Durante muitos anos o Fuji Rock esteve no topo da minha wishlist de festivais. Mas encarar um festival no Japão (especialmente se seu conhecimento do idioma se limita ao básico “arigato”, como é o meu caso) requer um pouco de preparo. Finalmente em 2014, um amigo se animou e começamos a botar a coisa toda em prática.
O Fuji Rock Festival é um festival que acontece todos os anos no Japão desde 1997. As duas primeiras edições aconteceram no pé do Monte Fuji (por isso o nome), mas desde 1999 migrou para estação de esqui Naeba – pouco menos de 200km de distância de Tokyo. Pode-se dizer que ele é algo como um “Glastonbury Japonês”. Em pleno verão nipônico, muitas das bandas que fizeram parte do line up de festivais na linha do próprio Glastonbury, Coachella, Reading Festival desembarcam no Japão para se apresentar em um dos 7 palcos principais do festival.
Público no White Stage – foto Rodrigo Esper / I Hate Flash
Ingressos e hospedagem
O primeiro desafio para chegar até o Fuji Rock é entender o site de compra de ingressos. O ingresso em si é super tranquilo, agora a hospedagem é outra história. Eles aparentemente oferecem um tipo de pacote que inclui transporte + hospedagem a partir de cidades próximas. “Aparentemente” porque até hoje eu não conseguir descobrir exatamente como funciona. Apesar do site ter uma versão em inglês, volte e meia você clica em algum link que te leva para outra página no idioma original. Sem entender muito bem o site e com os hotéis próximos lotados, partimos pra opção básica de hospedagem: o próprio camping do festival.
Chegamos em Tokyo com dois dias de antecedência. Rodamos a cidade atrás de coisas que pudessem facilitar nossa vida no festival, independente do clima: galochas, capas de chuva, lanterna, etc. Uma ótima dica: se você também deixar pra comprar o “kit acampamento” no Japão, tem uma loja de conveniência colada no festival que vende absolutamente tudo que você precisar.
Camping – foto Rodrigo Esper / I Hate Flash
Chegando lá
Deixamos a cidade numa quinta-feira, um dia antes do primeiro dia de shows. A viagem é tranquila, primeiro um trem até Echigo-Yuzawa (a estação mais próxima) e de lá um ônibus até o local do festival. Outra ótima dica: se você conseguir reservar um hotel próximo a esta estação, provavelmente é o melhor esquema de hospedagem pro festival. Esse ônibus bate e volta funciona até as duas da manhã, durante todo o festiva e é gratuito pra quem tiver ingresso. Você consegue assistir o último show tranquilamente e voltar pro conforto do seu hotel com cama e chuveiro quente. Hospedagem em outras cidades próximas que dependam de trem não é uma ótima idéia, a não ser que você esteja disposto a perder todos os headliners. O último trem sai muito antes do último ônibus, não lembro ao certo mas algo em torno das 22 ou 23h.
Fila do shuttle bus na estação Echigo-Yuzawa – foto Rodrigo Esper / I Hate Flash
Descendo do ônibus, de cara você consegue perceber que o “Glastonbury Japonês” é muito mais organizado que a maioria dos festivais – pelo menos os que eu tive oportunidade de conferir de perto. Logo na entrada tem um espaço para malas de viagem que provavelmente ocupariam todo o espaço da sua barraca – perfeito para quem quer aproveita a longa viagem até o Japão pra dar uma “mochilada” pelo país depois do festival. Nessa mesma praça de entrada, tem a super loja de conveniências que vai salvar sua vida todos os dias, além de barracas de comida, bebida e loja de souvenirs.
Praça de entrada do festival – foto Rodrigo Esper / I Hate Flash
O camping fica morro acima. Altamente recomendável chegar cedo pra montar sua barraca num local plano e o mais próximo possível dessa praça de entrada. Apesar de bem organizado, toda a parte de banheiros, chuveiros, alimentação, fica concentrada na entrada do camping. Como não tem banheiros adicionais espalhados pela área destinada as barracas, se você chegar tarde corre o risco de ter que montar sua barraca 20 minutos morro acima do banheiro mais próximo (o que é pra lá de incoveniente se você é um entusiasta do chopp que eventualmente precisa ir ao banheiro no meio da noite).
Nosso primeiro dia foi de reconhecimento do local. Como em quase todo Japão, o inglês por lá é praticamente inexistente. Mas com boa vontade e um pouco de mímica, a comunicação não é tão complicada assim. O pouco inglês que você ouve por lá é da invasão de australianos que não conseguiram comprar os concorridíssimos ingressos do Splendour in the Grass (um dos principais festivais da Austrália) ou quiseram mudar um pouco de ares. Há anos os dois festivais acontecem na mesma data, sempre no último final de semana de julho.
Descobrindo os caminhos do Fuji Rock – foto Rodrigo Esper / I Hate Flash
Eu não sou exatamente uma grande fã de campings e barracas, mas posso garantir que acampar no Fuji Rock é sossegado, mesmo pra quem não adora dormir em colchão de ar. Nossa primeira noite foi ótima, o camping é tranquilo e menos caótico do que nos festivais ingleses. A “festa” acontece ali pela praça de entrada e os palcos são relativamente afastados, por isso não tem muito barulho.
Na manhã seguinte fomos ver as condições do “perrengue master” de todos os festivais: o banho. Ficou curioso para saber como é tomar banho em um festival japonês? Conto a segunda parte dessa aventura amanhã aqui no Pulso!