No início do século XX, os festivais de música como conhecemos hoje eram ambientes sofisticados e restritos à apenas uma pequena parcela da população norte-americana e européia, que podiam pagar elevados preços em apresentações de música clássica e, posteriormente, jazz.
Porém, a década 60 marcou o período de transição, em que esses eventos se popularizaram a partir do crescimento econômico pós guerra e do florescimento de um promissor mercado consumidor: os jovens, que estavam moldando suas identidades através da cultura material como a moda, música, comida, arte e literatura.
Um dos pioneiros e o mais icônico dos grandes festivais de música foi o Woodstock Music and Art Fair, realizado em 1969 e que seria cara, o som e a voz da geração que transformaria valores, crenças e ideologias. O que é bem menos conhecido, entretanto, é como quase meio milhão de hippies sobreviveram ao longo dos quatro dias do festival além da música, paz e amor.
A GENTE QUER COMIDA, NÃO SÓ DIVERSÃO E ARTE
Com uma estimativa inicial de 200 mil pagantes em um evento considerado gigante para os padrões da época, nenhuma empresa de fornecimento de alimentos estava preparada para assumir um compromisso desse porte. Às vésperas do festival, a concessão do serviço de alimentação foi então feita à pequena Food of Love, empresa de três amigos com pouca experiência no ramo. Acontece que além dos 200 mil pagantes, estima-se que outras 200 mil pessoas compareceram ao local, onde as cercas da fazenda foram destruídas e o festival mais icônico da história se tornou um evento gratuito.
Enquanto os cachorros quente e hambúrgueres produzidos pela Food of Love acabavam em velocidade da luz e filas intermináveis se formavam para a compra dos poucos sanduíches, os proprietários aumentaram os preços dos cachorros quente de US$0,25 para US$1,00.
Para os participantes, essa mudança era exploração capitalista em desacordo com o espírito do festival e revoltados, queimaram duas carrocinhas. Os moradores da região começaram a enviar comida para o evento, e um grupo de ativistas que estava trabalhando na segurança, o Hog Farm Collective, serviu para os participantes arroz com vegetais e até então, uma desconhecida mistura de frutas secas e grãos, a granola. A partir do Woodstock a granola se popularizou como comida de hippie, muitos anos antes de “comida local, sazonal e orgânica” virar um mantra contemporâneo.
Essa e outras histórias do Woodstock estão contadas aqui.