Alguns amigos me perguntaram o que fui fazer em Recife nesta época do ano ‘off-carnaval’. Mas pra mim, Pernambuco e consequentemente Recife é um lugar ímpar no Brasil. Um verdadeiro caldeirão de inventividade, sempre aberto ao novo e a experimentação em todas as suas vertentes culturais. Talvez seja o paraíso da ‘cultura alternativa’, se você é do tipo que gosta de rótulos, mas lá nada é alternativo, tudo é cultura de verdade.
No fundo no fundo, eu sabia que tinha ido mesmo era ver o Festival Coquetel Molotov, pois já o acompanhava há um tempinho e pela primeira vez seria realizado na Coudelaria Souza Leão. Uma fazenda linda, inacreditável e enorme, utilizada para criação de cavalos (aprendi que o nome que se dá a esse tipo de espaço é justamente coudelaria) e o local fez toda a diferença pro festival.
A programação era enorme e não contou apenas com este dia de shows na Coudelaria. Já haviam acontecido também outros shows, festas e até mostra de filmes em Recife e até em Fernando de Noronha.
Na fazenda apresentaram-se mais de 20 atrações que você não costuma ver por aí facilmente, vindas de lugares como o Piauí, Goiás, Rio Grande do Norte, Minas, Bahia, Rio, São Paulo, Pernambuco e até uma banda francesa que se dividiram por 3 palcos no festival. O line-up final foi composto pela Banda Tono e a sempre magnética participação de Ney Matogrosso, a banda cearense do Fernando Catatau, Cidadão Instigado e o rapper paulista Emicida, estes dois últimos, lançando discos novos.
Uma atração à parte era o Som na Rural, do famoso agitador cultural de Recife, Roger de Reno. Quem não lembra de Chico Science cantando ‘Cadê Roger? Cadê Roger? Cadê Roger, oh?’. Pois é, dentre os muitos projetos que ele possuí na capital pernambucana, uma das mais bacanas é esta, Rural, que na verdade funciona como uma verdadeira house mix! Com direito a luzes piscando e uma pista de dança quadriculada. A Rural contava com uma programação própria com vários DJs que mantiveram a pista cheia durante todo o evento.
Emicida fechou o festival com um showzão! Seu último disco – ‘Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa’, traz influências de sua temporada na África num show de muita percussão e uma super banda que junto as suas letras quebraram tudo. A revelação pra mim, ficou por conta da banda carioca Mahmundi que não conhecia (sic!) e fez um show bem dançante e muito bacana.
Algumas coisas me chamaram atenção: o festival foi muito bem organizado e contava com uma tenda vendendo produtos de artesãos, roupas e camisetas. Muitas coisas da cultura regional e possuía ainda uma praça com food trucks. Sabe qual era o preço da cerveja? Apenas R$ 4. Do estacionamento? R$ 5. Pois é, festival no Nordeste é bem diferente dos ‘Pallozas da Vida’. E apesar do festival ter tido diversos patrocinadores, as marcas praticamente não existiam. Estavam presentes apenas em banners da lateral do palco principal, praticamente imperceptíveis!
Mas sabe qual foi pra mim a principal diferença deste festival? O seu público! Uma galera jovem, antenada, curiosa e de estilo próprio. Nada mais Pernambucano! Não se comportavam como uma tribo única, daquelas que se vestem e se comportam de forma igual, mas cada um tinha seu próprio estilo, grupos de amigos que me pareceram distantes daquela ansiedade que você costuma ver em outros shows e festivais por aí.
Gente simpática, divertida que se misturava as performances artísticas que aconteciam durante o festival de uma maneira bem heterogênea e harmoniosa. Apenas lamentei ter toda essa estrutura montada pra ser utilizada em apenas 1 dia de festival. Vai ver que é pra não perturbar muito os cavalos, sei lá. Quem sabe se ano que vem eu não volto… 🙂
Tirei muito poucas fotos, mas o IHF estava lá e você pode conferir um belo álbum de fotos do Festival aqui.