Review: Picnik Brasília – Um Festival Aberto às Nuvens


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Atualmente o Picnik já é um festival tão emblemático como o céu de Brasília. O evento faz diferença para a cidade com entretenimento e conscientização, comércio e relaxamento. Como o céu de Brasília muda com as estações (seca e chuvosa), a mesma coisa podemos perceber no evento. Em dezembro, o céu continua lindo, só que diferente do azul infinito dos dias de seca. O céu do último sábado (10 de dezembro) apresentava tons de cinza, branco e manchas de azul profundo, emoldurando , de forma magistral, o evento.

Fotografia: John Stan
Fotografia: John Stan

A necessidade de falar do céu para introduzir o Picnik é que ele dialoga com os espaços da cidade, onde o céu determina a paisagem. E, mesmo em épocas de chuva, o céu da capital continua lindo para receber a movimentação. O formato do Picnik no dia 10 assumiu um caráter de mini-festival, com bandas de vários lugares do mundo. Em outras edições, o que predomina são DJs que constroem a paisagem sonora.

Depois de passar várias horas no evento, destaco 10 pontos:

1. Nomadismo urbano: acho melhor este conceito do que o surrado termo “ocupação”, que vem assumindo a cada dia definições diferentes. O Picnik é nômade, desdobrando-se por vários espaços da cidade. Esta edição retornou à Praça dos Cristais (para quem não conhece Brasília, a Praça dos Cristais fica no Setor Militar Urbano – SMU – e conta com o paisagismo de Burle Marx). O espaço proporciona uma paisagem dinâmica e atrativa e já sediou uma outra edição do evento (em junho de 2015, recebendo a cobertura do Projeto Pulso). É um dos espaços mais bonitos de Brasília e muitas vezes esquecido pela própria população. Então um ponto importante do evento foi levar pessoas que sequer conheciam esse espaço.

Fotografia: John Stan
Fotografia: John Stan

2. Música: esta edição contou com a participação de várias bandas que acabaram, de certa maneira, criando uma espécie de mini-Levitation do cerrado (para quem não conhece, o Levitation é um festival de música psicodélica que acontece em Austin-Texas). As bandas que se apresentaram oscilavam entre um tímido som shoegaze, texturas psicodélicas, pintadas de dream-pop e massa sonora “tameimpaleanas” (gostando ou não, o Tama Impala colonizou o inconsciente de uma grande quantidade de bandas desta década). O som estava super bacana, o que permitia às bandas ótimas performances, com definição clara e precisa dos instrumentos. A preocupação com a qualidade do som foi um ponto forte do festival.

Fotografia: John Stan
Fotografia: John Stan

3. Gipsydelica e Summer Twins – entre os bons shows apresentados, dois chamaram atenção. No PALCO MINI-FESTIVAL, a banda headliner Gipsydelica impactou o público, que ia se aglomerando em frente ao palco. A sonoridade era puro etnorock/pop. Um misto de canções tradicionais dos Bálcãs, com guitarras punk, levadas disco, progrock, construindo uma massa sonora única e bem executada que só anos de estradas podem propiciar. No CHEZZ CLUB, palco secundário, aconteceu outro show interessante com as americanas do Summer Twins, banda californiana que detona um fresh indie pop. Foi um show delicioso, chegaram a tocar uma canção com uma pegada bossa nova e, brasilidades à parte, cativaram a plateia. Segundo o ator Felipe Nunes, 20 anos, “a música é excelente, é rock, mas não é pesado, combina com a festa”. O show contou, ainda, com a participação no baixo de um componente da banda Winter (banda lentinha e delicada, que emula um dream pop e tinha se apresentado no PALCO MINI-FESTIVAL).

Fotografia: John Stan
Fotografia: John Stan

4. Gastronomia: uma das marcas do festival é a gastronomia. Podemos encontrar todos os tipos de comida. De coxinha a hotdog de jaca, passando por comidas étnica, food trucks e uma grande quantidade de doces e outros quitutes. Várias pessoas vão ao evento para comer e degustar vinhos, espumantes, sucos e cervejas. Podemos afirmar que a gastronomia é um forte aliado do evento. Mesmo que muitas pessoas levem as suas toalhas e cestas com comida preparada em casa, a compra de produtos no mercado gastronômico se faz presente. Para Katherine Lepsch, 20 anos, a música e a gastronomia têm um peso fundamental, mas a música sai na frente. “Eu gostei do som e da comida, porém os preços estão altos, poderia ser mais barato. Adoro o evento porque eu conheço bandas novas, pois não são sempre as mesmas bandas.”

5. Diversidade: evento agregador de diversidade. Casais os mais variados possíveis se espalham pelos gramados, áreas calçadas, comungando respeito e, o melhor de tudo, aprendendo a viver junto. Para o senhor José Rildo de Moraes, 67 anos, que estava acompanhado do seu filho, nora e amigos, “o clima é intimo, parece festa de igreja de cidade de interior, de onde eu venho, só que com outros tipos de pessoas” e emendou: “é bacana ver pessoas diferentes…podia ser dois dias né?”. Sim, podia mesmo, senhor José Rildo, mas ele continuou: “Quando vai ter outro?”.

Fotografia: John Stan
Fotografia: John Stan

6. Moda: uma das maneiras mais claras de comunicar a diversidade é por meio da moda, que no evento foi apresentada de duas maneiras: uma pela forma viva das pessoas se vestirem e investirem no look. Desde formas mais tradicionais da “camisa, bermuda e tênis”, ao neohippie da menina, ao brinco e tecidos estampados do menino, as mochilas dos adolescentes com os penduricalhos e botons, as clássicas camisas de banda, ao look ousado e andróginos da geração pós-Z. Além do público fazer a festa, o evento contou com um desfile em que foram apresentados vários looks montados com a produção do emergente circuito de moda brasiliense no Picnik Fashion Show.

Fotografia: John Stan
Fotografia: John Stan

7. Mercadinho: o mercadinho continua sendo a espinha dorsal do evento, com um número grande de expositores e um leque de produtos de arte, design, fotografia, roupas e decoração. A grande importância do Mercadinho é possibilitar a exposição da produção local e a solidificação da economia criativa. O Picnik tem se transformado em um grande centro catalisador para a relação entre expositores e consumidores das coisas locais, transformando-se em incentivador e lançador de tendências.

8. Bucolismo: as paisagens com jardins e espelhos-d’água fazem a felicidade do público. Helena Daher, arquiteta e brasiliense defende o bucolismo:  “sou super a favor das ocupações, e vir ao Picnik permite sair da rotina.  Eu gosto muito da música e achei boa a curadoria das bandas que estão se apresentando”. Já Eduardo Jobim, professor de filosofia, destaca:  “fiz questão de sair de casa para vir ao Picnik, para ficar ao ar livre e criar um dia “good vibes”. O expositor e chef Marcelo Borges, do Borges Bistrô, que veio com o seu food truck, pela primeira vez, participar do Picnik achou o evento muito organizado: “o sistema de limpeza é muito bom.  As vendas foram boas, deu para vender bem, podia ter vendido mais, mas gostei. Eu tinha receio de vir participar de um evento tão grande como o Picnik, mas gostei e quero participar do próximo, com certeza.”

9. Família: independente do tipo de composição familiar, no Picnik tem coisas para todo mundo, com áreas destinadas às crianças ou à cultura zen, fazendo do festival um local perfeito para várias atividades e proporcionando ao evento um charme a mais para com as famílias do século XXI, com debates humanistas no ESPAÇO SEMÂNTICAS, brinquedos na ÁREA KIDS e leituras para crianças no MARANDUBINHA.

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10. Marcas: as grifes e os patrocinadores aparecem, mas sem criar poluição visual ou mesmo sem a insistência para a divulgação de produtos. Em um momento em que os patrocinados fazem uma ofensiva para firmar a relação entre marcas e eventos, no Picnik não encontramos este excesso de exposição.

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Que venha o Picnik 2017 no aniversário da cidade!

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