Cadê as mulheres nos lineups?


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No início da temporada dos festivais de verão no Hemisfério Norte, falamos aqui sobre a polêmica envolvendo a reduzida presença feminina nos lineups ingleses. O assunto continuou rolando por lá e o jornal Guardian fez uma análise das atrações anunciadas em 12 festivais, contabilizando a presença de mulheres em 270 das 2.336 performances. Ou seja, elas subiram ao palco em apenas 14% das apresentações. Nos dois festivais alvos da polêmica, Reading e Leeds, a participação foi bem menor, com meninas presentes em apenas 6 e 4% das atrações, respectivamente.

Como contamos na apresentação do Pulso, acreditamos que um festival também possa refletir o espírito do seu tempo, através da música, moda, arte e comportamento. Mas como esses festivais estão contando as histórias do nosso tempo? Em um tempo em que as mulheres do país tomam as redes sociais e as ruas, no que está sendo considerado o movimento político mais importante da atualidade, a polêmica dos festivais ingleses me inspirou a olhar com mais atenção para as listas de atrações dos festivais que acontecem no Brasil em 2015.

Considerando conjuntamente os lineups de nove festivais brasileiros, as mulheres representaram 74 das 741 atrações anunciadas, ou seja, elas estiveram presentes em 10% das performances.

Individualmente, os festivais com maior participação feminina foram Vaca Amarela, Lollapalooza, Popload e Rock in Rio, com um pouco mais de 20% de presença feminina nos lineups. No outro extremo da lista, os festivais de música eletrônica foram os que tiveram menos DJs e produtoras mulheres como atrações.

Devido ao número reduzido de atrações, não considerei o festival Sónar na lista. Mas com apenas a DJ e produtora Valesuchi no lineup, a situação não é muito diferente dos outros. 

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O mesmo exercício foi feito ano passado pela Thump, considerando apenas os festivais de música eletrônica nos Estados Unidos. Os lanternas de lá foram o Electric Zoo e o Electric Daisy Carnival, com menos de 3% de participação feminina. Os festivais com maior representatividade feminina foram Movement (9%) e Mutek (10%).

Ainda nos festivais brasileiros, se considerarmos a presença feminina como headliners ou tocando nos palcos principais, vemos apenas Tulipa Ruiz no Vaca Amarela, Rihanna e Katy Perry no Rock in Rio, Fernanda Takai (Pato Fu) no Bananada e as irmãs da dupla Nervo, Miriam e Olivia, no Tomorrowland.

A DJ Marian Flow, da dupla Flow e Zeo, foi a artista feminina que mais se apresentou nos festivais que analisei, estando presente no lineup de quatro dos noves festivais. Para ela, a presença feminina nos lineups ‘talvez não acompanhe o mesmo ritmo em que a música eletrônica vem crescendo por aqui, mas também está em crescimento, já que este é um processo que vem enraizado culturalmente’. E completa: ‘A participação das mulheres na cena eletrônica está se desenvolvendo e precisa ser consistente. Existem vários ícones femininos consolidados – que admiro – como a Miss Kittin, Maya Jane Coles, Anja Schneider, Ellen Allien entre outras. Algumas além de tocar e produzir, têm gravadoras, marca de roupas etc…’.

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A DJ Marian Flow foi a artista feminina mais presente nos lineups dos festivais (imagem: Facebook)

A Marian também participou do painel Mulheres na Dance Music, iniciativa do Rio Music Conference em Curitiba, e que levou mulheres envolvidas com a cena de música eletrônica para discutir possibilidades e oportunidades para reverter o cenário de um universo ainda fortemente dominando pelo masculino. 

No Facebook o grupo Mulheres na Música, já tem mais de 200 participantes e como conta a idealizadora do grupo, Monique Dardenne, o ‘intuito é se unir, comunicar e criar uma rede de relacionamentos, saber o que as outras estão fazendo’‘A gente troca informações e faz indicações. A realidade é que não são poucas meninas na música, são muitas. Mas elas não aparecem’, complementa Monique.

Longe dos discursos comuns sobre vitimização, sabemos que números são apenas a ponta de um grande iceberg inserido no amplo e complexo oceano da indústria musical, que também reflete e replica modelos de preconceitos e julgamentos pré estabelecidos sobre igualdade de gênero, oportunidades de trabalho e capacidade técnica.

Torcendo para que o festivais possam refletir essas mudanças e contar histórias cada vez mais diversas!

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22/11: Atendendo pedidos, adicionamos à lista de festivais sugestões encaminhados pelos nossos leitores:

Festival Contato 2015 (SP): 47% de artistas mulheres no line up

No Ar Coquetel Molotov 2015 (PE) – 29% de artistas mulheres no line up

Kaballah 2015 (SP) – 4% de artistas mulheres no line up

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