Quase na surdina, o Rock In Rio confirmou na semana passada três respeitadas atrações de peso para o line-up do palco Eletrônica: Carl Craig, Dave Clarke e a dupla Lee Foss & Anabel Englund.
Carl Craig é o principal produtor e DJ da segunda geração do Detroit techno, terra que deu origem ao gênero. O inglês Dave Clarke é o papa do techno underground, conhecido pela sua técnica (e marra) por trás dos toca-discos. Já os norte-americanos Lee Foss e Anabel Englund representam um lado mais pop da deep house, com “músicas para cantar junto”, como na ~fervida~ apresentação embaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=INM4OD-N43Q
Além das três apresentações, que completaram o line-up da pista, também foram importados os gringos Kerri Chandler e a diva Barbara Tucker, duas lendas do soulful house americano, a dupla italiana de electro-house Crookers, o produtor holandês de hardstyle Headhunterz e os Djs e produtores europeus de tech/house Matthias Tanzmann, Davide Squillace, Pig & Dan e Matador (este último, canadense).
Somados aos nacionais, são tantos nomes bacanas que seriam suficientes para criar um festival próprio.
E é aí que surgem as questões: Porque o festival de música mais mainstream do país investiu em respeitados – porém desconhecidos das massas – headliners? Não faria mais sentido trazerem os novos popstar DJs da EDM? Porque estes nomes foram anunciados só agora, justamente quando o site oficial do festival anuncia que os ingressos estão esgotados?
Afinal de contas… Para que serve a pista eletrônica no Rock in Rio?
Palco Eletrônica: O Patinho Feio do Rock in Rio
O Rock in Rio pode até mostrar simpatia, mas a pista eletrônica é o patinho feio do festival. Vamos aos fatos:
- A pista eletrônica é a única que não possui nenhum tipo de transmissão para quem não está no evento, nem mesmo no streaming (que tal uma parceria com o Boiler Room, Beatport ou Multishow?)
- Visivelmente, o orçamento da programação artística é o menor de todos. Embora apresentem-se por lá respeitados artistas da cena internacional, dentro do budget artístico do festival, arrisco dizer que este palco não representa nem 10% do valor total.
- No livro “Rock in Rio – A História do Maior Festival de Música do Mundo”, da editora Globo, o jornalista Luiz Felipe Carneiro, relata em 380 páginas uma detalhada história sobre o evento, passando por todas as principais apresentações do festival, mas ignorando qualquer menção à pista eletrônica e os DJs que por lá se apresentaram.
- Até mesmo no atual site do Rock in Rio, até o fechamento deste post, a seção de line-up está preenchida com a foto e descritivo de todas as atrações. A exceção são os artistas do palco Eletrônica, que permanecem com algumas imagens genéricas. Até as fotos e bios da Rock Street estão já atualizadas (fica a dica, galera: Kerri Chandler é com “i”)
Embora figurinhas carimbadas por aqui, Carl Craig e Dave Clarke são headliners de eventos como Sónar, conhecidos por investirem em artistas com um pé na vanguarda e outra na tradição.
Dentro de um Rock in Rio, porém, a impressão que fica é a daquela de quem vai numa churrascaria rodízio e encontra uma estação de comida japonesa. Vc até pode comer… mas não está lá pra isso.
Dado o perfil mainstream do Rock in Rio, talvez o caminho mais natural fosse uma evolução da edição 2013, quando convidaram o top DJ francês David Guetta para se apresentar no Palco Mundo. Vale lembrar (e elogiar) que o Rock in Rio foi o primeiro festival de música pop no Brasil a colocar no palco principal um DJ.
Assistir a um DJ no palco principal do Rock in Rio foi, como diria o autor Nassin Taleb, um “Cisne Negro”. Ninguém esperava… E quando tudo caminhava para uma presença mais forte da EDM no Rock in Rio, ao contrário de praticamente todos os grandes festivais de música deste ano, o festival decidiu novamente colocar a fantasia de patinho feio no cisne, escondendo-o mais uma vez lá no final da Rock Street.
Pelo menos desta vez, a pista tem companhia…
Francamente, Rock in Rio… WTF is Rob Master??!
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É por essas e outras que fica dificil de entender como um festival deste tamanho, que faz uma curadoria tão legal (inclusive na eletrônica), vacila no cuidado, na atenção com os fãs e no timing de divulgação que estes artistas como esse merecem. Por aqui, estamos ligados.