma matéria sobre o festival dinamarquês Roskilde, um dos mais 3 maiores eventos de música pop da Europa, junto com o Glastonbury, na Inglaterra, e o Sziget Festival, na Hungria.

Roskilde, Um Laboratório de Cidades

O Roskilde foi criado em 1971, por dois estudantes e um promotor de eventos (veja mais aqui: Festival dos Sonhos: Roskilde). A partir de 1973, o festival passou a ser organizado pela Sociedade do Festival de Roskilde, que desde então administra o festival como uma organização sem fins lucrativos para o “desenvolvimento da música, cultura e humanismo”.

Na matéria em questão, Signe Brink Pedersen, expert em arquitetura temporária e residente da Sociedade do Festival Roskilde, explica, entre muitas coisas, o que uma cidade pode aprender a partir de um festival:

“Existe um paradoxo entre na fluidez temporária e urbana que um festival se constrói. Por um lado, permite um maior número de rápidas inovações e “idéias selvagens”. Por outro, ainda que efêmeras, estas criações podem nos inspirar a criar um futuro melhor.”

Algumas destas ideias nos forçam a pensar diferente o status quo do mundo em que vivemos. As experiências de quem cria ou consome essas inovações altera nossa percepção e cria um novo imaginário sobre um mundo possível. Quem já foi ao Burning Man ou ao SXSW, sabe do que estou falando.

Vista aérea do camping no Roskilde

Ilustrando o argumento: o crescimento dos campings nos festivais estimula a criação de ideias e soluções inteligentes para questões contemporâneas como densidade populacional, consumo de energia e meio ambiente.  O camping do Roskilde abre 4 dias antes do festival começar. É um gigantesco laboratório para experimentações e pesquisas, da antropologia ao urbanismo.

Uma das principais prioridades do Rokskilde, que reune anualmente 130 mil pessoas, é encontrar formas de reutilização para o lixo produzido pelo público. Por exemplo, são produzidas camisas a partir das fibras de copos de plástico descartáveis: “Também já construímos um imenso balão que serve de espaço comunitário para os frequentadores do festival a partir de dejetos. E até mesmo uma igreja a partir de latas de cerveja”, comenta Signe.

“Igreja” feita de latas de cerveja

Signe também participou de um projeto chamado Making the City em 2014, cujo propósito era justamente discutir como experiências em festivais podem trazer “mais vida” para espaços urbanos. Segundo ela, artistas e arquitetos não são os únicos que usam o Roskilde como uma plataforma de experimentos. O festival também tem atraído tecnólogos, pesquisadores e empresas que usam o espaço temporário Roskilde para análises em um contexto mais amplo (qualquer semelhança com a quantidade de publicações científicas envolvendo o Burning Man não é mera coincidência).

Uma área específica – e óbvia – refere-se às redes de telefonia, que tem a oportunidade, nestes festivais, de testar os limites os seus serviços. Os padrões de consumo telefônico em um festival apresentam indicativos do que algumas das cidades mais populosas do mundo irão provavelmente presenciar nos próximos anos.

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Como costumo dizer que, para entender o espírito de um tempo, observe um grande festival. Por aqui, no Brasil, ainda estamos engatinhando neste tipo de pesquisa. Podemos nos inspirar nos exemplos de fora, estimulando parcerias e pesquisando aprendizados para um mundo melhor.

Nós aqui do Pulso já abraçamos esta missão. E você?

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Cinco anos de pesquisa e conteúdo sobre a cultura dos festivais.

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