Review Locomotiva 2016: história, atitude e música boa em um festival cheio de potencial


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Piracicaba, no interior de São Paulo, é uma ilha de atitude. Localizada em uma região com um dos maiores PIBs do país, a cidade tem uma cultura alternativa vibrante, muita arte de rua, uma gastronomia bem peculiar e uma cena musical alternativa que vem despontando como uma das mais criativas da região sudeste, além de um astral muito legal, um rio lindo e um time de futebol mais do que folclórico. Por isso mesmo, resolvemos tirar o fim de semana, encarar algumas horas de estrada, e conferir de perto a segunda edição do Festival Locomotiva. E valeu a pena.

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Chegando lá

O dia amanheceu ensolarado, com um céu lindo. Tomamos um café reforçado no hotel e rumamos para o local do evento. Começou de forma surpreendente! O local é incrível. O distrito de Monte Alegre fica fora da cidade, cerca de 20 minutos de carro do centro, e é uma verdadeira viagem no tempo. Construções antigas, bem conservadas, fazem contraste a ruínas cheias de grafites, proporcionando um clima único. Ali funcionava, em meados do século XIX, uma das principais usinas de açúcar do país. E aquela ruazinha principal era onde ficavam as primeiras habitações feitas para operários e colonos, além de edifícios de uso coletivo, como comércios e serviços.

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Além disso, tudo estava bem organizado, bem sinalizado, fácil e estacionar. E como transporte alternativo, a organização disponibilizou um ônibus gratuito, partindo do centro da cidade.

Entrando na Usina Monte Alegre, local do evento, nos deparamos logo de cara com uma paisagem incrível: as ruínas da antiga usina. Os palcos se localizavam em um deck, e a vista era simplesmente incrível.

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Também descobrimos de que foi naquele local, em 1938, que o piracicabano e gênio da mecânica, João Bottene, liderou a construção da primeira locomotiva a vapor inteiramente brasileira, para aprimorar a logística de distribuição do açúcar produzido ali. Daí o nome do Festival Locomotiva e de seus 2 palcos: Fulvio Morganti e Dona Joaninha (nomes das duas primeiras locomotivas a vapor do país, feitas ali).

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Além da histórica bem interessante, a experiência no evento foi incrível, começando pela música. Foram 12 horas com o melhor da cena independente nacional e da própria cidade, de 11h a 23h do sábado, 29/10.

Vamos à música

Com uma estrutura bem intimista e um público de no máximo mil pessoas, deu pra conferir de perto bandas e artistas fantásticos, como o trio Lumen Craft, na minha opinião o melhor do evento, o projeto instrumental luso-brasileiro, Lucky Lupe, os piracicabanos do Beermudas, com seu incrível “surf brega axé rock tropical progressivo e psicodélico” (como eles mesmo se categorizam),  os curitibanos do psicodélico Marrakesh, MC Fractal, o heavy metal do Water Rats, e o indie rock já consagrado do Carne Doce, de Goiânia, entre outros. Ao todo foram 18 atrações musicais de estilos bem diferentes – do eletro indie ao thrash metal, do hip hop ao pop rock. Aliás, a curadoria foi muito bem feita: qualidade musical indiscutível, diversidade de estilos, e uma mescla bem legal entre novos nomes e os mais conhecidos.

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Ouvimos alguns comentários de que esta edição foi bem menor do que a primeira, que teve 2 dias e mais de 40 shows em um local tradicional de eventos na cidade, mas que, por outro lado, se mudou para o lugar que inspirou a sua criação, ganhou uma dinâmica mais intimista e passou a ter uma forte identidade própria.

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Estava todo mundo lá

O Locomotiva teve um público bem misturado, certamente atraído pelo lineup tão eclético. Tinha muito mais do que uma só tribo. Não gosto de rotular, mas para ilustrar, dá pra dizer que tinha hipster, galera hip hop, tiozões com camisetas de bandas de classic rock (muitos com seus filhos), pessoal do metal, regular guys, entre outros. Talvez o paralelo entre todos eles tenham sido o espírito jovem e a sede por novidades e boa música. Todo mundo convivendo numa boa e respeitando as diferenças. Não teve muvuca, não teve fila, os banheiros foram suficientes e estavam sempre limpos, os shows tiveram uma pegada mais introspectiva. Correu tudo muito bem.

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Além da Música

A experiência além da música também foi ótima. As opções de comida atenderam bem, com restaurantes que já fazem parte do local, alguns food trucks e algumas barracas, como uma de autêntico BBQ Texano, que não resisti. Estava ótimo. Tinha também cerveja artesanal da cidade, além de opções de drinks e Aperol Spritz. Tudo a um preço ótimo, na mesma pegada do evento, que custou apenas R$30,00 (meia entrada mediante doação de 1 litro de leite ou de 1 livro, ou apresentação de carteirinha). Tudo muito justo.

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Além de tudo isso, o pôr do sol foi um show à parte. Só este momento já fez valer o ingresso.

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Os desafios para o futuro

Foi uma experiência surpreendente. Tínhamos bastante expectativa, mas acabou sendo bem diferente do que imaginávamos – e num ótimo sentido! Saímos com aquela sensação de que valeu a pena, e cheios de vontade de retornar no próximo ano. Quero também indicar para várias bandas de amigos e conhecidos para que enviem seu material para a organização do evento e tentem se apresentar por lá. Deve ser bem legal tocar para um público pequeno, diverso, e tão interessado como o que estava ali presente.

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A vibe intimista, com palcos pequenos, leve, despretensiosa e sem pressa (diferente da maioria dos festivais que rolam por ai), aliados ao local surreal onde tudo rolou, fizeram a identidade do festival. E é realmente um ponto a ser mantido para as próximas edições – um desafio diante do crescimento, que certamente virá. A diversidade de estilos também é um ponto crucial no jeito Locomotiva de ser.

Como sugestão, fica a busca por mais pontualidade. O cronograma chegou a ficar quase uma hora atrasado. É uma melhoria essencial, mas nada que tenha tirado o brilho de tudo o que foi feito pela organização, que está de parabéns. Além disso, vale a pena investir mais em intervenções, artesanato, e outros complementos para esta experiência tão legal.

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Para quem conhece aquele pedaço do interior paulista onde fica Piracicaba, o Locomotiva tem um valor maior do que pode parecer, já que projeta a cena alternativa em meio a uma região nacionalmente conhecida pelas suas micaretas, rodeios e eventos universitários com bandas pop. O evento tem tudo para se tornar um dos festivais independentes mais interessantes do Brasil.

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Ficamos na torcida! E voltaremos em 2017.

 

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