Dividida em onze palestras e disponível somente no último dia do festival – uma pena, já que o assunto rende muita discussão boa – o palco Music Notes recebeu artistas para falar sobre o futuro da indústria musical. Alguns nomes são o respeitado compositor e produtor Jean-Michel Jarre, o veterano DJ Gilles Peterson (BBC), o vocalista e líder do grupo Belle & Sebastian (Stuart Murdoch), além de influentes players do setor como Isabel Garvey, principal executiva do lendário estúdio Abbey Road, mais conhecido como “o estúdio dos Beatles”.
Compartilho alguns dos insights e destaques dessa programação que abordou o futuro da indústria musical.
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O streaming impulsiona os eventos ao vivo
Durante a palestra Live Music: Getting Fans Out More, Gabrielle Jenks, responsável pela organização do Manchester International Festival (MIF), fez um interessante paralelo entre a indústria dos filmes com a dos eventos ao vivo. Ela apontou como o público dos cinemas vem aumentando nos últimos anos, apesar da crescente oferta de plataformas de streaming como Netflix, Amazon Prime e Hulu.
Da mesma forma, ela acredita que eventos que investem em boas transmissões ao vivo acabam despertando interesse em mais pessoas em conhece-los. Uma das causas do recente “boom dos festivais” também passa pelos hábitos de consumo das novas gerações. É preciso considerar a forma como fãs destes eventos consumem experiências não apenas durante o evento, mas também (e principalmente) pré e pós-produção.
O app da música infinita
Jean-Michel Jarre, compositor, produtor e “papa da música eletrônica francesa” esteve no Web Summit para lançar o aplicativo Eon (disponível somente para iOS). Produzido em parceria com a Sony Computer Science Laboratories (Sony CSL), trata-se de um app de música generativa, ou seja, uma nova forma de consumir música. Eon, cujo nome remete ao deus grego da eternidade, tem uma única funcionalidade: toda vez que você abre o app, ele toca uma música completamente nova e diferente (criada, claro, por monsieur Jarre).
Apesar de aplicativos de música generativas não serem uma novidade, o que destaca o Eon dos demais é o fato de você nunca ouvir a mesma música. Em tempos de stories, snaps e festivais que constroem verdadeiras cidades temporárias (ex: Burning Man, Boom, Sziget etc), é curioso ver como a efemeridade vem sendo valorizada na sociedade pós-digital.
Curadoria humana forma comunidades no futuro da indústria musical
Um dos destaques do Music Notes foi a conversa entre o CCO do WeTransfer, Damien Bradfield, e o DJ e produtor franco-inglês Gilles Peterson. Gilles é um “musical tastemaker”, um artista que viaja para lugares os mais remotos do mundo para investigar sua música local e apresenta-las à novas audiências. Uma de suas últimas iniciativas foi a rádio Worldwide FM. Em uma das conversas “mais humanas” que vi no Web Summit, Gilles explicou porque acredita na importância das rádios – e por tabela, na curadoria humana – como um ponto de equilíbrio aos algoritmos de recomendação de plataformas como Spotify, Deezer e Apple Music.
“Alguns artistas incríveis de hoje em dia como FKA Twigs ou The Comet is Coming, ou movimentos recentes como a nova cena de jazz britânica não são facilmente encontradas nestas plataformas. Rádios oferecem um meio de formação de comunidades para esses tipos de artistas, gêneros e cenas musicais”.
E o app que ganhou o prêmio de inovação foi…
Cinco startups se apresentaram no Music Notes, como parte da premiação Music Innovation 2019. Peex é um serviço que promete melhorar a qualidade da distribuição sonora em eventos ao vivo e festivais. OWone é uma caixa de som que otimiza a definição do áudio com um custo mais acessível que os atuais sistemas de som de alta fidelidade. Show4me é uma plataforma de serviços para artistas se conectarem com fãs. Sound Particles é um software de computação gráfica sonora.
Mas o vencedor do dia foi o Vochlea, um app que usa de machine learning para transformar nossas vozes em instrumentos musicais como baterias, guitarras e pianos. Merecido. Com uma demonstração ao vivo surpreendente, Vochlea promete acelerar, facilitar e transformar o futuro da produção musical.
Dos sintetizadores à Inteligência Artificial no futuro da indústria musical
Um pouco nervosa no início, mas com muito conteúdo interessante para apresentar, Isabel Garvey, a executiva britânica à frente do estúdio de música mais famoso do mundo – o Abbey Road Studio – envolveu a audiência em uma jornada musical que foi de Yesterday até Tomorrow Never Knows, dois clássicos que marcaram a carreira dos Beatles. Isabel nos apresentou a incubadora Abbey Road Red, um laboratório de inovação musical pioneiro em explorar o futuro da música (o Vochlea, citado acima e ganhador do prêmio Music Innovation 2019, foi criado lá).
A diretora do Abbey Road Red fez um interessante paralelo entre os sintetizadores e a inteligência artificial. Segundo ela, quando os sintetizadores surgiram no mercado na década de 80, muitos músicos protestaram ameaçados pela nova tecnologia. Alguns chegaram a se reunir num movimento que sugeria a proibição destes instrumentos em estúdios. Porém, foi graças ao sintetizador que artistas se lançaram, novas formas de composição foram criadas e até novos gêneros musicais foram criados (como a EDM). Isabel acredita que a inteligência artificial trará uma nova revolução criativa para a indústria da música, como os sintetizadores 35 anos atrás.