Conheça o AfrikaBurn, o Filho Mais Velho do Burning Man


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Para falar sobre o AfrikaBurn, preciso necessariamente falar um pouco do Burning Man 2014. Afinal, foi lá onde tudo começou.

Lembro que todo mundo falava que seria uma experiência incrível e iria mudar a minha vida. Pois bem, lá estava eu, no deserto de Black Rock, com a turma de amigos da Califórnia que mal conhecia, liderada por Brian, um amigo que havia feito nesse mesmo ano no Coachella. Me animei mais quando ele disse que já tinha sete Burning Man nas costas e experiência de sobra sobre como sobreviver e se divertir naquele universo paralelo.

De fato, depois de 8 dias no deserto, voltei para casa e percebi que não havia mais condições de continuar trabalhando como advogado. O BM deu o empurrãozinho que faltava para largar tudo e partir para o meu ano sabático. Comecei a planejar tudo e, principalmente, os festivais que gostaria de ir em 2015.

Já tinha comprado tickets para o segundo final de semana do Coachella 2015. Então decidi que este ano sabático começaria em Abril na Califórnia.

Após pesquisar, vi que ainda seria colocado à venda um último de lote de ingressos do AfrikaBurn (AB), o filho mais velho do Burning Man (BM). Ainda em sua oitava edição, o AB seria realizado em um deserto na África do Sul, no final de abril, com público estimado de apenas 10 mil pessoas.

Para minha surpresa, foi bem fácil e rápido comprar os ingressos. Em 15 minutos, tinha dois ingressos para o AB. Comuniquei ao Brian que iríamos para a África logo após o Coachella. Seria meio corrido, mas nada impossível para quem ama festivais.

Gugga e o brother
Guga e Brian: à procura da batida perfeita

De Los Angeles a Cape Town: Jornada de Experiências

Depois de 3 dias intensos de Coachella, fomos às compras em Los Angeles. Como não sabíamos o que iria nos esperar, resolvemos comprar toda a comida que não dependia de geladeira em LA mesmo. O Whole Foods é o melhor lugar para isso… Tudo orgânico, gostoso, fácil de preparar e ainda possível despachar na mala.

E assim, com 1 mala de comida, 1 mala de fantasias, outra com barracas e demais acessórios necessários para passar 7 dias no deserto africano, partimos de Los Angeles com destino a Cape Town, com direito à uma escala cansativa em Dubai.

Aerial View Sea Point
Vista aérea de Sea Point, Cape Town

Chegamos zonzos, mas agradecidos por ainda termos 4 dias em Cape Town antes de rumar para o deserto. Carro alugado, cidade linda, clima perfeito e mais compras. Dessa vez, produtos perecíveis e água. Muita água. Gelo é bom levar o máximo possível também, porque apesar de ser uma das únicas coisas que se pode comprar no AB, rola uma fila e pode até acabar de repente (não é como no BM, que tem gelo a vontade!).

Nos disseram que seria permitido fazer fogueira (ponto para o AB!), então também compramos muita lenha e pegamos emprestado um bowl de ferro para fazer uma fogueira segura.

Partimos de Cape Town um dia antes do ínicio oficial do festival. Aparentemente não seria difícil dirigir apenas 4 horas até chegar em Tankwa Town se não fossem os pelo menos 100 km de estrada de terra lotada de pedras pontudas loucas para furar o pneu do seu carro. Ah, e ainda é mão dupla…

amanhecer
O visual do deserto africano

Então, nem pensar em passar dos 70Km/h. Devagar e sempre, fomos adentrando pela paisagem que já tinha se tornado árida, onde não havia um sequer botequim na beira da estrada. Furar um ou mais pneus seria um transtorno. Afinal, com o carro abarrotado de coisas até o teto, literalmente seria um caos! Vimos vários carros grandes com pneus furados pelo caminho….Mas nosso carrinho alugado resistiu bravamente!

Afrika Burn: Guia de Sobrevivência

Finalmente chegamos no portal do festival. Ingressos conferidos, sino tocado pelos novatos e já estávamos dentro do Afrika Burn procurando um lugar para montar acampamento.

Uma das vantagens de chegar 1 dia antes é justamente essa: conseguir um bom lugar para acampar. Ou seja, um lugar não muito longe da playa e nem muito perto do barulho das festas.

Como ainda havia luz natural, não foi difícil armar o acampamento: barracas, cozinha e sala de estar. Nem pense em esquecer a estrutura para fazer sombra na sua barraca. Caso contrário não há como dormir além das 8am.

Acampamento armado, gin tônica na mão, fui dar uma volta para ter as primeiras impressões do festival:

  1. Gostei do fato de não ter que, necessariamente, dispor de uma bike. Uma preocupação e uma tralha a menos. E quando se está a pé aumentam muito as chances de ver detalhes que passariam despercebidos de bike, além de parar a qualquer instante para conhecer pessoas pelo caminho. Quando se está de bike, acabamos não parando para ver o que chamou uma certa atenção seja porque dá preguiça de estacionar a bike ou porque você sabe que pode voltar a qualquer tempo naquele lugar – o que dificilmente acontece. Acredite, circular a pé é muito mais gostoso. Até por que em festivais desse tipo, as próprias pessoas são a essência do festival. Então nada melhor do que se deparar com algo ou alguém que pode mudar o rumo do seu passeio.
  2. Não tem aquela poluição visual de RVs (motor homes) que rola no Burning Man. O povo vai mesmo só de carro a arma seu acampamento ao lado. Mais roots, menos show off.
IMG_3646
AfrikaBurn, reconhecimento de área

Na primeira noite tive que sair sozinho, por que Brian estava meio gripado e preferiu descansar para acordar melhor. Então fui dar uma voltinha, de havaianas mesmo, sem maiores pretensões de me alongar também para não queimar a largada. Não teve jeito: já na primeira festinha vi que não ia voltar tão cedo. Público e música excelentes. Já fui fazendo novos amigos e rodando pelas festinhas, todas possíveis de avistar pelas luzes a uma certa distância. Destaque para o Spirit Train, que veio a ser a minha pista favorita no festival.

AfrikaBurn_2015_steampunk_train
Spirit Train 2015

Resumo da noite: fiquei mais de 5 horas dançando de havaianas e acordei com os pés doendo, obviamente. Porém muito feliz.

AfrikaBurn e Burning Man: Sensíveis Diferenças

As instalações de arte e os art cars não são tão monumentais como no BM. Mas muitas boas surpresas surgiram em termos de arte, música e de pessoas. Os sul africanos são ótimos anfitriões! Em esmagadora maioria eles dão o tom da atmosfera do festival: com aquela naturalidade similar a nossa, super relax, é um povo bonito e ultra gente boa, sem aquela forçação fake-american. Em segundo lugar, em densidade demográfica, estavam os holandeses. Afinal, muitos tem raízes por lá, já que a África do Sul foi colônia Holandesa. Brasileiros? Encontrei dois somente.

boa 2

Enquanto no BM o povo anda se fantasiando demais, pagando por campings milionários com chef 5 estrelas, no AB a população é mais hippie do que qualquer outra coisa (clima com o qual me identifico mais).

E o fato de ser permitido ter a sua fogueira fez muita diferença. Além de criar um ambiente propício para socializar, facilita muito para cozinhar, fazer churrasco, ferver água e, obviamente, nos aquecer nas madrugadas. Sim, a noite faz bastante frio!!

Boa 1

Um capítulo a parte foram nossos vizinhos de acampamento. Neil e sua trupe foram uma grata e hilária surpresa. Ele trabalha numa de fazenda de avestruzes. Ou seja, tinha consigo milhares de penas para criar cocares e enfeitar os chapéus de todos. Fora os relatos de suas aventuras diárias surreais. Na sua gangue, além dos filhos e amigos, fazia parte uma senhora de 73 anos. Dill era muito amável e doce, ao ponto de deixar guloseimas na porta da nossa barraca pela manhã.

Eu senti no AB uma interação muito maior com as pessoas do que no BM. Não só em termos de quantidade, mas de profundidade também. Afinal, era possível encontrar as pessoas no dia seguinte mesmo sem marcar nada.

Inesquecível ver o sol se por e a lua cheia nascer simultaneamente naquele deserto. Lindo demais. Se tiver filhos, não há lugar melhor para leva-los. Deixa qualquer parque da Disney sem graça.

ending

A impressão que tive é que o AB é um retrato do que o BM foi há 20 anos: uma cidadezinha pequena de interior onde, depois de alguns dias, já era possível esbarrar com rostos conhecidos pelas ruas, cumprimentar o vendedor de gelo, agradecer ao DJ pela noite anterior e mais fácil de criar conexões.

O fato é que o BM ficou muito grande, muitos compromissos, muitas opções, eventos, trânsito caótico de bikes e impossível de absorver tanta informação. É como uma cidade grande, já com suas mazelas, mas ainda com muitos encantos escondidos a serem explorados.

O BM mudou a minha vida, mas no AB eu tive a verdadeira experiência da vida em comunidade no deserto. Recomendo muito!

Gugga 1

 

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