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Nos dias 25 e 26 de Julho, o mais desejado festival de música eletrônica do mundo deu uma AULA sobre como se adaptar e criar rapidamente – mesmo diante de uma crise global – um valioso novo modelo de negócios para festivais.
Tomorrowland Around The World não aconteceu em Boom, cidade-natal do festival na Bélgica, onde seria realizado nesse ano a sua 16ª edição.
No lugar do mundo físico, a organização do evento criou um mundo digital, a mágica ilha de Pāpiliōnem.
A versão digital do Tomorrowland compreendia 8 palcos, por onde se apresentaram mais de 60 atrações de todo o mundo (incluindo um show surreal da Katy Perry), além de 9 experiências complementares (como jogos, palestras, loja de merchandising e um mural que funcionava como uma timeline colaborativa de conteúdos postados nas redes sociais).
A organização do festival conseguiu algumas façanhas que merece todo o nosso respeito e admiração:
- Eles criaram um maravilhoso mundo mágico com qualidade gráfica compatível com os melhores games disponíveis hoje no mercado. Tudo isso em 3 meses.
- Ao combinar os palcos com as experiências, o evento também criou aquela sensação de F.O.M.O. que todo bom festival entrega: você fica deliciosamente perdido querendo estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. Eles replicaram no mundo digital uma experiência até então só conhecida no mundo presencial.
- Diferente de 99% das lives disponíveis no mercado, o Tomorrowland Around The World foi 100% pago, com ingressos variando de 12,50 euros (um dia) a 50 euros (pacote que incluía a transmissão ao vivo dos dois dias do evento + o direito de assistir uma reprise das suas apresentações favoritas até 3 de agosto).
- Marcas globais como Beck’s, Pepsico, Absolut e Lypton estavam lá, literalmente “marcando presença”, nomeando palcos, investindo em conteúdos e proporcionando novas experiências para o público.
O resultado?
Quantitativamente, a organização do festival informou que mais de 1 milhão de pessoas participaram dessa edição.
Isso significa um incremento de 150% sobre a base de frequentadores de sua última edição presencial, que reuniu cerca de 400 mil pessoas durante dois finais de semana.
Qualitativamente, o Tomorrowland digital apresentou uma prévia do que pode ser o futuro dos festivais. Além de testar um novo modelo de negócio que, provavelmente, será repetido e desenvolvido para a próxima edição.
Como falamos em nossas lives e encontros do ØCLB de Pijamas, estamos presenciando, sem sair de casa, o renascimento das experiências e do entretenimento ao vivo.
A transformação digital dos negócios é apenas uma das muitas tendências que foi acelerada nesse período de pandemia.
E o Tomorrowland é um ótimo estudo de caso para quem quer entender o que mais vem por aí.
Nem tudo são flores na ilha de Pãpiliõnem
O erro é uma consequência natural de quem inova.
Não há precedentes para o novo e quem “está com a cara no vento” assume muito mais riscos do que quem copia e segue “na aba”.
O principal aspecto que deixou a desejar foi a falta de interação e um cuidado maior com o protagonismo dos participantes do evento.
Nossa sala de chat não funcionou em nenhum momento. Havia uma opção para criar um grupode conversas privadas, mas também não conseguimos habilitar essa função.
Havia poucas possibilidades – praticamente nenhuma – de interação entre os participantes, algo que qualquer festival presencial tem como premissa fundamental (quem nunca trocou uma ideia com um desconhecido na fila do bar? Ou conheceu alguém num festival?)
Também rolou uma certa estranheza, beirando o desconforto, de conferir os 280 mil “participantes digitais” criados para o evento dançando numa pista fervida com direito a intervenções sonoras que simulavam o grito da galera .
Em tempos de quarentena, em que a maioria de nós encontra-se em distanciamento dentro de nossas casas, soou um pouco “deslocado” participar de uma festa online com uma pista artificialmente criada com uma aglomeração de “pessoas-bots”.
Um dos aspectos mais bacanas que as lives da quarentena trouxeram foi justamente esse aspecto intimista e próximo de um artista tocando “só” para você, não é verdade?
Talvez, quando voltarmos a ter edições presenciais, e pudermos criar avatares como no Fortnite para interagir e dançar com as outras pessoas, essa ideia faça mais sentido.
E prepare-se para investir uma grana para comprar sua skin “by tomorrowland” em 2021.
Quer apostar?
O que podemos esperar para o Tomorrowland Digital 2021?
1) Um novo modelo de negócios que veio pra ficar
Se o ingresso mais barato custa 12.5 euros (algo como 75 reais) e mais de 1 milhão de pessoas participaram… façam as contas. É bem improvável que a organização do evento venha a investir pesado nessa nova fonte de renda. Ainda mais em um momento em que não sabemos ao certo quando voltam festivais desse porte.
2) Geosegmentação de experiências na veia
Orçamentos de 2021 estão sendo planejados nesse momento. E já temos um festival, 100% digital, com escala global, e que pode vender propriedades locais ativadas de acordo com o país de acesso de cada pessoa. Isso quer dizer, por exemplo, que uma marca pode aparecer somente para a audiência Brasileira, enquanto no mesmo palco poderia aparecer outra marca para participantes de outro país.
3) Podemos esperar uma plataforma de games do Tomorrowland?
A indústria dos games é uma das que mais cresceu esse ano. Grande parte do público do Tomorrowland também é gamer. Some 1 + 1 e teremos um par perfeito. A tendência é que uma próxima edição do festival se aproxime cada vez mais do modo Party Royale, do Fortnite, onde cada participante tem seu personagem, skins (hello merchandising!) e a opção de interagir de forma mais imersiva ao longo do festival.
Aguardemos cenas dos próximos capítulos…
“Yesterday is history, tomorrow is a mystery, and today is a gift”